João Miguel Tavares entende que o crioulo deve ser usado como instrumento em algumas escolas portuguesas, para que crianças cuja língua materna é o crioulo não sejam prejudicadas nos primeiros anos de escolaridade naquele país europeu.
Na última cerimónia oficial do programa descentralizado do 10 de Junho, em São Vicente, Cabo Verde, o jornalista falou em laços profundos, apesar de “manchados pela escravatura ou pelo racismo”, e rejeitou a ideia de uma “excepção portuguesa”, relativa à forma como decorreu o período colonial.
O presidente da comissão organizadora afirmou que há “reparações que são devidas a quem hoje está vivo e carrega consigo a bagagem do preconceito”.
“Chamam-se igualdade de oportunidades, direito à busca da felicidade e a certeza de que cada ser humano é único e irrepetível, independentemente da sua origem, do seu credo ou da sua cor”.
“Aquilo que deveria ser uma preocupação genuína de Portugal é a noção de que o nosso país tem uma responsabilidade histórica, sobretudo para com os jovens que descendem de habitantes das antigas colónias”, reforço
As "reparações" devidas, expressão de que não gosta, passam por “uma vida digna, educação de qualidade, acesso facilitado à cidadania portuguesa e o combate permanente à discriminação”.
Sobre os cabo-verdianos e seus descendentes residentes em Portugal, assinalou ainda “uma nova geração que começa finalmente a fazer ouvir a sua voz” e a “perturbar o mito lusotropicalista”.
Tavares enquadrou a "sobrevivência do crioulo" como “uma vitória sobre o colonialismo português, um gesto de rebeldia".