Em Portugal para uma visita de três dias, durante a qual irá lançar a sua mais recente obra literária e realizar visitas à comunidade cabo-verdiana, Jorge Carlos Fonseca esteve também na sede da CPLP, em Lisboa, onde a polémica surgida à volta da escolha de Fernando Pessoa para nomear um programa de intercâmbio educativo da comunidade não foi tema oficial da agenda de trabalho.
A polémica surgiu quando a intelectual angolana Luzia Moniz fez publicar um artigo de opinião onde manifestava a sua indignação pela escolha do poeta português por alegadas ideias racistas manifestadas por este em ensaios escritos na sua juventude.
Os protestos de Luzia Moniz chegaram a ser secundados por alguns intelectuais angolanos, ouvidos pela agência Angop, e resultaram num debate que chegou às redes sociais.
No artigo publicado pelo Jornal de Angola, Luzia Moniz chegou a exortar Cabo Verde, actualmente na presidência da CPLP, a intervir para por fim à situação.
“Os irmãos de Cabo verde, que neste momento presidem a CPLP, têm uma responsabilidade acrescida nesta questão”, escreveu.
“Ninguém falou disso. Oficialmente, como presidente em exercício da CPLP, não recebi nenhuma comunicação, nenhum comentário, nenhuma opinião critica”, respondeu Jorge Carlos Fonseca aos meios de comunicação portugueses, admitindo que leu atentamente o texto de Luzia Moniz.
Sobre as alegadas ideias racistas e apologia à escravatura manifestadas por Pessoa, ou por um dos seus heterónimos, o chefe de Estado cabo-verdiano entende que “uma coisa é o escritor, o pensador, a sua obra, outra coisa é a opinião mais ou menos política” que Fernando Pessoa “poderá ter emitido”.
Entretanto, o secretário executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Teles, já veio dizer que o Programa Pessoa não está relacionado a Fernando Pessoa.
“A primeira vez em que se falou do Programa Pessoa — e não Fernando Pessoa — foi em 2013 e pretendia ser uma réplica do programa Erasmus. Em 2015, houve uma proposta no sentido de a Assembleia Parlamentar da CPLP adoptar o programa, que foi ratificada em 2017 em Cabo Verde. Em nenhum lado está escrito que é o programa Fernando Pessoa, o que se diz é o Programa Pessoa. São coisas diferentes”, apontou Francisco Ribeiro Telles, sem esclarecer a quem ou a quê se refere a palavra Pessoa no título Programa Pessoa. O mesmo apenas acrescentou que a instituição do programa “foi uma decisão da Assembleia Parlamentar da CPLP, subscrita por todos os Estados-membros”.