Jovens cabo-verdianos mostram menor envolvimento político do que adultos, revela Afrobarómetro

PorSheilla Ribeiro,27 jul 2025 7:28

70% dos jovens cabo-verdianos entre os 18 e os 35 anos afirmam ter votado nas últimas eleições, mas ainda assim o seu envolvimento cívico e político é, em vários aspectos, inferior ao dos adultos com mais de 36 anos de idade. É o que revela o mais recente relatório do Afrobarómetro, baseado numa sondagem realizada entre Julho e Agosto de 2022, com 1.220 cidadãos de todo o país.

Segundo os dados, 70% dos jovens afirmaram ter votado nas últimas eleições, enquanto entre os adultos essa percentagem sobe para 82%.

Apesar da elevada participação eleitoral de ambos os grupos, o sentimento de proximidade com partidos políticos ou filiação política caiu de forma acentuada nos últimos anos: em 2011, 60% dos cabo-verdianos afirmavam sentir-se próximos de algum partido, enquanto em 2022 esse número caiu para apenas 37%.

Entre os jovens, apenas 27% afirmam ter alguma ligação partidária, em comparação com os 44% dos adultos.

Em termos de participação cívica, os números também refletem diferenças, já que apenas 29% dos jovens participaram em encontros da comunidade, contra 25% dos adultos, e 34% uniram-se a outras pessoas para tratar de assuntos colectivos, número superior ao dos adultos, que ficou nos 27%.

Já o contacto directo com representantes eleitos é reduzido em ambos os grupos, mas novamente com valores inferiores entre os mais novos: 16% contactaram um membro da assembleia municipal e apenas 9% contactaram um deputado nacional, enquanto entre os adultos esses valores foram de 18% e 13%, respectivamente.

Quanto à participação em protestos, 17% dos jovens afirmaram ter estado presentes em manifestações no último ano, ligeiramente acima dos 13% dos adultos.

Ainda assim, de forma geral, apenas 14% dos cabo-verdianos participaram num protesto recente, enquanto 56% disseram que nunca participaram, mas que o fariam se tivessem oportunidade. Cerca de 28% afirmaram que nunca participariam num protesto.

No que toca à acção colectiva e contacto institucional, os dados gerais revelam que 30% dos cabo-verdianos uniram-se a outros cidadãos para resolver algum problema, 27% participaram em encontros comunitários, 17% contactaram membros das assembleias municipais, 11% procuraram um deputado nacional, e 22% contactaram algum funcionário de partido político.

Identificação com partidos políticos diminui, enquanto contacto com líderes aumenta

O relatório, o segundo de uma série anual, baseia-se em 53.444 entrevistas presenciais em 39 países africanos, abrangendo mais de três quartos da população continental, e aponta que o envolvimento cívico dos cidadãos africanos é fortemente influenciado pela resposta dos governos, pelo desempenho democrático e pelo acesso limitado a serviços essenciais.

Segundo a mesma fonte, em África são os cidadãos com menores rendimentos, menor escolaridade e residentes em zonas rurais que apresentam níveis mais altos de participação política e cívica, incluindo reuniões comunitárias, contactos com líderes e até protestos.

De modo geral, o voto continua a ser a forma de participação mais comum, enquanto os protestos são a menos frequente.

Os dados, citados no documento, demonstram disparidades entre jovens e adultos, e entre homens e mulheres, com jovens e mulheres a apresentarem menores níveis de envolvimento, o que representa um desafio para a construção de democracias mais inclusivas no continente.

Outro dado importante do relatório aponta que, ao longo da última década, em 30 países analisados de forma contínua, a participação em reuniões comunitárias, a união para levantar questões coletivas e o sentimento de pertença partidária têm diminuído.

Em contrapartida, o contacto directo com líderes locais tem aumentado.

O Inquérito

O Afrobarómetro é uma rede pan-africana apartidária que, desde 1999, realiza inquéritos sobre democracia, governação e qualidade de vida em África. Na Ronda 9 (2021-2023), foram entrevistados cidadãos em 39 países, com amostras entre 1.200 e 2.400 pessoas por país, garantindo margens de erro entre +/-2 e +/-3 pontos percentuais.

Os dados revelam que 72% dos africanos votaram nas últimas eleições nacionais, 41% sentem-se próximos de um partido, e 62% discutem política com familiares ou amigos.

Quase metade (47%) participou em reuniões comunitárias no último ano e 42% juntaram-se a outros para levantar questões. Além disso, 37% contactaram líderes tradicionais, 28% autarcas, 15% deputados e 20% responsáveis partidários. Apenas 9% participaram em protestos.

A participação varia consoante o perfil socioeconómico: os mais pobres são mais ativos politicamente do que os mais ricos. As mulheres participam menos do que os homens em todos os indicadores.

Os jovens (18-35 anos) estão menos envolvidos do que os mais velhos, especialmente no voto (diferença de 18 pontos). Pessoas sem escolaridade formal tendem a participar mais do que os mais escolarizados em várias formas de envolvimento cívico.

A participação cívica é maior em países com baixos níveis de bem-estar económico. O contacto com autarcas aumenta quando estes são vistos como sensíveis às necessidades da população.

Já os deputados nacionais são considerados menos acessíveis. A satisfação com a democracia e a perceção de eleições justas aumentam a participação eleitoral, enquanto a ausência dessas condições tende a intensificar os protestos, segundo o documento.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1234 de 23 de Julho de 2025.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Sheilla Ribeiro,27 jul 2025 7:28

Editado porSara Almeida  em  27 jul 2025 17:21

pub.
pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.