O líder da banda, em declarações na madrugada de ontem, na Baía das Gatas, após a actuação do grupo, formado maioritariamente por guineenses residentes em Portugal, adiantou que “o mais grave de tudo” é que “não se vê a luz ao fundo do túnel”, capaz de indicar uma melhoria na Guiné-Bissau.
“Cada etapa que é ultrapassada, à espera de dias melhores, acontece sempre episódios desagradáveis”, concretizou a mesma fonte, pelo que, sustentou, é momento de os políticos na Guiné-Bissau “começarem a pensar um pouco mais no povo”.
Crítico da forma como o seu país tem vindo a ser dirigido, Micas Cabral declarou que já são “mais de 40 anos de independência” e que a Guiné-Bissau “ainda não deu um passo”, tirando os primeiros anos pós-independência, precisou, em que o país “deu mostras de desenvolvimento e algum sentido de Estado e de Nação”.
“Mas, infelizmente, nos últimos 30 e poucos anos, tem sido catastrófica a situação na Guiné-Bissau, temos pena porque é a nossa terra, vivemos na Europa, mas o sonho é regressar, viver, sermos acolhidos por aquilo que é nosso e é pena que cada vez notámos que tal está cada vez mais distante”, considerou.
Por isso é que, ao cantar as suas músicas de intervenção, segundo Micas Cabral, Tabanka Djaz mais não faz do que chamar a atenção aos políticos, o que já vem desde 1996, com o disco “Esperança”.
“Nessa álbum, cantamos a esperança da Guiné-Bissau, mas infelizmente essa música ‘esperança’ contínua actual, o que é grave, e não gostaríamos que assim fosse”, explicou Micas Cabral, pois, o desejo, sintetizou, era falar dessa música como sendo do passado.
“Mas ela é uma música do presente pelo que se torna necessário que se repense muito seriamente a Guiné-Bissau”, pontuou.
Sobre a actuação dos Tabanka Djaz no Festival da Baía das Gatas, 22 anos depois, o vocalista considerou-se “super feliz” por regressar àquele palco, do qual guarda “boas recordações” e que foi oportunidade de reviver “bons momentos”.
“Foi tempo de mais longe deste palco e não queremos esperar outros 22 anos”, declarou Micas Cabral, que quer “em breve” voltar a sentir o calor do público de São Vicente.
“Somos bem recebidos em todo o Cabo Verde, mas o calor do público de São Vicente é diferente, adere muito mais ao espectáculo e praticamente 50 por cento do show é feito por ele”, concretizou.
Depois da Baia das Gatas, Tabanka Djaz segue hoje para a ilha de Santiago e na próxima semana participa no festival da ilha da Boa Vista.
“Vamos andando por Cabo Verde, porque aquilo que somos hoje como banda Tabanka Djaz devemos muito a Cabo Verde, pois nos finais dos anos 80 foram os cabo-verdianos que fizeram a banda andar o mundo inteiro, pelo que temos uma dívida muito grande para com os cabo-verdianos”, concluiu Micas Cabral.
A 35ª edição do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas prossegue na noite de hoje, cabendo a Vasco Martins abrir o palco, às 20:00, seguido de uma animação pelo Grupo de Carnaval de São Vicente e ainda Grace Évora, Beto Dias, Suzana Lubrano, Deejay Telio (Angola) e Davido (Nigéria).
O festival teve a sua primeira edição no dia 18 de Agosto de 1984, é realizado anualmente na praia da Baía das Gatas, a oito quilómetros da cidade do Mindelo, e desde aquela data apenas em 1995 não se realizou, devido a uma epidemia de cólera que assolou Cabo Verde.
Anualmente, a Câmara Municipal de São Vicente, que organiza o evento, reserva uma verba no orçamento municipal para fazer face às despesas com a logística, viagens e cachet de artistas de Cabo Verde e do estrangeiro, sendo certo que o grosso do montante para suportar o evento, de acordo com a autarquia, provêm de patrocínios de empresas.