Por ter tocado a música, minha eterna paixão? Também. Mas vai mais além. Pala mulher ter sido o expoente máximo da criatividade. Não foi só na música. Vi na moda com Stefanie Silva, na ilustração com Gildoca Barros, no livro infantil de Fátima Bettencourt e nas enormes ilustrações de Betty Gonçalves - forte chapelada para a ilustradora… mas na música vi sim um mundo de criação tão grande que me levou a ter a certeza que o mês desta vez foi oferecido pelos deuses de forma especial às mulheres de Cabo Verde.
Temporizando aqui o mês com a semana que o antecedeu e a que o precedeu, vi-me embriagado sem saber para onde me virar. Mal saia de um estado de deleite com o lançamento de um single, um disco ou um espetáculo musical, já havia outro à espera. E eu embriagado cada vez mais em tamanha criatividade, só não desejava para que a corrente diminuísse porque a beleza quer-se sempre em quantidade que nunca consegue ser demasiada. A beleza não conhece limites…
E assim foi.
Sem qualquer tipo de organização cronológica, apenas os limites-de-março, começo pelo que neste momento ouço enquanto escrevo: a estreia de Zubikilla Spencer com o single “This is me”. Não sei por onde começar: conceito do vídeo?...tema?...música?…letra?…a voz da Killa e o “feat” de Blakstar?...não sei, por tudo estar a um nível de elevada qualidade. Sim, próxima paragem – mundo…
Já no universo “Soul CV” em voz destacadamente marcada Mademoiselle Lisbonne lançou o single – “Abô é muto mas” deixando adivinhar caminho aberto.
Se continuarmos no soul-pop Made in CV um pouco antes Khyra Tavares estourou com a versão de Fra Brok, que de forma impressionantemente inteligente soube transportar de décadas atrás para hoje, respeitando tudo o que o autor fez e projectando-o num hoje dela e de todos os que estiveram atentos. Brilhante Khyra.
Ao falar das vozes acima referidas, devagarinho ecoa-me a de Sandra Horta que já tinha explodido no “Wake Up Now” que renovou agora num novo vídeo, mostrou-nos a sua capacidade também na música tradicional com a beleza da morna tendo seleccionando um dos nomes maiores dos nossos compositores – B.Leza. Mostrou que também no tradicional o nome dela não pode ser descartado.
Pois, difícil …. Dificilmente belo.
Entretanto o mundo bate à porta de Cabo Verde pelos portões do Kriol Jazz Festival. O festival mundial online Culturas360 convida para os seus palcos Jenifer Solidade. A voz que não é novidade, mas é sempre nova e fresca. Sabe sempre a tal. Jenifer não deixa Cabo Verde por mãos alheias e recolhe aplausos da plateia virtual que seguia o 360 de vários continentes.
Se houve plateias online também houve físicas. E eis que de novo mergulho no criativo-de-excelência com o regresso às ilhas de duas vozes e cantautoras femininas que connosco celebraram o mês de Março.
Sara Alhinho trouxe a doçura da sua voz, que apresentou num palco junto à brisa do mar e que em ondas sentidas envolveram a nossa cidade.
E eis que chega provavelmente o momento do desespero-belo. Danae Estrela ofereceu-nos uma amostra no seu mais recente trabalho “Num tempo ki ka tem tempo”. A criatividade convidou a musicalidade e o cénico das letras para juntos se misturarem em quadro único – onde podíamos entrar e viajar. E viajamos…como viajamos nesse “Tempo ki ka podeba tem tempo” … mansinho ê txiga na nos e ê laba-nu di la pa la… di Cabo Verde pa mundu…
Bem, não tendo claramente a capacidade para ilustrar a beleza-alma que me foi impregnada devagarinhamente-marcada proponho que ouçam tudo de que falei, pois é de difícil expressar…
O Mês de Março é das mulheres… “N bem di kau pikinoti …. Ka bu skeci ma (pa mi) nha limiti e séu”...disse Mayra Andrade…. É certamente…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1010 de 7 de Abril de 2021.