A posição foi expressa durante o Evento de Alto Nível sobre Ação Climática copresidido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no quadro da Pré-COP30.
Na sua intervenção, Ulisses Correia e Silva lembrou que Cabo Verde, à semelhança de outros Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), emite pouco carbono, mas é fortemente afectado pelos impactos climáticos.
Como exemplo, destacou a tempestade Erin que, a 11 de Agosto, atingiu a ilha de São Vicente, provocando perdas de vidas humanas, deslocação de famílias, destruição de infraestruturas e milhões em prejuízos.
“É a prova de que fenómenos extremos estão a tornar-se cada vez mais frequentes”, afirmou, reforçando a determinação do arquipélago em alinhar-se com a meta global de 1,5°C, acelerar a transição energética justa e proteger as populações mais vulneráveis.
O Primeiro-ministro apontou como meta assegurar que mais de 50% da electricidade produzida no país seja de origem renovável até 2030, sublinhando que, já em 2024, Cabo Verde ultrapassou os 80%.
Referiu ainda a implementação da iluminação pública 100% LED, medida que permitirá reduzir em 32% o consumo de combustível e cortar 1.300 toneladas de carbono por ano, com reflexos positivos na balança de pagamentos, na factura energética e na menor exposição a choques inflacionistas.
Na frente da adaptação, Ulisses Correia e Silva defendeu que esta deve ser “centrada nas pessoas e na ciência”, incluindo medidas para garantir segurança hídrica, sistemas agroalimentares resilientes, proteção costeira, resposta de saúde a ondas de calor e sistemas de alerta precoce.
“A transição energética não é ideologia. É necessidade e urgência. Cabo Verde está preparado para fazer a sua parte”, concluiu.
Também ontem, o chefe do executivo reuniu-se com a subsecretária-geral das Nações Unidas e directora executiva da UN-Habitat, Ana Cláudia Rossbach, acompanhada pelo director do Escritório Regional para África, Oumar Sylla.
No encontro, as partes trocaram impressões sobre a importância do urbanismo na construção de maior resiliência, particularmente em países insulares como Cabo Verde, que enfrentam impactos crescentes das alterações climáticas.
O tema, que tem recebido atenção reforçada da comunidade internacional, será aprofundado na COP30, onde a UN-Habitat organizará a 3.ª mesa-redonda ministerial dedicada à matéria.
Ulisses Correia e Silva destacou a necessidade de um maior enfoque nas comunidades e no papel essencial do poder local, tendo havido também convergência quanto à relevância de explorar melhor as oportunidades no quadro da cooperação Sul-Sul.
O primeiro-ministro e a responsável da UN-Habitat acordaram aprofundar estas questões e outras relacionadas durante a deslocação de Ana Cláudia Rossbach a Cabo Verde, prevista ainda para este ano.