No segundo dia da 38ª edição do festival, o que parecia uma actuação enérgica, sobretudo por causa do ritmo carnavalesco, que por cerca de uma hora transformou a baía num sambódromo, terminou com um corte, qual balde de água fria.
Após brindar o público com marchinhas carnavalescas, os três artistas vestidos cada um com uma camisola que formavam o nome de Vlú (Vladmir Ferreira) quiseram prestar uma homenagem ao cantor, um dos fundadores do festival da Baía e também compositor reconhecido por compor e interpretar várias músicas, principalmente do Carnaval.
Mas porque o trio excedeu o seu tempo de actuação, o técnico desligou o som deixando a Baía “no vácuo”, recebendo de seguida uma vaia do público. Para Gai Dias, que estreou três músicas durante a sua actuação, o que aconteceu foi uma falta de respeito para com ele e os colegas.
“O que é que já aconteceu neste momento é grave. Íamos fazer uma homenagem ao Vlú e acabaram com o nosso show desta maneira”, reagiu seguido por Constantino Cardoso que afirmou que o espectáculo poderia ser diferente, mas a discriminação continua porque os artistas que vêm de fora e os que estão em Cabo Verde não são tratados de igual forma.
“Sente-se isso na maneira como o pessoal de som e do staff nos trata E isso dá-me uma revolta porque preparamos uma homenagem para o Vlú que é fundador do festival de São Vicente e um criador de músicas do carnaval” adiantou o cantor lembrando que os que estão em São Vicente não tem camarim no festival enquanto os que vem de forma tem esse espaço com a respectiva identificação.
Segundo Constantino o homenageado está a passar por um problema de saúde e tinham preparado uma música pelo momento que ele está a passar por um problema de saúde e que mais três ou quatro minutos não faz mal nenhum já que bandas estrangeiras costumam ultrapassar o tempo de actuação.
Por sua vez, Anísio Rodrigues classificou o acto como frustrante. “Preparamos para fazer bonito e é frustrante porque desligam a música”, considerou sugerindo que vão fazer uma bíblia de exigência para poderem ser tratados bem no festival.
“Estamos a reclamar e talvez no próximo ano não seremos chamados, mas quem perde é o povo de São Vicente”, sintetizou Anísio Rodrigues.
Após este constrangimento, os ânimos voltaram ao palco seguiu-se Loony Johnson, este que trocou a ordem de actuação com a jovem cantora Nenny. Loony Johnson chegou a “esbanjar” vibração e feeling, logo de início, e manteve o entrosamento com o público por cerca de uma hora e quinze minutos de show.
Primeiro, entrou a cantar “Mata tudo”, passou por “Terra Sabe”, depois “Undi Da Ki Panha” e ainda interpretou “Vai Vai”, “Homi Grandi”, “Da Kel Bu Toki”, “Bo É Dod Na Mim”.
Depois de fazer Baía das Gatas levantar o pé do chão, não uma, nem duas, mas vezes sem conta, o jovem cantor encerrou a cantar “Fla La Nos É Kenha”, mostrando que conserva o “tempero e a fórmula do sucesso” que ostentou em 2019 quando pisou o palco do festival, antes da paragem devido à pandemia da covid-19.
“Foi incrível. Estou completamente sem voz, muito emocionado. São dois anos, quase três praticamente parado. E voltar ao palco da Baía, principalmente voltar para cantar para o povo de São Vicente, para mim foi muito emocionante porque fiz o último show em 2019, na Rua de Lisboa, e durante esse tempo aconteceram muitas coisas na minha vida”, declarou o cantor com os olhos marejados de lágrimas.
A noite também contou com shows de Ary Kueka, que cantou músicas do seu primeiro álbum a solo, “Sampadiu”, cuja essência foi buscar na “Tabanka, no Batuku, no Sanjon e nas Mornas e Coladeiras”, depois actuou Ceuzany que até fez os mais pequenos cantarem mornas como “Mindel D´Novas” e “Regaço”.
Ainda actuou Nenny que apresentou um estilo “marcadamente juvenil” com ritmos de R&B misturados com outras sonoridades. Por fim, o rapper Julinho KSD encerrou o segundo dia do festival com um espectáculo de ritmos com destaque para o hip hop, cantados maioritariamente em crioulo e português, mas também misturando ambas as línguas, e em inglês.