Costuma dizer‑se que o humor é filho da inteligência. Não sei se é bem assim — mas aprendi que é, sem dúvida, a melhor forma de lidar com a nossa sociedade esquizofrénica. Por isso, cultivo‑o todos os dias, como quem cuida de um antídoto contra o absurdo: com paciência, leveza e um sorriso no bolso para as horas difíceis.
Porque esta terra, que um dia nos embala e no outro nos enlouquece, não é para ser vivida só com gravidade. A cada esquina, tropeça‑se num disparate novo, uma contradição velha, um espectáculo de incoerência que só mesmo com humor se consegue suportar. O humor ajuda‑nos a olhar para estas pequenas e grandes esquizofrenias sem perder a compostura nem a ternura.
É mais ou menos como uma horta: vai‑se regando com ironia, colhendo uma gargalhada aqui, uma boa história acolá, e devolvendo um pouco de lucidez à terra onde nada parece fazer sentido. Faz‑nos falta para aguentar os outros, para aguentarmo‑nos a nós próprios e para não deixar que a seriedade do mundo nos azede a alma.
No fundo, é isso: cultivo o humor para poder viver neste arquipélago de contradições sem perder a fé nem a graça. Se um dia isto me trouxer inteligência… tanto melhor. Se não, ao menos já me deu coragem para rir e talvez para fazer rir quem partilha comigo este labirinto insular.
Porque Cabo Verde já é sério, confuso e esquizofrénico o suficiente para nos levarmos demasiado a sério.
Nota do autor: Esta crónica faz parte da série Alfinetadas, onde se afinam ideias, se questionam anúncios e se convoca o bom senso –mesmo quando há confettis no ar.
– Manuel Brito-Semedo