A democracia e o desenvolvimento estão interligados – Ulisses Correia e Silva

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,2 set 2022 12:06

​O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, defendeu hoje em Cascais (Portugal) que a democracia e o desenvolvimento são dois factores que estão interligados, sublinhando que os recursos são meios para o desenvolvimento e não finalidades.

O chefe do Governo cabo-verdiano defendeu essa posição neste segundo e último dia da 7ª edição das Conferências do Estoril, quando falava sobre a “Democracia nos países em desenvolvimento”, numa conversa de 20 minutos com Cátia Batista, professora associada da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) e membro do Conselho Académico das Conferências de Estoril.

“Para nós não há dúvidas de que a democracia e o desenvolvimento estão interligados. Se estes factores estão em sintonia, criam condições para que mesmo em situações de recursos menos abundantes o país possa avançar. E os recursos são meios e não finalidades”, considerou.

Segundo Ulisses Correia e Silva, “o grande desafio e que muitas vezes não se consegue” é transformar esses recursos em educação, em saúde, em ciência, em tecnologia, em bem-estar para as populações e em redução de pobreza, ou seja, “não é líquido que a existência de recursos naturais represente riqueza”.

O primeiro-ministro apontou que um dos maiores recursos em Cabo Verde são os humanos, assim como “um ambiente bonito e constitucional” que faz com que as pessoas desenvolvam todas as suas capacidades e as suas competências, porque, para transformar os recursos, é preciso ter um quadro constitucional que garanta a estabilidade, a boa governança, bases alargadas de educação, que é um dos factores do controlo democrático.

Ulisses Correia e Silva lembrou ainda que o arquipélago tem sol e vento e que o desafio é transformar esses recursos em energias renováveis, sendo que Cabo Verde tem “uma ambição muito forte” de em 2025 atingir 30 por cento (%) de penetração de energia renovável e em 2030 mais de 50%, incluindo a mobilidade eléctrica, sem esquecer o clima que hoje é um produto turístico e o mar que é 99% do território e que tem ainda “potencialidades enormes” para serem desenvolvidas.

Por outro lado, o chefe do Executivo frisou que tem a consciência de que a “democracia não é uma construção definitiva”, e por isso “deve ser cuidada, aprimorada e protegida diariamente”, estando ciente de que as “tendências populistas e extremistas existem”.

“Em Cabo Verde há alguma indicação, principalmente vindo das redes sociais, da forma como hoje através de um clique se pode comunicar e nós somos mais de um milhão e quinhentos mil, incluindo a diáspora, em que alguma é muito activa nesta questão”, disse Ulisses Correia e Silva quando questionado sobre se existe extremismo em Cabo Verde.

“Há uma questão central, em que os partidos políticos, (somos um sistema praticamente bipartidário) se não construírem as suas centralidades, deixam espaço para que o extremismo também avance. Isto tem acontecido um pouco por todo o mundo, na própria Europa e temos esta consciência de que de facto há uma responsabilidade muito grande para que mesmo existindo populismo, que o extremismo esteja na margem e não na centralidade”, acrescentou.

Em relação aos jovens na política, reconheceu que ainda há um caminho a percorrer, já que os próprios partidos políticos têm uma tendência para a repetição e o próprio discurso político muitas vezes não atrai essa camada, mas, no seu entender, os partidos políticos têm de “se abrir mais, de serem mais atractivos e a representação daquilo que são as aspirações dos jovens”, criando um caminho para que possam também progredir e terem funções dentro do partido.

Durante a conversa, Ulisses Correia e Silva falou sobre o percurso de Cabo Verde que considerou ter uma “identidade própria, com um percurso de resiliência e que teve uma opção muito forte em 1991 para a democracia”, em que foi montado um sistema que garante o “contrapeso de poderes” e que nenhum dos actores políticos tem todo o poder.

“Não basta ter só as leis, é preciso que a prática política seja consequente e que o controlo social seja forte (…). Temos a liberdade de imprensa que fomos aprimorando para que o Estado não tenha as mãos sobre a comunicação social, a diáspora desempenha um papel muito importante, ou seja, o escrutínio do sistema político em Cabo Verde não é feito só pelos cabo-verdianos que vivem no país, mas também pelos mais de um milhão que vivem na diáspora”, sublinhou.

Sobre o tema “O reequilíbrio do nosso mundo: um apelo à geração do propósito”, as Conferências do Estoril 2022 que decorrem no campus da Nova School of Business and Economics, no município de Cascais, nos dias 01 e 02 de Setembro, visam um diálogo aberto e inclusivo sobre a situação actual que o mundo enfrenta, centrada nos principais desafios da actualidade “pelo planeta, pelas pessoas e pela paz”.

O evento é considerado uma plataforma internacional que, desde 2009, traz a Portugal alguns do mais notórios lideres mundiais para o debate de questões globais, sendo que este ano participam mais de 70 oradores a abordarem temas como “Alterações Climáticas”, a “Tecnologia para o impacto social”, “Os sistemas de educação”, “A confiança nas instituições políticas e o poder dos media”, entre outros.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,2 set 2022 12:06

Editado porAndre Amaral  em  23 mai 2023 23:27

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