Natural da ilha de Santiago, Sandra Horta iniciou o seu percurso na área musical ainda na infância, quando aprendeu as bases do canto e de instrumentos como a flauta e o violão.
Aos 18 anos, participou no projecto “Verão 2000”, com o tema “Still the One”. Durante o período em que estudou em Portugal, integrou vários grupos musicais estudantis, tendo participado em eventos em várias cidades portuguesas para a comunidade estudantil e não só.
A convite de Tito Paris, começou a actuar em grandes palcos. No seu curriculum constam participações em concertos com conceituados artistas cabo-verdianos em países como Angola, Portugal e França.
Sandra Horta tem-se dedicado à sua profissão de engenheira informática, mas mantém forte ligação à música, graças à sua versatilidade em termos de géneros musicais e presença cativante em palco. Numa entrevista ao Expresso das Ilhas, a cantora falou do seu projecto musical.
“Estou a trabalhar no meu álbum. Neste momento estou a fazer a recolha de temas e encontro-me a experimentar sonoridades com diferentes produtores”, conta.
Sandra Horta explica que o seu disco será à sua imagem, a imagem da pessoa que é hoje. “Afinal, os discos não são mais do que o registo de um determinado momento na vida e carreira de um artista. Como todas as mulheres, muitas almas vivem dentro de mim e gostaria de as fazer transparecer no meu disco: a mulher doce, a mulher guerreira, a mulher sensual, a mulher mãe. Esta mulher é cabo-verdiana (a minha grande inspiração) mas é uma mulher do mundo, contemporânea”.
“A minha cabo-verdianidade”
A cantora revelou que pensa num disco com múltiplas facetas inspirado na mulher, que se une em torno de um fio condutor: a minha cabo-verdianidade.
Neste momento a cantora tem no mercado três singles “Seca”, “Wake up Now”, (‘Acorda Agora’) e “Talvez”. Nos próximos tempos iremos conhecer mais temas da cantora. “Mesmo com o álbum pronto continuarei, enquanto possível, a apresentar os temas a pouco e pouco ao público, seja em singles, ou em formato EP”.
“Se me permites utilizar uma analogia, é como se estivéssemos todos num restaurante a provar pratos que preparei. Com os singles sirvo os pratos preparados um a um, explico como foram feitos e avalio a reacção do meu convidado. Já com um álbum, são os mesmos pratos, claro, mas servidos todos juntos, quase em modo self-service e as pessoas vão poder escolher e servir-se sozinhas. Eu prefiro essa proximidade, esse cuidado na apresentação de cada prato, leia-se, tema. Continuarei a fazê-lo enquanto puder pois para mim a proximidade é algo muito caro e penso poder fazê-lo melhor através dos singles do que com um álbum”, explica.
“Várias Sandras”
Sandra Horta promete trazer “várias Sandras”, no seu trabalho discográfico e também Cabo Verde na sua base. “Haverá os mundos que vivi e carrego em mim nas suas múltiplas cores, ou seja, um disco de música de Cabo Verde com cores do mundo, um mundo visto pelos meus olhos”.
Sobre a sua ausência durante alguns anos, depois do lançamento do primeiro single intitulado “Seca”, Sandra Horta explica que como foi mãe, essa tarefa tornou-se a mais importante do mundo para ela. “Queria estar presente e viver cada minuto. Viajar, sair à noite para cantar, tornaram-se tarefas dolorosas em vez de prazerosas como antes. Não tinha disponibilidade mental para me dedicar a outras coisas que não à minha família. A música para mim é algo de muito sério: não podia dar só 50% de mim aos meus fãs, pessoas que tiram o seu tempo para me ouvir. Agora tenho mais disponibilidade” diz.
Em relação ao estilo musical com que mais se identifica, Sandra responde dizendo que não se consegue identificar apenas com um. “Como disse, tenho várias Sandras dentro de mim e tenho a sorte de ter um marido igual a mim: em minha casa ouvimos jazz num dia, no outro estamos a dançar afrobeats, há dias em que é sessão de salsa ou simplesmente quietinhos a discorrer fados ou mornas antigas e novas. Música é momento. Música não é estática e eu não sou estática. Quem eu sou e o que dou depende do momento”.
Sandra Horta conta que pretende, no mundo da música, dar voz a quem precisa dela e promover Cabo Verde. “Quero continuar o caminho que os nossos grandes começaram para levar longe o nome deste nosso querido torrãozinho, com música de qualidade e a nossa cabo-verdianidade intacta”.
E não é só isso. A cantora afirma que pretende trazer as pessoas para o nosso país. “Quero cantar a morabeza mas quero que venham vivê-la aqui em Cabo Verde, quero cantar a Sodad, mas quero que venham visitar Cabo Verde e a sintam depois de voltarem. Enfim, quero levar Cabo Verde lá fora, mas quero que venham viver Cabo Verde cá dentro e que pessoas de outras paragens comecem a perceber por que é que o cabo-verdiano ama tanto esta ladera sem simbrom”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1006 de 10 de Março de 2021.