"Mais do que um reconhecimento à minha pessoa, [este prémio] é um tributo à resiliência do povo cabo-verdiano" disse o Presidente da República.
Numa publicação na página da Presidência da República, José Maria Neves agradece o Instituto Amadeus pelo galardão que, anualmente, distingue figuras e instituições pelo seu valioso contributo para o desenvolvimento dos países do Sul ou que tenham um valor acrescentado real na melhoria das relações Norte-Sul ou Sul-Sul.
Neves presidiu a cerimónia de encerramento da 14ª edição do Fórum MEDays 2022, que aconteceu em Marrocos, sob o tema «De Crises em Crises – Rumo a Uma Nova Ordem”.
No seu discurso, defendeu a necessidade de se melhorar as lideranças e a governança no continente africano, assim como a necessidade de reforçar a capacidade de prevenção e gestão de conflitos e apostar fortemente na diplomacia preventiva.
o Presidente da República diz que as inferências em África vão da insegurança alimentar às situações de conflitos e instabilidade, não raras vezes, réplicas de choques entre as grandes potências e os respectivos aliados e estados-satélites.
Conforme apontou, a sucessão de eventos adversos apanhou a África em contrapé, revelando as suas fragilidades antigas, com muitos desafios relacionados com a governabilidade, segurança, problemas de terrorismo no corredor do Sahel ou ataques jihadistas, secessão, golpes de Estado, entre outros.
“Lamentavelmente, o retrato actual é o de um continente pouco relevante na cena internacional, que enfrenta problemas de insegurança alimentar, sem soberania sanitária e sem soberania energética”, pontuou.
Nesta linha, acrescentou, no caso dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, como é o caso de Cabo Verde, as suas especificidades implicam desafios acrescidos e que demandam por soluções urgentes.
“É consensual a consciência da necessidade de mudança, tendo na mira o longo prazo, e criando as próprias soluções para o futuro”, advogou.
Por outro lado, referiu, o continente tem diversas experiências, muito positivas, que devem ser replicadas.
“Urge agregar o contributo de todas as sensibilidades políticas e sociais e colocar todos os recursos do continente ao serviço do desenvolvimento”, salientou, apontando ser preciso investir nas pessoas e apostar fortemente no reforço e consolidação das instituições, na governabilidade e na boa governança.
No seu entender, a “Nova Fronteira do Renascimento Africano” passa, forçosamente, pela aposta nas energias renováveis e na transição energética, pela economia azul e uma industrialização verde.
Do mesmo passo, continuou, há que apostar no diálogo e na cooperação inter-africana para estabelecer sinergias e criar mais resiliência.
“É preciso melhorar a liderança e a governança, reforçar a capacidade africana de prevenção e gestão de conflitos e apostar fortemente na diplomacia preventiva”, sustentou José Maria Neves.
O mais alto magistrado de Cabo Verde frisou ainda que para o cabal cumprimento da agenda 2063 e da “África que queremos”, o continente precisa implementar um sistema de governança multinível, com responsabilidades partilhadas e uma divisão de trabalhos com uma hierarquia de especializações entre a União Africana, as organizações regionais e os Estados membros.
“A Zona de Comércio Livre Continental Africana é uma excelente oportunidade de reforço e consolidação da integração continental, capaz de impulsionar o comércio intra-africano, faltando, no entanto, a sua efectividade”, atestou.