Morna Rhapsody, o Piano e a Morna em viagem e homenagem

PorPaulo Lobo Linhares,17 ago 2020 7:16

Após uma semana do lançamento do Morna Rhapsody, o crescente da paixão e admiração pela novidade proposta pelos músicos Carlos Matos e Humberto Ramos é absolutamente considerável.

Durante esta semana, não houve um dia que não tivesse voltado ao vídeo. De uma maneira geral para ouvir outra vez este novo formato instrumental que nos foi apresentado …mas não só - também, para revisitar algum requestionar que fui tendo ao longo da semana, sobre pequenos pormenores - tanto musicais, ou ainda das expressões faciais que os dois intérpretes traduziam, certos e determinados momentos. Sim, na verdade imagino que falavam com cada uma das notas antes de as propor, para assim perguntá-las se se sentiam cómodas. Estávamos perante a nossa rainha musical – a Morna, e a homenagear dois dos seus principais intérpretes/compositores. Pelo que todo o cuidado seria pouco.

Acima de tudo conversavam entre eles.

Carlos e Humberto – admiradores confessos de D. Tututa e Chico Serra, os quais consideram ser os pais do piano Cabo-verdiano, curvaram-se perante a imensidão musical dos seus heróis, e de forma sentida, através da linguagem que o quatro tanto ama(ra)m – a música –, misturaram as brandas notas da morna, deixando passar todo o sentido de gratidão e admiração que traziam dentro deles. Foi essa a sensação que nós, expectadores, vivenciamos.

Se neste projecto a alma era grande, o canal que a faz passar, ou seja a música, não esteve em plano menor. O preciosismo técnico dos dois intérpretes é notável. Mais… sendo académicos, nunca deixaram que a dureza dessa abordagem se sobrepusesse à fluidez tipicamente emocional da morna que sai do interior de um cabo-verdiano. Acredito que todos nós vivemos o lamento, o deleite, em constantes estados de alma que provavelmente se mostravam, ora em sorrisos que nos escapam, ora por sermos arrebatados pela arte maior… neste caso a capacidade de Carlos e Humberto.

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Na verdade, a Morna esteve tão bonita fora do seu traje habitual…passeou e agradeceu, elegante, porém simples, enorme, porém nos pedacinhos necessários …quase que mostrando o porquê de agora ser do mundo inteiro.

O formato de dois pianos é provavelmente um dos mais interessantes para a morna. Os solos de piano são tão graciosos que na verdade - também por isso terá ficado claro, a visão e grandiosidade de Chico Serra e D. Tututa, quando escolheram este instrumento para solista, num universo onde as cordas eram então as rainhas. Não poucos os comentários que fomos lendo após o espectáculo, onde se exaltou este instrumento como sendo o ideal para possível solista primeiro na morna… os dois pianistas, assim como D. Tututa e Chico Serra, deixam aqui o repto.

Matos e Ramos ajudaram a termos sempre presente o facto de que a morna é património mundial, cabendo assim aos Cabo-verdianos alimentar sempre este “status”. Por outro lado, foi claramente passada uma onda de positividade, que ameniza os dias de clausura em que vivemos, tentando assim que a música seja as asas para que possamos assim sair um pouco do real e…viajar mornamente.

E como conseguiram.

Bravo maestros.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 976 de 12 de Agosto de 2020.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,17 ago 2020 7:16

Editado porSara Almeida  em  30 mai 2021 23:21

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