Segundo o governante, a ilha de Santiago passará a dispor de 42 MW de capacidade renovável instalada, um número que ultrapassa o pico do consumo da ilha, situado nos 40 MW.
“É pela primeira vez que teremos uma capacidade de produção renovável superior ao pico do consumo da ilha, que é cerca de 40 MW. Este é um marco histórico”, afirmou.
Para Alexandre Monteiro, o feito representa não apenas um avanço técnico, mas um passo simbólico rumo à independência energética e à sustentabilidade ambiental.
O governante explicou que este projecto está inserido no Plano do Setor Elétrico de Cabo Verde 2018-2040, documento que traça a estratégia nacional para uma transição energética ambiciosa e realista.
Conforme garantiu, o objectivo do Governo é ultrapassar os 50% de energias provenientes de fontes renováveis até 2030 e alcançar 30% já em 2026.
O investimento ronda os 750 milhões de escudos cabo-verdianos. Além do Parque Solar de Palmarejo, estão em curso outros investimentos estratégicos, nomeadamente a construção de um parque solar de 10 MW em Ribeira Grande de Santiago e a expansão do parque eólico da ilha, cuja inauguração está prevista para o próximo mês.
Juntos, estes projectos permitirão triplicar a capacidade de produção renovável de Santiago.
Para garantir o aproveitamento integral dessa nova capacidade, o país aposta também em infraestruturas de armazenamento de energia. Neste sentido, Alexandre Monteiro anunciou que estão em fase final de construção das baterias de 6 MWh, que permitirão armazenar o excedente de produção solar e eólica.
“Estas baterias irão optimizar a integração das energias limpas na rede, sobretudo quando não há sol nem vento”, explicou.
Os ganhos esperados vão além da produção eléctrica. O ministro salientou os impactos positivos na segurança energética, ao reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados e, consequentemente, a vulnerabilidade de Cabo Verde às flutuações do mercado internacional.
“A energia solar é hoje mais barata e esta redução de custos reflete-se na estabilidade dos preços da energia para famílias e empresas”, disse.
Segundo as projeções do Governo, a ilha de Santiago poderá alcançar uma penetração renovável de 47%, enquanto o país deverá atingir 35% de penetração a nível nacional até 2026, superando a meta inicial de 30%.
Modelo de cooperação inovador e sustentável
Para o encarregado de negócios da Embaixada de Portugal em Cabo Verde, Nuno Félix, esta nova fase representa um modelo de cooperação inovador e sustentável.
“Simultaneamente apoiamos o desenvolvimento de Cabo Verde e ajudamos o meio ambiente. Este é o compromisso conjunto que Portugal e Cabo Verde assumiram ao acordar a conversão da dívida em investimento climático no quadro do Fundo Climático e Ambiental”, explicou.
O diplomata salientou que a assinatura deste primeiro contrato no âmbito da parceria reforça a capacidade de produção elétrica, de fonte solar, limpa e renovável, na ilha de Santiago, contribuindo para o desenvolvimento do país e para um meio ambiente mais saudável e sustentável.
Nuno Félix recordou ainda que fenómenos como a tempestade Erin, que recentemente atingiu São Vicente, são um alerta de que as alterações climáticas não são uma preocupação distante, mas uma ameaça real e próxima.
Por isso, defendeu, projectos como o de Palmarejo são fundamentais para que o desenvolvimento se traduza em acções concretas de mitigação climática e de sustentabilidade.
O projecto repowering é financiado no âmbito do acordo de conversão da dívida entre Cabo Verde e Portugal, assinado em Junho de 2023. O processo iniciou com a publicação do concurso internacional em Dezembro de 2024, recebendo várias manifestações de interesse até à seleção final do consórcio vencedor, formado pelas empresas APP Impulse e Ressur.
Entretanto, o contrato, no valor de 6,8 milhões de euros, prevê quatro fases sendo a primeira a assinatura, depois o desmantelamento do actual parque de 4,4 MW (com duração de seis meses), a construção e comissionamento do novo parque (em nove meses) e, posteriormente, uma fase de operação comercial de seis meses, até à definição do modelo de concessão.
O novo parqueocupará a mesma área do anterior, cerca de 3,15 hectares, mas duplicará a capacidade instalada, passando de 4,4 MW para 10,9 MW de potência de pico.
A produção anual de energia deverá aumentar de 5,5 GWh para 21,5 GWh. O projecto deverá servir como campo de práctica e formação para o Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI) e poderá, futuramente, apoiar políticas de tarifa social de energia.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1248 de 29 de Outubro de 2025.
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