homepage
“A Prática de Rasta Nguka em Santiago Rural”, segundo uma nota enviada às redacções, debruça-se sobre a força da competição levada a cabo pela rapaziada do meio rural santiaguense pela posse de raparigas pretendidas, por via de intensos e duros trabalhos braçais na agricultura e não só.
“Tudo o que os jovens, na flor da idade, realizavam, era avaliado, classificado e premiado. As raparigas mais cobiçadas não se davam ao luxo de se entregarem a rapazes que não conseguiam provar as suas tenacidades e os seus empenhos nos trabalhos. Pois elas destinavam-se, potencialmente, aos rapazes que mais se destacavam ao nível das atividades de sementeiras, mondas e aberturas de covas para o plantio de mandioca e batata”, explica.
Conforme a mesma fonte, a lógica subjacente era trabalhar mais para poder suplantar os rivais e, assim, poder ganhar as mulheres pretendidas. “O marido sonhado era aquele que fazia do rabo da enxada a sua caneta permanente. Quem se deixasse vencer pelo seu adversário corria sérios riscos de perder a mulher preferida ".
A mesma fonte frisou que a “demonstração de coragem e determinação" nos trabalhos era um passaporte válido para se aceder à mulher sonhada. O trabalho era considerado como uma garantia imprescindível que uma mulher prudente e ciente esperava ter do seu pretendente”.
“A dedicação ao trabalho funcionava como um indicador de que o rapaz reunia as condições necessárias para sustentar a mulher e criar os filhos. As raparigas também procuravam fazer o uso dos seus dotes para tentar seduzir o homem dos seus sonhos”, relata.
Arlindo Mendes é doutor em Antropologia pela Universidade de Pau et Pays de l’Adour (França), Mestre em Estudos Africanos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Licenciado em História pelo ISE (Instituto Superior de Educação) de Cabo Verde.
O autor é professor Auxiliar na Uni-CV; Coordenador do Projecto Investigação PIC-Bélgica (Uni-CV); Coordenador do Grupo Nacional do Trabalho do Projecto de Investigação sobre “Medicina Alternativa em Cabo Verde”, financiado pela Codesria; ex-Presidente do Conselho Pedagógico da Uni-CV; ex-Coordenador dos Cursos de Pós-graduação junto do DCSH de Uni-CV; ex-Presidente do Conselho Directivo do Departamento das Ciências Sociais e Humanas; Director da Cooperação do ISCJS e Estudos pós-graduados.
Arlindo Mendes é ainda autor de mais três livros: “Rituels Funéraires à Santiago aux îles du Cap-Vert”; “A morte em Santiago: Uma abordagem etnográfica”; e “Ritual de Apanha de Espírito em Santiago de Cabo Verde”. Ao mesmo tempo, é autor de vários artigos ligados à morte e à realidade santiaguense.
