Elida Almeida, num “lonji” cada vez com mais canções de autor

PorPaulo Lobo Linhares,4 fev 2023 8:10

Poderia começar este apontamento a sublinhar “lonji” – enquanto o último disco de uma das vozes referência da nossa música, a falar da produção do seu já habitual parceiro Hernâni Almeida ou do “formato” que a produção da Lusafrica e José da Silva terão optado já no álbum anterior - e confesso que de mais valia para o disco – em ir buscar beat-makers de outros países do nosso continente que emprestam a sua visão “áfrica de raiz e ramos abertas ao mundo/urbano” – aqui Momo Wang.

Poderia ainda falar da diversidade de ritmos que Elida escolheu para o disco ou até (aproveitando o título do disco) falar da caminhada que a jovem Elida fez para “ultrapassar dificuldades e atingir os variados palcos por onde divulga a nossa música”.

Sim tudo isso é claro.

Porém, presente em indícios do seu primeiro trabalho – para mim o puro (produção, música e a própria cantora) – já se previa o que mais abaixo focarei.

Em “Kebrada” – Elida Almeida com apenas 24 anos impressionou pela sua (já) maturidade inocente e ataque a música – sobretudo de Santiago. Em energia e nostalgia, misturavam-se sentires que a intérprete traduzia…vivíamos uma voz onde se adivinhava através de forte identidade santiaguense e africana…

Sim …santiaguense e africana…e aqui começo o que julgo ser interessante enaltecer neste “longi”: Elida é autora de mais de 80% das letras do álbum. Elida é escritora de canções que em cada disco vai mostrando que é essa a sua mais-valia a par, obviamente, da sua presença no palco. No palco traduz o que escreve…Sim, não é propriamente frequente ver uma escritora de canções - uma cantautora - que depois canta o que escreve com a energia e força imagética em palco…ainda mais com a idade de Elida.

Sempre achei interessante a maneira com que Elida c(a)onta as suas vivências, amores e desamores, lugares, pessoas que a marcaram, com destaque para a doçura que nos acostumou quando (en)canta o filho… tudo em linguagem própria, sem procurar poesia mas já tendo a que precisa.

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O caminho de Elida deverá, sim, passar pelas vozes e cantautoras do nosso continente. O caminho “lonji” devera, sim, ser enaltecido como armazém de experiência acumulada, e talvez se adivinhe ser a hora da explosão da cantautora-Elida Almeida. Não será mudar a caminhada, mas acrescentar, sim, atalhos aos caminhos que poderão (com frequência) ir lá e partilhar o seu íntimo com público e palcos outros…bem, talvez me atreva a dizer… mudar um pouco?

Encanta-me ainda neste disco – a homenagem aos (também) compositores, grupos e musicalidades que creio terem-na feito crescer. Aqui um tema de Manu Reys com quem Elida já tinha trabalhado várias vezes e a vénia – também já feita em outros álbuns – a uma das referências maiores e mais preci(o)sas da nossa música – os singulares Bulimundo no tema “Dimingo Denxo”.

Momento bastante interessante é ainda a passagem do tema “Djarmai” (composição de Elida) e logo a seguir a sonoridades afro numa composição de Manu Reys. O momento intimista e com alguma batida sincopada, canta a brisa da ilha do Maio e logo depois mais energeticamente veste o sentir de um dos compositores que desde há muito escolheu para parceiro e canta o agridoce “di kria nha mininu”. Elida consegue “encaixar” os seus compositores no repertório-Elida. Mas que o seja assim: pontual.

Assim, nos tais caminhos e atalhos, espero ver com intensidade Elida e composições suas.

Elida é (também) compositora.

Acredito que os atalhos acima referidos, com o tempo que a música ditará, virão a ser os lugares-conforto da que poderá ser uma das interessantes cantautoras de África.

… Lembro-me agora do enorme concerto de Elida, aquando da pandemia, quando lançou em formato intimista o “Gerason Nobu”. … para refletir…

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1105 de 1 de Fevereiro de 2023.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,4 fev 2023 8:10

Editado pormaria Fortes  em  6 fev 2023 8:12

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