Francisco Pereira, candidato à presidência do PAICV: “Sempre estive ligado ao pensamento de Amílcar Cabral de abraçar os outros e garantir o bem-estar do povo”

PorAndré Amaral,29 mar 2025 9:20

Francisco Pereira é um dos quatro candidatos à sucessão de Rui Semedo na presidência do PAICV. Avança para a eleição do próximo domingo defendendo a união interna e a reorganização do partido. Quer profissionalizar o Secretariado-geral do PAICV para que este se torne mais eficaz e eficiente.

O que é que o faz avançar nesta corrida para a presidência do PAICV?

Tem não apenas a ver com o meu percurso dentro do partido, mas também com o meu percurso de vida. Tenho 45 anos, nasci em Santa Catarina e, desde 1996, abraço as causas do PAICV. Viajei para Portugal em 1997, onde trabalhei e, entretanto, fui fazendo várias coisas, desde trabalhar na construção civil e na limpeza naval até ingressar na Universidade e, mais tarde, concorrer à Câmara Municipal da Amadora, em 2009. Mas sempre fui dirigente do partido em Portugal. A partir de 2014, fui dirigente aqui, exerci o cargo de secretário-geral adjunto, sou membro do Conselho Nacional e também da Comissão Política do partido, uma experiência que me permite dizer que conheço bem o PAICV. Por outro lado, também há a questão da vida política. Vivi em Cabo Verde até aos 17 anos, nasci numa família humilde em Santa Catarina, como já referi. Perdi o meu pai ainda criança, aos 11 anos, e tive de batalhar, fui senhor de mim mesmo a cuidar dos meus irmãos, e isto deu-me a determinação para ser empreendedor, mas também, talvez, visionário desde o início. Sempre estive ligado ao pensamento de Amílcar Cabral, ao ideal de abraçar os outros e de trabalhar para garantir o bem-estar do povo. Fazendo a ligação entre a minha vida e o PAICV, essa vontade de servir o meu partido nasce de todo o percurso que fiz até então, tanto na vida pessoal como na vida política.

E o que é que o leva a acreditar que a sua candidatura é vencedora?

Eu parto do pressuposto de uma candidatura cujo lema é "Um PAICV unido e forte, por mais Cabo Verde". O PAICV precisa de estar unido para podermos ganhar as eleições em 2026, o objectivo número um. E penso que tenho o perfil adequado, conheço o partido e defendo o diálogo e a união interna, através, desde logo, do diálogo intergeracional, aproximando os militantes com mais experiência da nova geração, para que possamos, efectivamente, transformar a diversidade de opiniões num caminho para a vitória. Em segundo lugar, uma das coisas que defendemos dentro da unidade e coesão interna é o respeito por todas as lideranças anteriores. Todos os presidentes do partido são um património que devemos valorizar. É preciso reforçar também a democracia interna dentro do PAICV, nomeadamente, dando mais voz às bases do partido na tomada de grandes decisões estratégicas. Além disso, é necessário reorganizar o partido, e eu defendo a profissionalização do Secretariado-Geral do PAICV.

O que é que traz de diferente que as anteriores lideranças não trouxeram?

O PAICV é um grande partido e, portanto, estamos a trabalhar dentro do seu aspecto ideológico, que se baseia no princípio de ser um partido de esquerda moderna. As propostas de ontem não podem ser as propostas de hoje. O PAICV precisa de união interna, porque Cabo Verde precisa de um PAICV unido e forte para podermos ganhar as eleições. O que trago de novo é essa agenda de reafirmar cada vez mais os princípios e valores do PAICV, tornando-o mais próximo da sociedade, com uma liderança altamente inclusiva, que não deixa ninguém de fora, mesmo quando há discordância em relação às ideias de outros camaradas. Cabe ao líder saber aglutinar as forças do partido. O que realmente trago de novo é esse espírito de serviço, unidade e coesão, para termos um partido aberto à sociedade. Mas, sobretudo, a ideia de união não pode ser apenas um discurso, tem de se refletir na prática de quem se candidata. Sou um homem de diálogo, que preza a serenidade e o respeito.

Quem ganhar as eleições vai ter um trabalho difícil para conseguir essa tão ansiada união dentro do partido.

O PAICV é um grande partido, um partido democrático. Este é um momento que nós deveríamos encarar como uma oportunidade de revitalização da democracia interna. O debate de ideias deve estar no epicentro dessa disputa. É fundamental que o PAICV se abra à sociedade, para que os candidatos apresentem ideias e não encarem este momento como uma fase de polarização ou de confrontos. Este é um grande momento para reafirmarmos a nossa cidadania. O PAICV é um grande partido, um património nacional e uma verdadeira escola de cidadania. Temos de dar o exemplo. Acredito que os candidatos à liderança do partido têm a responsabilidade de dialogar com as bases e com os apoiantes, porque, na noite do dia 30, teremos um novo presidente. Quem vencer terá de contar com o apoio de todos e quem tiver menos votos terá de abraçar o partido em prol de um objetivo maior: ter um PAICV unido, coeso e pronto para vencer as eleições de 2026. Chamo a esta candidatura de terceira via, porque há duas outras candidaturas de pessoas que já têm compromissos autárquicos, enquanto eu sou deputado nacional e estou disponível para avançar e ajudar o partido. Conheço profundamente o PAICV. Esta candidatura não surgiu apenas agora. Desde 2021, tenho recebido o apoio de várias personalidades e de muitas pessoas que queriam que eu avançasse. A minha candidatura assenta na unidade e coesão dentro do partido. Quem vencer as eleições terá de ter a capacidade de unir o PAICV.

A nível interno do partido, já disse que é preciso reorganizá-lo e que quer profissionalizar o Secretariado-Geral do PAICV. Porquê e como?

Não podemos ter um secretariado que funcione apenas com base no trabalho militante. Precisamos de estar muito bem organizados, de estudar, de apresentar propostas exequíveis, mas também de garantir eficiência e eficácia na política, com estudos que nos indiquem o melhor caminho a seguir. Penso que o Secretariado-Geral deve estar bem estruturado, com uma visão clara de como garantir maior eficiência e eficácia. Mas, acima de tudo, é essencial contar com um gestor capaz de ajudar o partido a enfrentar os vários desafios internos. Por exemplo, há património do partido que precisa de ser reabilitado. Acredito que, com um Secretariado-Geral profissionalizado e com uma gestão eficiente, o PAICV sairá a ganhar e estará sempre presente na sociedade.

E por onde mais passa a reorganização interna do partido?

Para além da reorganização, é essencial reforçar a estrutura interna. A Juventude do PAICV (JPAI) precisa de fortalecer a sua identidade e a Federação das Mulheres deve ser ainda mais valorizada. Temos um grande património e podemos rentabilizá-lo de uma forma mais eficiente.

Em caso de vitória nas eleições do dia 30, acha que, em termos de calendário, terá tempo para implementar essas mudanças no partido?

Sem dúvida. A organização do partido começa, desde logo, no Conselho Nacional. Quem for eleito presidente terá de estruturar a direção, eleger novos membros, definir um novo secretariado e começar a trabalhar. Há algo que devemos distinguir: o presidente do partido não está lá apenas para organizar. Ele é um guia, tem uma direção estratégica e governará com uma equipa alargada. Por isso, é essencial que o PAICV seja forte e unido. O partido tem pessoas competentes, e o presidente precisa de estar presente em todo o lado, ouvindo e dialogando com os cabo-verdianos. No entanto, é fundamental contar com um secretariado que funcione a nível organizacional, regional e local. Acredito que essas mudanças podem ser implementadas nos primeiros três meses. O partido deve sair fortalecido destas eleições. Apesar das expectativas de algumas pessoas, temos de emergir mais fortes, pois, caso contrário, será difícil reorganizá-lo e alcançar os objetivos traçados num único ano.

Volto a insistir na questão da profissionalização do Secretariado-Geral. As finanças do partido permitem essa mudança?
Não podemos deixar de modernizar e inovar apenas por questões financeiras. Conhecendo bem o partido, acredito que temos condições para profissionalizar o cargo de secretário-geral. Não tenho detalhes financeiros exatos, mas estou certo de que é possível. O PAICV é um grande património cabo-verdiano e, com os recursos internos disponíveis, garanto que podemos avançar com essa profissionalização. Precisamos que o PAICV seja uma referência da esquerda moderna e democrática em Cabo Verde. Isso só acontecerá com um partido bem organizado e profissionalizado. Temos quatro candidatos e eu acho que os militantes e camaradas vão acabar por votar. Temos de apelar a todos para que votem no dia 30, garantindo assim que o partido saia verdadeiramente reforçado.

No início da campanha, foi feita uma proposta para realizar uma sondagem da qual sairia o candidato preferido pelas pessoas. Qual foi a sua posição relativamente a essa proposta?

O estatuto não prevê a escolha do presidente por sondagem. O que eu disse foi que precisaríamos de tempo para realizar uma sondagem, dentro de uma amostra que teria de ser composta pelos militantes do partido. Estamos a falar de uma eleição interna, na qual apenas os militantes do PAICV votam. E, neste caso, quem deve pronunciar-se são os militantes. Sou a favor da realização de sondagens, mas desde que sejam feitas dentro dos parâmetros legais, com critérios bem definidos sobre como, quando e a quem aplicar a sondagem. Essa foi a minha posição desde o início. No entanto, sou totalmente contra a ideia de indicar um candidato apenas porque a maioria do povo o prefere. O povo pode querer, mas o partido também precisa de querer.

Alguma vez lhe passou pela cabeça desistir da candidatura?

Não, nunca me passou pela cabeça desistir da candidatura. Aliás, quem me conhece sabe que estou nesta corrida com muita convicção, humildade e determinação para servir o partido. Tive várias opções. Sou deputado nacional, sou investigador universitário, com experiência dentro e fora do país, mas escolhi Cabo Verde e escolhi abraçar o meu partido. Não estou aqui numa corrida de vida ou morte; estou aqui para servir Cabo Verde, com ideias e com a convicção de que estamos a honrar Cabral. O que me move na política é servir o meu povo. Tive oportunidades de integrar quadros universitários ou até de seguir uma carreira política em Portugal, mas, em determinado momento, escolhi dedicar-me a Cabo Verde. Esta candidatura, muitas vezes, não digo que passou despercebida, mas sempre esteve muito bem organizada. Não é fácil. Não tenho patrocínio de ninguém. Sou um candidato convicto de que estou a servir o meu partido. Estamos a fazer tudo dentro das nossas possibilidades, mas sempre com determinação, com ideias e, como consta na nossa plataforma eleitoral, com o apoio de um conjunto de pessoas que abraçaram esta causa maior: fortalecer o partido para um Cabo Verde melhor.

O PAICV está há quase dois anos com um líder do grupo parlamentar em regime transitório. Como propõe resolver este problema?

Este é um tema que o actual presidente, Rui Semedo, pretendia abordar, mas acabámos por entender que deveríamos manter a situação como está. Faço parte da Comissão Política, onde discutimos e concordámos que o actual líder parlamentar continuaria a exercer as suas funções. De facto, não houve um acordo ou entendimento para que pudéssemos avançar para novas eleições. Assim, o actual líder mantém-se no cargo.

Mas como se propõe a resolver esta questão?

Sendo eleito presidente do partido é um assunto que estará na pauta para analisarmos, mas ainda não sou presidente.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1217 de 26 de Março de 2025.

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Autoria:André Amaral,29 mar 2025 9:20

Editado porDulcina Mendes  em  31 mar 2025 21:20

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