Uma Descoberta em Tempos de Mudança
O percurso de Cláudia na arte começou durante a pandemia, um período desafiante para todos, especialmente para os artistas plásticos, que viram as suas possibilidades de exposição e venda reduzidas. A necessidade de adaptação levou muitos a reinventar-se e a explorar as redes sociais como meio de divulgação do seu trabalho.
Foi nesse contexto que Cláudia decidiu aventurar-se na pintura, explorando o seu próprio estilo, sem seguir os traços do marido.
Apaixonada pela conta de sibitch, decidiu incorporar esse elemento simbólico nas suas criações. “Um dia, resolvi que queria fazer arte, mas comecei pela decoração do meu quintal, da varanda e pela pintura de vasos. Fui partilhando o meu trabalho nas redes sociais e as pessoas começaram a gostar e a fazer encomendas. Quando percebi, já estava completamente envolvida neste universo artístico.”
Um Estilo Único e Autêntico
Foi em 2020 que Cláudia deu os primeiros passos na pintura e, em Março de 2021, realizou a sua primeira exposição, intitulada "O Lado Bom do Confinamento". O isolamento trouxe-lhe tempo para explorar a sua criatividade e reforçou a presença da arte na sua vida.
Inicialmente, optou por trabalhar com tons monocromáticos, em especial o branco e o preto, aplicando-os em telas, cerâmicas e almofadas. “Comecei por pintar vasos e, depois, aventurei-me nas bolsas, almofadas e móveis antigos, renovando-os com um brilho especial. Hoje, já tenho um horário fixo na galeria.”
O que começou como uma terapia tornou-se uma paixão profunda. “No início, a arte ajudou-me a encontrar equilíbrio, mas agora tornou-se um verdadeiro despertar. Descobri algo que sempre esteve dentro de mim e, por isso, acredito que este caminho ainda me trará muitas alegrias.”
A Conta de Sibitch como Fonte de Inspiração
Desde criança, Cláudia sentiu-se fascinada pela conta de sibitch, sem compreender bem o motivo. “A minha avó dizia que servia para proteger contra maus olhares. Esse objecto sempre me atraiu e tornou-se a base da minha identidade artística. Todos os meus trabalhos incorporam essas pequenas esferas, mesmo que de forma abstrata”.
Apesar da forte influência da simbologia preta e branca, começou a explorar novas cores ao longo do tempo. “O meu marido usa muitas cores vibrantes e sempre me perguntou porque não me aventurava mais. Aos poucos, comecei a experimentar tons diferentes e, hoje, utilizo frequentemente cinza, dourado, prateado, amarelo e, mais recentemente, azul-turquesa”.
O seu trabalho ganhou um nome: "Nha Marca" (a minha marca, em crioulo cabo-verdiano). “Onde quer que estejas, consegues identificar a minha arte. O meu estilo é único, e é isso que quero transmitir”.
Reconhecimento e Evolução
Feliz com o reconhecimento do seu trabalho, Cláudia sente-se realizada. “Tenho recebido muito feedback positivo, e as pessoas apreciam e compram as minhas obras. Todos os que visitam a minha galeria comentam que o meu trabalho é especial”.
Embora nunca tivesse pensado em seguir a arte como profissão, sempre sentiu afinidade com actividades criativas. “Desde a escola, gostava de fazer bordados e de construir brinquedos com caixas de fósforos e conchinhas. Agora percebo que sempre tive uma ligação forte com as artes”.
Actualmente, está focada no aperfeiçoamento da sua técnica. “Estou a experimentar novas cores e a refinar os meus traços. Depois de cinco anos neste percurso artístico, noto uma grande evolução no meu trabalho”.
Uma Exposição que Celebra a Criatividade Feminina
Neste momento, está patente na cidade da Praia a exposição "A Magia das Mãos", de Cláudia Sousa e Larissa Barbosa. O evento decorre na Galeria Tutu Sousa, no bairro de Terra Branca, até ao dia 30 deste mês.
A exposição insere-se na celebração do Março – Mês da Mulher, e surgiu de um convite de Cláudia à sua prima, assistente de bordo, para realizarem uma mostra conjunta.
“A nossa trajectória artística é semelhante, pois ambas começámos durante o confinamento, quando encontramos tempo para explorar novas formas de expressão. Foi daí que nasceu a ideia desta exposição”.
Para Cláudia, "A Magia das Mãos" representa a força criativa das mulheres. “Temos magia nas mãos, porque, seja em casa ou em qualquer outro trabalho, conseguimos criar coisas incríveis”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1217 de 26 de Março de 2025.