A posição do antigo primeiro-ministro foi expressa na sua página pessoal na rede social Facebook, depois de o arquipélago ter perdido a presidência da Comissão da CEDEAO para a Costa do Marfim, durante a 52ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, que decorreu este fim-de-semana em Abuja, Nigéria.
“Infelizmente, Cabo Verde não conseguiu a Presidência da CEDEAO. É uma pena. Seria muito importante para o país, do ponto de vista político-diplomático e do ponto de vista da nossa inserção competitiva na região oeste-africana”, lê-se na publicação.
José Maria Neves lamenta a situação, mas lembra que a regra de rotatividade por ordem alfabética existe, “mas já tinha havido precedentes de não cumprimento rigoroso desse entendimento”.
“Quando Benin devia indicar o Presidente da Comissão, jogos de bastidores levaram à escolha de Burkina Faso”, diz.
“Não somos nem mais nem menos democratas que os outros. A democracia não se compadece com preconceitos, falsos moralismos e espírito de superioridade”, enfatiza.
José Maria Neves entende que a defesa intransigente das posições do país no que diz respeito ao reforço da democracia, de desenvolvimento institucional e de igualdade de oportunidades no quadro da CEDEAO deve fazer-se sem presunção, “mas com firmeza e humildade, com propostas positivas”.
Para Neves, Cabo Verde só tem importância estratégica se estiver competitivamente inserido na CEDEAO.
“Mas temos de fazer o nosso trabalho de casa e fazê-lo bem. Temos referências nessas matérias, não estamos a partir do zero”, acrescenta.
Cabo Verde manifestou a intenção de assumir a presidência rotativa da Comissão da CEDEAO, mas, apesar de estatutariamente ser a sua vez, o facto de o país ter dívidas à organização terá pesado na decisão. O antigo chefe do Governo diz estranhar o facto de a questão da dívida ter sido debatida, publicamente, no arquipélago.
“Estranhei que a questão das dívidas fosse trazida para o debate público em Cabo Verde. Todos devem e muitos devem muitíssimo mais. E esse facto nunca os impediu de assumir a Presidência”, afirma.
“Por outro lado, não entendi o lançamento de várias candidaturas internas, ainda antes da confirmação de que Cabo Verde teria chances de ganhar”, comenta.