Empresários atingidos pelas cheias querem taxas de juro mais baixas

PorNuno Andrade Ferreira,31 ago 2025 10:00

Operadores da ilha esperam que seja possível ir mais longe nos apoios públicos. Juros mais baixos e “tempo” são as principais exigências de quem teve negócios destruídos.

Duas semanas depois da tempestade de 11 de Agosto, em São Vicente, empresários e comerciantes informais ainda somam prejuízos: mercadorias perdidas, equipamentos destruídos, lojas inundadas e vários dias sem actividade. Um duro golpe para muitos.

A resposta do Governo foi anunciada dias após a catástrofe e inclui medidas já conhecidas para diferentes tipos de operadores, com linhas de crédito, subvenções a fundo perdido, entre outras medidas.

O diagnóstico feito pelo presidente da Câmara de Comércio de Barlavento, Jorge Maurício, aponta para dificuldades transversais a todo o sector privado da ilha.

“É uma situação jamais vista em São Vicente, onde toda a gente ficou afectada, de forma directa, de forma indirecta, individual, colectiva, visível, invisível, toda a gente. Isto causa, quer queiramos, quer não, problemas difíceis, principalmente aos mais pequenos, ao sector informal, às micro, pequenas e médias empresas, que deixaram, muitas delas até hoje, de facturar e ainda não estão a operar”, frisa.

Apesar de positivas, as medidas públicas podem revelar-se insuficientes, alerta o líder associativo.

“Não são suficientes. Quem perdeu um armazém de 30, 40 mil contos, é difícil o Estado compensar a totalidade das perdas. A compensação é sempre uma ajuda, principalmente para aqueles que mais precisam e para os mais pequenos”, nota.

As duas linhas de crédito criadas pelo Governo, Lavanta e Stimula Empreenda+, terão taxas de juro de 5,5% (5% mais 0,5% de comissão de garantia, no caso da Stimula Empreenda+). Para Jorge Maurício, é importante “melhorar as condições”. “Havendo possibilidade de melhorar as taxas de juro, melhorem”, declara.

Com uma área de quatro mil metros quadrados, as instalações da Construções Metálicas de Cabo Verde (CMCV) foram completamente tomadas por água e lama. Carlos Santos, sócio-gerente, também apela a uma redução das taxas de juro.

“A taxa é muito exagerada, até 5,5% é muito. Se houvesse uma taxa de 2%, uma pessoa poderia tentar um empréstimo, para colmatar o período em que não estamos a produzir e comprar algum equipamento novo que ficou danificado”, calcula.

Com 52 trabalhadores só em São Vicente — 110 no total do país —, a CMCV conta retomar a produção no início de Setembro.

Situação semelhante foi vivida pela HortoCarnes. Com armazém na periferia do Mindelo, a empresa do ramo alimentar foi particularmente afectada pelas cheias do dia 11. Apesar de forte, a porta sucumbiu à força das águas. Os prejuízos foram significativos, confirma o gerente, Amílcar Lopes.

“Para mim, não foi apenas um acidente ambiental, foi um crime ambiental, porque houve perdas humanas, monetárias, grandes perdas, e acho que os governantes têm de pensar numa forma mais humana de gerir o país”, afirma.

O empresário apela a uma redução de impostos e ao reconhecimento da importância de São Vicente para o PIB nacional.

“São Vicente contribui grandemente para o desenvolvimento do país, agora é o nosso momento de esperar que o Governo nos dê o que merecemos”, desafia.

Pedro Espírito Santo, da Eurofruit, alerta que aquilo de que as empresas mais precisam “é de respirar”.

“Eu não peço que me isentem. Eu não tenho sequer escritório para poder pegar nos meus papéis e ver o que é que está (...). As empresas precisam de respirar e respirar, para as empresas, é tempo. Eu não quero empréstimos”, diz.

“Eu sou importador, os grandes contribuintes, quase todos, são importadores. Porque não isentar taxas de importação durante um, dois, três meses? As grandes empresas, mais do que vir atrás de dinheiro, vêm atrás de tempo”, acrescenta.

Não são só as grandes empresas que consideram ser preciso ir mais longe nas medidas. Lenísia Silva, proprietária de uma hamburgueria, perdeu tudo. “As medidas não são suficientes”, avalia.

“Em termos da linha de crédito, acho que o juro de 5,5% é demasiado, porque tenho de lutar para pagar isso, além de termos outras despesas fiscais e o crédito que fiz para montar o meu negócio, que tenho de pagar. Neste momento, nem sei como vou pagar, porque não estou a trabalhar para ter rendimento”, esclarece.

Também a microempresária Dóris da Luz espera mais do Governo, incluindo uma redução das taxas de juro.

“As medidas que estão a ser apresentadas estão longe de ser suficientes para as perdas que as pessoas tiveram. Sugiro uma taxa de juro mais baixa. As taxas disponíveis para as linhas de crédito são normais e vêm de algum tempo; já estive noutras reuniões com a Pró-Empresa e sei que é sempre essa a taxa, mas neste momento deveríamos estar a falar de uma taxa de emergência”, entende.

Sábado (26), no Mindelo, o ministro da Promoção de Investimentos e Fomento Empresarial, Eurico Monteiro, anunciou para esta semana o início do pagamento dos apoios ao sector informal, micro, pequenos e médios empresários.

“Temos critérios que queremos que sejam muito facilitados (...). Um critério prático: não haverá contacto individual com pessoas, toda a identificação será feita em São Vicente”, explicou.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1239 de 27 de Agosto de 2025.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,31 ago 2025 10:00

Editado porSheilla Ribeiro  em  2 set 2025 14:19

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