O embaixador esteve no Sal, no dia 8 de Abril, onde participou na Conferência Internacional “Liberdade, Democracia e Boa Governança: Um olhar a partir de Cabo Verde”. Uma visita que, como conta, teve duas motivações principais: mostrar o alinhamento comum com os desígnios democráticos e promover a primeira Cimeira Coreia-África que terá lugar em Junho, em Seul, e que visa reforçar a parceria com os países do continente.
O que motivou a Coreia a participar nesta conferência, do outro lado do mundo?
Felicito o governo e o povo de Cabo Verde pela realização deste maravilhoso fórum. Penso que Cabo Verde é uma das principais democracias em África e por isso merece reconhecimento internacional. Recentemente, a Coreia acolheu um fórum internacional similar, a Cimeira para a Democracia, e o tema dos dois eventos estão estreitamente alinhados. Ambos têm como objectivo reforçar o compromisso com a democracia, não apenas a nível nacional, mas também regional e internacional. Estou aqui pela solidariedade e a amizade do meu governo para com o povo e o governo de Cabo Verde. Esta é a primeira razão. O segundo propósito da minha visita é promover a primeira Cimeira Coreia-África de sempre, que estamos a realizar e que terá lugar no início de Junho em Seul. Convidamos os chefes de Estado e de governo de todo o continente a estar presentes e, felizmente, muitos presidentes e primeiros-ministros africanos responderam favoravelmente ao convite para participar na Cimeira, cujo tema é ‘O futuro que fazemos juntos’. Portanto, partilhar o crescimento, a sustentabilidade e a solidariedade. Acreditamos e desejamos que a cimeira lance as bases para aprofundar e alargar as relações e a parceria entre a Coreia e o continente africano.
Não é uma parceria tradicional. África e Coreia não têm relações que sejam muito faladas, pelo menos até agora…
Temos boas relações, mas precisamos de as aprofundar e expandir. Precisamos de ter relações estratégicas muito melhores, porque, no século XXI, precisamos de África e África precisa da Ásia. Precisamos de cada nação do continente e África precisa de relações melhores com os países asiáticos como, por exemplo, a Coreia. Portanto, esperamos que esta cimeira especial nos dê uma oportunidade de melhorar as relações entre a Coreia e o continente africano. Estamos muito empenhados em melhorar as relações com África e os países africanos e é por isso que nos dedicamos a realizar a Cimeira especial este ano.
Entretanto, a Coreia do Sul tem uma diplomacia cultural muito forte, através dos K-dramas e K-pop e outros K-produtos, que são bem conhecidos também em África. Como esta onda ajuda o governo e aos seus diplomatas no seu trabalho?
Antes de mais, estou muito grato ao povo africano por acolherem a presença do entretenimento coreano, dos produtos culturais coreanos, como o K-pop e o K-drama. A essência da diplomacia pública é comunicar com pessoas estrangeiras. Graças ao grande sucesso do K-drama e do K-pop, as pessoas comuns, o público em geral, estão a ouvir o que os coreanos estão a dizer, o que os coreanos estão a cantar. Isso é muito útil para os funcionários do governo que conduzem a diplomacia pública, porque o cidadão comum, estrangeiro, está disposto a ouvir o que o governo coreano diz. Então, esta onda é muito útil para o governo coreano conduzir ou operar a sua diplomacia pública no estrangeiro.
E como esta onda serve para promover a democracia e os outros valores aqui defendidos, na Coreia e no mundo?
A Hallyu tem desempenhado um papel muito importante na promoção dos valores universais, não só na Coreia do Sul, mas também para além da península e da região. Para atrair mais atenção e mais amor de todo o mundo, o conteúdo deve ser universal e a universalidade significa estar muito próximo do princípio básico da democracia. É por isso que penso que é uma ferramenta útil para promover ou expandir valores fundamentais e valores da democracia também.
Qual a estratégia do governo para promover estes produtos culturais?
Há uma espécie de divisão interna do trabalho na Coreia do Sul. Isso significa que o governo, nós, pavimentamos a estrada e estabelecemos os regulamentos para as empresas de entretenimento actuarem. Por vezes, quando as empresas mais pequenas têm dificuldades em gerir o doing bussiness, também apoiamos. No entanto, não interferimos no conteúdo, apenas suportamos financeiramente e por outros meios. Mas, sabe, os profissionais do K-drama e do K-pop, as pessoas que trabalham no terreno, trabalham muito. Tentam inovar o mais possível, são realmente brilhantes.
Para terminar, a Coreia do Sul é uma democracia relativamente jovem (Dezembro de 1987), com um país «irmão» que vive em ditadura. Quais são os vossos desafios?
Penso que a democratização não é algo estático, é sempre um processo. Isso significa que enfrentamos muitos desafios e dificuldades na condução das democracias. O povo coreano superou as dificuldades e, portanto, temos o poder de ultrapassar, por exemplo, a polarização interna, que pode ser obstáculo para alcançar a democracia. A ameaça oculta da Coreia do Norte também pode ser um obstáculo, mas, como disse, o povo coreano tem sido bem-sucedido em lidar com todas as dificuldades e obstáculos relativos ao “fazer” democracia. Por isso, estou confiante de que conseguiremos ultrapassar todos os obstáculos.
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Cabo Verde quer reforçar laços com a Coreia
À margem da Conferência Internacional do Sal, o primeiro-ministro de Cabo Verde lembrou que a Coreia do Sul é um parceiro de longa data, embora as relações não sejam muito intensas. “Vamos aprofundar essas relações quer a nível político-diplomático, quer a nível das relações económicas”, garantiu Ulisses Correia e Silva. Reconhecendo a Coreia do Sul como um grande país na sua região, o PM avançou a intenção de diversificar a representação diplomática de Cabo Verde na Ásia e a possibilidade de, nesse sentido, estabelecer uma representação na Coreia.<br>
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1168 de 17 de Abril de 2024.