Arranca esta quarta-feira a sétima edição da URDI - Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde. Até domingo, a Praça Amilcar Cabral (aka Praça Nova)é o epicentro do evento que se propõe pensar, promover e projectar a criação artística nacional.
Este ano, a URDI foi edificada a partir do lema “tradição oral – cultural imaterial”, num convite à materialização da imaterialidade.
A Feira do Artesanato e Design tem um espaço de venda, mas não se esgota nele, como explica o director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD), Artur Marçal.
“A URDI tem na sua matriz esta preocupação que inova o artesanato, cria sinergias entre os artesãos e designers e é um espaço que tem como principal objectivo projectar a produção do artesanato e do design em Cabo Verde, mas não podemos ver esta feira apenas com o objectivo de vender”, observa.
“Ela tem um objectivo funcional, permite trocas e partilha entre os vários actores da feira e com os visitantes. Permite trocas comerciais, negócios. Ela tem um conjunto de elementos que lhe permitem servir de espaço congregador de toda a sinergia em torno da criação, do artesanato e do design cabo-verdiano”, complementa.
No âmbito do salão Created in Cabo Verde, e no Centro Cultural do Mindelo (CCM), estarão patentes os resultados do concurso de design “Palavra - Formas a partir de Saberes” e da URDI Júnior. Por lá, a aguardar visita, também estão a exposição “Blimundo”, de Leão Lopes, e a mostra “Renda Brava”, já antes apresentada em Nova Sintra. Na galeria Zero Point Art poderão ser vistos os trabalhos da residência “Lata”.
A série de Grandes Conversas está agendada para o auditório do CCM, quinta, sexta e sábado, percorrendo o “universo criativo de Manuel Figueira”, discutindo “o design na criação de futuros” ou desvendando “o real e o imaginário – figurado”, entre outros temas.
O director do CNAD salienta que o propósito do ciclo de conversas é ser um espaço de teorização.
“Dialogo e teorização daquilo que é a arte, o artesanato e o design em Cabo Verde. Sabemos que temos um grande campo do fazer, mas em termos de produção científica, em torno da criação cabo-verdiana, há muito pouca produção. As Grandes Conversas têm permitido esta teorização, porque trazem um conjunto de pessoas que têm reflectido sobre estas temáticas. Temos sempre convidados internacionais, para termos a noção do que se passa noutras paragens”, destaca.
António Pinto Ribeiro, Manuel Brito-Semedo, Princezito, Fabiana Vencezlau e Carlos Gomes são alguns dos nomes que constam do programa.
Este ano, e pela primeira vez, a participação de artesãos na feira é exclusiva a quem tenha concluído com sucesso o processo de registo na plataforma SIArt (Sistema Integrado de Artesanato).
“A certificação é um processo que se iniciou há três anos, com o objectivo de certificar o sector, enquanto profissão. O artesão passa a ter uma carteira, uma carreira profissional. Obviamente, depois de todo o investimento que foi feito neste processo, era o momento de começarmos a exigir que os participantes da feira estivessem certificados. Temos que elevar a qualidade do artesanato e do produto que se apresenta e a certificação permite isso”, comenta Artur Marçal.
Na SIArt estão inscritos 767 artesãos, 135 dos quais já com o cartão que comprova a sua condição profissional. No âmbito da URDI’22, serão entregues 55 novos cartões. Vários processos continuam incompletos, mas também existem casos de artesãos que já requereram a elevação de categoria.
URDI e certificação profissional fazem parte de um pacote mais vasto de estruturação e profissionalização, que tem permitido, acredita o director do CNAD, Artur Marçal, desenvolver o sector.
“Se fizermos um estado da arte, entre o que acontecia, há uma grande discrepância, não só em termos de qualidade, mas em termos de inovação e estética. O artesão hoje tem uma consciência estética maior. A ideia de trazer o design foi precisamente para ajudar o artesão a dar mais valor ao seu trabalho. A partir do momento em que ele tem essa consciência, cria circuitos que lhe permitem expandir o seu campo de ação, não só comercial, mas também criativo”, realça.
“Da nossa parte, sentimo-nos satisfeitos com aquilo que conseguimos, embora ainda não tenhamos atingido os números projectados, mas é um processo”, acrescenta.
Esta será a primeira URDI no remodelado e ampliado CNAD. Artur Marçal nota a simbiose criada entre a Praça Amilcar Cabral e as instalações do Centro. “Um espaço de confluência, de diálogo”.
A URDI 2022 é promovida pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design e Centro Cultural do Mindelo. A primeira edição da Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde aconteceu em 2016.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1096 de 30 de Novembro de 2022.