Acredito ter sido o tipo de criança que cedo aprendeu que as notas ou sons se agrupam, e tornando-se pedacinhos mágicos, com os quais brincava.
Conheci-o num final de tarde num espaço musical da nossa cidade, onde ambos aguardávamos por um show. Uma cantora e amiga comum, já me tinha alertado, para alguém que ia desembarcar na nossa cidade, para …estar com os músicos e com a nossa música.
Assim, em conversa disse-me ter vivido em França, país conhecido por todos como uma das prioridades, onde as chamadas “músicas do mundo” tem espaços e lugares para se mostrar. Aí, Dimitri é arrebatado pelas sonoridades lusófonas. Contudo, dentro desse universo, encontra um cantinho bem especial – a música Cabo-verdiana.
A partir dai, a procura das sonoridades de Cabo Verde, tornam-se cada vez mais constantes. As descobertas, empurram-no para novas procuras, até que o jovem musico desembarca em Lisboa.
Rendeu-se à cidade, onde o género musical que procura faz cada vez mais parte dos roteiros musicais.
Na semana passada chega finalmente ao nosso país. Conheci-o praticamente no dia em que chegou . Era notória uma vontade imensurável de conhecer e tocar com músicos de Cabo Verde.
No final da primeira semana, Dimitri já tinha descoberto os principais locais, onde era tocada a nossa música. Dos restaurantes aos espaços nocturnos de música ao vivo, tudo já fazia parte do “roteiro” traçado pelo jovem músico. Misturava-se com os músicos, convivia, aprendia e sobretudo entregava-se de braços abertos à nossa música.
Finda a primeira semana, Dimitri ainda cá se encontrava. Teve de adiar o voo por mais uma semana, pois a primeira não conseguiu preencher tudo o que procurava. Muda-se para casa de um músico da nossa cidade, e mergulha de vez nas “tocatinas” e “Jams”.
Após a, segunda semana, um grupo de amigos e muita música (vi)vida, Dimitri regressa a Lisboa.
Das nossas ilhas leva algum artesanato, e uma mala cheia de sons, momentos e provavelmente muita emoção.
Ontem, quase que em estilo de despedida, esteve presente numa gravação de um vídeo, de um dos grupos com maior procura na nossa praça. Ficou com certeza registada a participação do músico.
Contudo, o registo simbólico do vídeo equivalerá ao registo que nós – amantes da música – fomos fazendo, a cada vez que o víamos, em cada estória que ouvíamos das “Jams” e das “tocatinas”, feitas nos dias anteriores, dos músicos que conheceu e das notas que vivenciou.
Pois é Dimitri, espero que o que levaste contigo da nossa música, seja proporcional ao prazer que tivemos quando te vimos, tão contente pelo que ias aprendendo, mas sempre à procura de mais…
Sabes, isso é com certeza um dos motivos para que a responsabilidade que temos com a nossa música, seja sempre grande – ela faz com que muitos se apaixonem por ela, e por nós.
Até à próxima, Dimitri.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 915 de 12 de Junho de 2019.