Cabo Verde, cuja selecção de xadrez, aqui fez o seu baptismo absoluto, também tem vivido, nesta última semana e meia, emoções fortes, face aos resultados desportivos e aos resultados fora dos tabuleiros.
Na componente desportiva, a primeira reacção foi de sonho e deslumbramento por estar a competir tão perto dos melhores do mundo. Depois veio a realidade e as derrotas por 4-0 nas duas primeiras rondas, primeiro com o Uruguai, que nos apadrinhou nesta aventura da internacionalização do xadrez crioulo, e depois com a Bolívia.
Na terceira ronda veio o encanto, após a vitória de 2,5 – 1,5, no jogo com Jersey, equipa oriunda do canal da Mancha. Foi um encanto histórico, pois foi a nossa estreia nas vitórias, tanto individualmente como colectivamente.
Refira-se que este encontro foi muito lusófono, pois além dos nossos jogadores, também o árbitro, o angolano Abílio Ribeiro, é falante da língua de Camões.
A seguir veio o desencanto com as derrotas, primeiro por 4-0, com os “cegos” da International Braille Chess Association (IBCA), depois por 3,5 – 0,5 com S. Marino e por 3-1, com aGuernsey, a equipa de outra Ilha do Canal da Mancha.
Mais dura de digerir, foi a derrota na passada segunda-feira, por 2,5 – 1,5, com a equipa da Suazilândia.
Ontem, na oitava ronda, o encanto veio de novo, e finalmente lá nos voltou a sorrir o sabor da vitória. Este resultado foi obtido perante o Gabão com o score de 3-1.
No total Cabo Verde já soma 4 pontos encontrando-se na 175ª. posição num total de 184 equipas.
Individualmente, os pontos registados pelos nossos bravos tubarões do tabuleiro, foram os seguintes:
António Monteiro – 1 ponto (2 empates);
Éder Pereira – 2 pontos (1 vitória e 2 empates);
Luís Barros – 3,5 pontos 83 vitórias e 1 empate);
Luís Fernandes – 2 pontos (2 vitórias).
Hoje será mais um dia de competição, o nono e a nossa selecção jogará com a Gâmbia.
A competição termina na próxima sexta-feira com a realização da 11.ª ronda.
Fora dos tabuleiros, com grande influência de Cabo Verde, foi fundada a Confederação Lusófona de Xadrez (CLX), um sonho que vinha sendo adiado há muitos anos e que terá a sua sede no nosso país.
São fundadores da CLX, devidamente representadas pelos seus presidentes, as Federações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Macau, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor – Leste.
Até 2020, a CLX será comandada por uma comissão de gestão composta pelos presidentes das federações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Portugal e Timor-Leste, que se encarregará de colocar a CLX a funcionar e com todos os registos legais.
Em 2020 serão realizadas eleições para um mandato de 4 anos, coincidindo assim o ciclo eleitoral da CLX com o ciclo olímpico e fora do ciclo eleitoral da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), exactamente para que as disputas eleitorais da FIDE não “contaminem” as da CLX.
Portanto, aqui por Batumi, há muito xadrez, dentro e fora dos tabuleiros, muitos sonhos, encantos e desencantos e acima de tudo, muita amizade.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 879 de 03 de Outubro de 2018.