Projecto que durou seis anos, o filme é um trabalho de fôlego, de grande carga emocional, desenvolvido por Neu Lopes, seu filho.
“O meu pai era uma pessoa um pouco dura, mas ao mesmo tempo aberta. Era uma pessoa que compreendia, que sabia levar-nos a mão à cabeça e sabia quando é que tinha que dar um soco na mesa. Ele soube educar os filhos e mostrava aos filhos como é que deviam encarar o mundo, encarar a vida e respeitar as pessoas”, recorda.
Além de realizador, Neu acumulou outras funções, como produtor, guionista, editor ou sonoplasta. Apesar de alguns patrocínios, só assim foi possível concluir o documentário.
“Este filme foi feito, a nível técnico, praticamente, graças a duas pessoas. Eu e o Edson Silva. Temos feito alguns trabalhos juntos e tem funcionado bem. Não há como pagar a pessoas para fazer o som, para fazer a recolha. Eu fiz o guião, os contactos”, explica.
Sem esquecer a sua ligação afectiva a Manuel D’Novas, mas sem se deixar limitar por ela, Neu Lopes procurou construir um argumento em torno da importância do poeta para a música cabo-verdiana e identidade crioula.
“Os músicos, os poetas, os analistas políticos e sociais vêem essa unanimidade e essa unidade. Tudo o que ele faz tem um ponto comum: contribuir para que se construa um mundo melhor. O Cabo Verde que ele sempre viu com um certo patriotismo”, afirma.
Em ante-estreia esta quinta-feira, às 19h00, em São Vicente, “Manuel D’Novas – Coração de Poeta”, regressará depois à mesa de edição para ser legendado, já que muitos depoimentos estão em crioulo. Depois disso, estará pronto para a estreia, iniciando em seguida um ciclo de exibições nas ilhas e no estrangeiro. O realizador quer levar o filme ao circuito internacional de festivais, com destaque para o Doc Lisboa, na capital portuguesa.
Exímio trovador, Manuel Jesus Lopes nasceu em Santo Antão, a 24 de Fevereiro de 1938. Morreu em São Vicente, a 28 de Setembro de 2009, deixando um vasto espólio artístico que coloca Cabo Verde ao espelho, nas suas singularidades, maravilhas e imperfeições.