"A questão da segurança em Cabo Verde é um assunto transversal, todos os cabo-verdianos devem preocupar-se com isso. Todos os ministérios, todos as instituições, todos os partidos políticos, estejam no poder ou na oposição, devem cooperar e colaborar para que melhoremos a nossa segurança", defendeu o antigo chefe de Estado.
Pedro Pires falava à agência Lusa para analisar o último "Relatório sobre a Governação Africana da Fundação Mo Ibrahim", instituição que lhe atribuiu o Prémio de Boa Governação em 2011.
"Tudo que nos pode acontecer nesta área prejudica Cabo Verde. Como não queremos prejudicar o nosso país, temos de cooperar, é um assunto que diz respeito a todos, à Presidência, ao Governo, às Forças Armadas, à Polícia Nacional, às Câmaras Municipais, aos partido políticos, todos. Têm de cooperar porque esse é um objectivo fundamental para garantir o nosso futuro", completou Pedro Pires, Presidente da República entre 2001 e 2011 e primeiro-ministro entre 1975 e 1991.
Segundo Pedro Pires, a realidade de hoje não é comparável com a dos anos 1970 ou 1980, uma vez que são contextos sociais, expectativas e uma população diferentes, pelo que os problemas devem ser resolvidos pela nova geração.
"A responsabilidade é vossa, sobretudo das novas gerações. Não vale a pena estar a criticar o que teria sido feito há 44 anos, devem resolver os problemas de agora, que é a responsabilidade da nova geração", reforçou.
"E se as coisas não correm bem, a responsabilidade é desta geração, das instituições da nossa República, incluindo todos da nossa sociedade, da nossa juventude, da nossa escola, é de todos nós, mas muito mais das novas gerações", completou o antigo chefe de Estado.
Para o actual presidente da Fundação Amílcar Cabral e do Instituto Pedro Pires para a Liderança, Cabo Verde precisa de um "Estado forte", que mantém a autoridade, garante a segurança e o funcionamento das instituições.
"Temos feito um discurso de democracia, mas não temos feito o outro discurso, que é da segurança, da eficácia, do resultado", salientou.
Cabo Verde tem sido alvo nos últimos tempos de vários atos criminais, entre homicídios, atentados, assaltos e roubos, a maioria com recurso a arma de fogo e sobretudo na cidade da Praia, a capital do país.
O caso mais recente aconteceu na semana passada, quando um agente policial foi assassinado a tiro durante uma operação na Praia, e até agora não foi detido nenhum suspeito do crime.
Em julho, o presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos, sofreu um atentado a porta de um ginásio, tendo sido atingido com um tiro no braço e já recuperou, e até agora também não foi detido nenhum suspeito.
Além disso, têm acontecido vários casos de assaltos e estabelecimentos comerciais e pessoas nas ruas, num fenómeno que tem sido alvo de muitos debates e comentários no país.
Os mais recentes atos de criminalidade na capital cabo-verdiana levaram a Embaixada dos Estados Unidos em Cabo Verde a emitir um alerta se segurança aos seus cidadãos, dando-lhes conselhos e indicações de como se agir e reagir.