Baía das Gatas em edição especial

PorNuno Andrade Ferreira,9 ago 2019 11:45

O festival de música da Baía das Gatas cumpre este ano a sua 34ª edição. Três décadas e meia depois da sua fundação (num dos anos não houve festival) , o que resta do espírito dos primeiros anos? Fomos tentar saber junto de alguns dos seus fundadores.

É já este fim-de-semana, de 9 a 11 de Agosto, que a praia da Baía das Gatas volta a encher-se de gente, para mais uma edição do maior festival de música do país.

Há 35 anos, em 1984, um grupo de amigos, influenciados pelos movimentos musicais internacionais e com o Woodstock na memória, decidiu reunir-se para compor e tocar.

A preparação demorou cerca de um mês. Apesar de muito improviso e alguns percalços, o festival aconteceu mesmo. O orçamento reduzido não impediu que, ao longo de 48 horas, fossem lançadas as bases daquilo que é hoje um dos principais eventos da agenda cultural das ilhas.

Ao lado de Vasco Martins, Dani Mariano, Vlu e outros, Voginha foi um dos fundadores.

“O nosso objectivo, quando o festival se sedimentou, era que servisse como montra, um palco de promoção e divulgação de artistas, de novos valores que estavam a despontar na cena musical de Cabo Verde”, recorda.

Inicialmente organizado por uma comissão criada para o efeito, o festival acabou por ser assumido pela autarquia mindelense. Para Voginha, uma má decisão.

“O festival deve ser repensado, sair da esfera da Câmara Municipal e entregue a uma comissão especializada, formada por pessoas idóneas, capacitadas e com know how na organização e marketing de um evento com tantos anos”, defende.

O músico considera necessário devolver o Baía das Gatas ao seu espírito original, como ‘rampa de lançamento’ de artistas nacionais, contrariando a tendência de se chamar “os mesmos de sempre”.

“Para mim, o festival transformou-se num lobby de pessoas à volta da Câmara Municipal de São Vicente”, desabafa.

Ao fim de 35 anos, o local é o mesmo, mas o festival cresceu, internacionalizou-se, e, à vista desarmada, já pouco guarda das primeiras edições. A 48 horas do ‘pontapé de saída’, a praia da Baía é um estaleiro. Prepara-se o palco, o sistema de luz e som, montam-se as tendas que servirão de zona de restauração, os patrocinadores preparam os seus espaços, o campismo compõe-se e constroem-se as tradicionais ‘barracas’.

Músico e compositor, Vlu recupera a memória de outros tempos.

“O nosso festival era completamente diferente do festival feito agora. O festival de agora é uma fogueira de vaidade política da Câmara. Estávamos a fazer um trabalho cultural, para mostrar que éramos capazes de fazer, de construir para a cultura de Cabo Verde”, lembra.

“Hoje, o festival é feito com um intuito absolutamente político, não é cultural, nem coisa do género, porque não tem intenção de promover valores locais”, lamenta.

Também empresário, Vlu pede a elaboração de um plano que repense e relance o festival.

“Temos que colocar num plano, claramente, quais são os nossos objectivos. Os objectivos que tivemos no passado ainda hoje valem, só que têm que ser adaptados ao novo contexto. O problema não está em quem faz o festival, é a definição do perfil do festival que não existe. A partir da definição de um perfil, qualquer pessoa pode executar o projecto”, acredita.

Organizadora do festival, a Câmara Municipal de São Vicente quer promover o seu potencial turístico. Para isso, aposta na qualidade e diversidade do cartaz e aponta às obras de valorização da praia e zona envolvente, lançadas recentemente.

“Apostar cada vez mais em artistas de renome nacional e internacional, porque as pessoas querem ver grandes artistas. Depois, fazer de tudo, com as obras que vamos fazer, financiadas pelo Governo, de requalificação da Baía, para que [a praia] possa estar cada vez mais estruturada para receber actividades de diversa ordem”, resume o vereador Rodrigo Martins.

Sexta-feira, o palco abre com Cremilda Medina. Ao longo de três dias, as propostas são diversas (ver caixa). O jamaicano Ky-Mani Marley e o nigeriano Davido são dois dos destaques.

*com Lourdes Fortes

  

Cartaz da edição de 2019

Sexta-feira, 9 de Agosto

Cremilda Medina/Djocy Santos/Ceuzany

Tabanka Djaz (Guiné-Bissau)

Ky-Mani Marley (Jamaica)

Ludmila

Sábado, 10 de Agosto

Vasco Martins

Grace Évora

Beto Dias

Suzana Lubrano

Deejay Telio (Angola)

Davido (Nigéria)

Domingo, 11 de Agosto

Hip Hop Skils Muviment

Yasmin (Portugal)

Loony Johnson

Ricky Man

Wet Bed Gang

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 923 de 7 de Agosto de 2019. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,9 ago 2019 11:45

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  4 mai 2020 23:21

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