Em entrevista à Inforpress, por ocasião da celebração do Dia Mundial dos Museus, que se assinala hoje, sob o lema “Museus para Igualdade, Diversidade e inclusão”, Samira Silva adiantou que ainda não há nenhum estudo sobre o impacto da COVID-19 neste sector, mas perspectiva-se que será “grande”.
Isto porque os museus no arquipélago estão encerrados desde o dia 18 de Março, na véspera da confirmação do primeiro caso positivo da COVID-19 na ilha da Boa Vista, ou seja há dois meses.
Esta situação, segundo disse, representa uma “grande redução” no número de visitantes, sobretudo, pelo facto ter acontecido no período de “maior afluência”, tanto de turistas estrangeiros, como dos estudantes, que são o público predominante.
“Em 2019, os nossos museus totalizaram cerca de 30.000 visitantes dos quais 20.070 (69%) foram turistas estrangeiros, 5.244 (18%) foram estudantes e 13% foram nacionais. Este ano temos a consciência de que será difícil alcançar esses números”, indica.
Neste sentido, prosseguiu, o impacto a esse nível “é extremamente negativo”, porque este ano lectivo não será retomado e os turistas internacionais só poderão visitar o País, no melhor cenário, no último trimestre do ano, conforme as projecções do Ministério do Turismo.
Este contexto que o mundo vive, avançou, desafiou o Instituto do Património Cultural (IPC) a apostar na implementação de um “novo modelo de gestão assente no contributo das novas tecnologias para a melhoria da interpretação do acervo e a comunicação com o público”.
Desafiou-os ainda a um “melhor aproveitamento” da potencialidade científica dos acervos, criando conteúdos em diferentes formatos susceptíveis de serem usufruídos por diferentes públicos, como a publicação de catálogos, guias, conteúdos audiovisuais e entre outros.
“Estas tecnologias que já vinham aguçando o interesse dos museus, com vista à inovação, atractividade e interactividade dos conteúdos, ganham um interesse especial nos tempos actuais”, disse, ajuntado que no museu Etnográfico implementou-se um novo projecto museográfico, com a instalação de um fonoteca e a disponibilização de outros conteúdos em áudio e vídeo em diferentes suportes.
Ainda, acrescentou, estavam a trabalhar novos planos museográficos para o Museu da Tabanca e o Museu da Resistência que serão implementados na sequência das obras de reabilitação desses edifícios no quadro do PRRA.
Devido ao confinamento, o IPC disponibilizou visitas virtuais para quatro dos oito museus que estão na tutela do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas, designadamente o Museu Etnográfico da Praia, Museu do Sal, Museu da Tabanca e o Museu da Resistência.
Para Samira Silva, a avaliação do impacto deste projecto é “bastante satisfatório”, visto que em duas semanas houve mais de 1.500 visitantes, por isso a ideia é alargar esta iniciativa para os restantes museus.
Um outro grande desafio do IPC, segundo a mesma fonte, é aumentar a afluência dos nacionais, em particular das famílias e dos jovens e, de uma forma geral, toda a comunidade aos museus.
O IPC já estava a trabalhar nesse sentido com o projecto nacional ”O museu vai ter contigo” que deveria iniciar no mês de Março, em São Vicente.
“O propósito do projecto é levar as actividades dos museus para as comunidades por forma a despertar o interesse das famílias para momentos de lazer e conhecimento nos diferentes museus, promovendo um acesso cada vez mais generalizado a todas as classes sociais”, explicou, sublinhado que pretendem retomar este projecto assim que o contexto social permitir.
Ainda a direcção dos museus pretende apresentar durante este mês o estudo de “Perfil e aferição do nível de satisfação dos visitantes dos museus”, cujos resultados, acredita, irão conduzir a “melhorias significativas” na gestão desses museus.
Com os resultados deste estudo, informou que se espera que tais melhorias possam, para além do cumprimento da missão tradicional dos museus, responder aos anseios e às necessidades dos visitantes através da “transformação” digital dos museus.
No pós pandemia, a direcção do museu pretende dar continuidade ao seu plano de trabalho, dando particular atenção ao fortalecimento do diálogo com o sector da educação, do turismo, da sociedade civil (ONG comunitárias) e com as entidades privadas com iniciativas nos domínios dos museus.
Reforçar a acção educativa e cultural nos diferentes museus, uma vez que vão passar a ter na direcção um Gabinete de Educação Patrimonial, e trabalhar no plano estratégico dos museus e na revisão do quadro normativo, que pretendem disponibilizá-los ainda este ano, são outras acções previstas.
A direcção disse ainda que está a trabalhar no projecto “Museus Acessíveis”, que para além da componente de acessibilidade para os deficientes, pretende trabalhar a acessibilidade no seu sentido mais alargado.