Prevista para a acontecer no início do mês de Julho – entre os dias 07 e 10 -, conforme a publicação da convocatória para a assembleia geral electiva e respectiva ordem do dia no prazo definido (Nº 2 do Artigo 26º dos estatutos) de 30 dias antes, a eleição dos novos órgãos sociais da AJOC já está a ser preparada, com duas candidaturas anunciadas até ao momento.
Na corrida para suceder a Carla Lima – que já fez saber que não pretende candidatar-se a um novo mandato, depois de mais de seis anos à frente da agremiação dos jornalistas e equiparados – posicionam-se os jornalistas Orlando Rodrigues, jornalista da Televisão pública e Carlos Santos, jornalista da Rádio nacional.
Rodrigues, até aqui vice-presidente da direcção nacional da AJOC, já tinha sido candidato à presidência do sindicato em 2011 (quando Carla Lima foi eleita pela primeira vez), tendo a sua lista acabado por ser impugnada por irregularidades estatutárias. Desta vez, o jornalista diz estar a preparar a sua candidatura há cerca de um ano e ter já a sua lista fechada mas que só será divulgada por ocasião da eleição.
“ É uma candidatura naturalíssima, por ser vice-presidente da AJOC e porque tenho estado, de forma muito activa, a trabalhar com a equipa que está neste momento a dirigir a AJOC. Como a Carla Lima decidiu retirar-se, logo nada mais natural do que alguém da equipa corporizar uma candidatura de continuidade. É o que estou a fazer, naturalmente com muitas ideias novas porque temos uma plataforma muito bem estruturada”, diz o repórter.
Orlando Rodrigues avança, no entanto, que a sua lista abarca todas as ilhas onde há jornalistas e abrange órgãos públicos e privados. Há também, garante, forte preocupação com a paridade de género de modo que, diz, todas as sensibilidades estarão representadas.
Quanto às linhas gerais que norteiam a sua candidatura, afiança que a ser eleito dará especial atenção à questão de colocação de delegados do sindicato em todos os órgãos de comunicação do país, públicos e privados, algo que até hoje não se conseguiu efectivar, não obstante constar dos estatutos.
O candidato também sublinha a atenção para com os equiparados aos jornalistas, afiançando que nunca serão esquecidos “porque são uma faixa bastante importante da nossa actividade”.
Já Carlos Santos, até pouco tempo Gestor Único da Inforpress, explica a sua decisão de candidatar-se pela necessidade de “um sindicato actuante e atento”. “A comunicação social cabo-verdiana está a viver uma situação que também não é isolada de Cabo Verde. Pelo mundo fora está a passar por alguns desafios, como a crise da imprensa, as redes sociais que estão a colocar vários problemas ao jornalismo, a questão das fake news… Há uma tentação de descredibilizar a profissão”, adianta.
A nível interno, a candidatura liderada pelo jornalista também quer romper com a ideia da AJOC como sindicato dos jornalistas da RTC. “Temos essa preocupação de incluir representantes de órgãos privados”, explica, avançando ainda a intenção de criar centros regionais da AJOC “para que, efectivamente, possamos actuar nestes órgãos privados e em todos os órgãos”.
Outra preocupação de Santos e motivação para a sua candidatura prende-se com o pacote legislativo para a comunicação social que no seu entender já devia estar a ser socializado. “O meu receio é que isto vá para o parlamento sem que os jornalistas tenham uma palavra a dizer”.
As duas candidaturas parecem ter alguns pontos em comum no seu programa, nomeadamente uma atenção especial à questão da literacia mediática.
“A nossa plataforma con-templa este ponto; educar as pessoas para o jornalismo, o que são os deveres e obrigações dos jornalistas, mostrar à sociedade de que forma se pode defender dos abusos da liberdade de imprensa (porque isto existe) mas também de que forma deve encarar o respeito pelos direitos dos jornalistas – duas faces da mesma moeda”, defende Rodrigues.
Já Santos propõe “promover o esclarecimento da sociedade” o que, em termos práticos, deverá passar por “investir em palestras nas universidades sobre a profissão e o seu exercício, por exemplo, ao invés de corridas termos jornalistas nas escolas e nas universidades a falar sobre a profissão, os deveres e direitos da classe”.
Outros aspectos a merecerem a atenção das duas listas: a precariedade laboral em alguns órgãos privados de comunicação, nomeadamente jornalistas que têm carteira profissional mas recebem salários incompatíveis (Santos) e a qualificação da classe, que deverá passar pela formação mas também pela regulação e auto-regulação (Rodrigues).
Duas Listas
A Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde tem tido, até aqui, um historial de sucessões pacíficas. Em 2008, depois de vários anos à frente da AJOC, Paulo Lima (o primeiro presidente do colectivo) saiu para ocupar o cargo de director da RCV tendo sido substituído por Hulda Moreira. À jornalista da RTP-África viria a suceder Carla Lima, eleita pela primeira vez em 2011 e reeleita para um segundo mandato em 2014.
Sobre a existência de duas candidaturas, os dois concorrentes têm visões um pouco diferentes.
“É natural. Embora fosse preferível termos uma candidatura consensualizada. A nossa candidatura já está a ser preparada há mais de um ano. É salutar sim mas, convém dizer que quem protagoniza a outra candidatura disponibilizara-se para fazer parte da nossa lista”, aponta Orlando Rodrigues que acrescenta esperar da actual presidente “uma postura de completo afastamento e neutralidade face a ambas candidaturas”, algo que diz já ter verificado não estar a acontecer.
Duas candidaturas é, para Carlos Santos, “sinal de vitalidade da classe. Infelizmente, tem sido prática lista única, muitos consensos… Parece-me que é o momento ideal para romper com certas práticas. Depois, que vença a candidatura que tiver as melhores soluções. Que haja muitos debates, entrevistas, confronto de ideias”, preconiza ao mesmo tempo que incita o seu adversário, enquanto vice-presidente cessante a “prestar contas”. “Queremos saber o que fez, que contributos é que deu e até que ponto poderá avançar com propostas novas”.
À luz dos estatutos, a assembleia ordinária electiva dos novos órgãos sociais da AJOC deveria ter acontecido em finais do ano passado. Por razões financeiras, não foi possível avançar com o pleito já que organizar uma assembleia-geral electiva custa, normalmente, aos cofres da AJOC, conforme apurou o Expresso das Ilhas, cerca de 600 mil escudos (valor que dificilmente a AJOC consegue ter em caixa). O grosso das despesas prende-se com a deslocação de representantes vindos de outras ilhas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 863 de 13 de Junho de 2018.