Gambito Evans: 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4
Este Gambito, bastante temido no séc. XIX e que, conjuntamente com o Gambito de Rei, eram as aberturas preferidas dos xadrezistas românticos, tem em 4.b4, atacando o Bisto das pretas, o seu lance-chave. O sacrifício do peão estabelece uma luta agressiva pelo centro. Se as pretas tomarem o Bispo com 4…Bxb4, as brancas respondem com 5.c3, preparando 6.d4 para posteriormente lançar um ataque a f7.
O “inventor” do Gambito Evans foi o Capitão William Davies Evans, nascido no País de Gales em 1790 e que com apenas 14 anos, quando embarcou pela primeira vez, iniciou a sua vida no mar, tendo chegado a capitão aos 29 anos.
Grande parte da sua paixão pelo xadrez desenvolveu-se em alto mar tendo sido um dos melhores jogadores mundiais. Existe uma versão, não confirmada, que o gambito foi “inventado” por acaso. Conforme essa versão, numa viagem entre Milford Haven e Waterford, Evans tinha decidido avançar o peão para b3, mas um golpe do mar instalou o peão em b4. Depois de analisar a nova posição, Evans decidiu não rectificar o lance e assim nasceu o seu gambito.
Em 1826, em Londres, o Capitão Evans teve oportunidade de mostrar o seu gambito na partida com Mac Donnel.
Numa troca de correspondência que mantive com o Delegado da Irlanda na Federação Internacional de Xadrez por Correspondência (ICCF), o historiador de xadrez Tim Harding, vim a saber que o Capitão William Davies Evans trabalhou e viveu em Cabo Verde entre 1848 e 1852 (aproximadamente).
Segundo Harding, Evans esteve em S. Vicente ao serviço da Peninsular Packet Company ou da Peninsular and Oriental, certamente companhias britânicas que davam suporte aos vapores que passavam pelo Porto Grande.
De acordo com cartas familiares, em 1850 (talvez em Setembro), como não conseguia encontrar emprego em Inglaterra, e já com 60 anos, veio para o Porto Grande.
Em 1851, Evans certamente estava em Cabo Verde, pois existe uma carta que ele escreveu à esposa que tinha ficado em Inglaterra. Nesse ano, em virtude de se encontrar em terras crioulas, Evans não participou no grande torneio de xadrez que se realizou em Londres.
Cartas demonstram que em 1852, um dos seus filhos estaria com ele, mas como o seu estado de saúde não eram bom, regressaram a Inglaterra em Agosto desse ano. É possível que Evans tenha trabalhado cerca de 2 anos como superintendente do Porto Grande.
Grande parte destas informações foram obtidas através das cartas que Evans teve oportunidade de enviar, onde inclusivamente dava conta que uma viagem num barco a vapor entre Cabo Verde e Inglaterra durava cerca de 10 dias.
Evans morreu em Agosto de 1872.
Procurando uma partida em que fosse jogado o gambito Evans, encontrei na net, no Projecto Xadrez para Deficiente Visuais (http://www.xadrezparadv.com.br), devidamente comentada esta partida que achei que deveria partilhar convosco.
Sempre Viva é um termo poético, traduzido do alemão IMMERGRUN PARTIE, que foi aplicado por Steinitz a esta brilhante partida de xadrez jogada por Adolf Anderssen em Berlim, em 1853.
A partida começa com o Gambito Evans e desemboca numa posição jogada com brilho que muitos escritores e comentaristas de xadrez saúdam como não tendo comparação com qualquer outra.
O mestre francês, Alphonse Goetz, em sua obra CINÉMA DES ÉCHECS, escreveu que todos os amantes do xadrez deveriam conhecer esta partida de cor.
Irving Chernev é de opinião que, com início do décimo nono lance, Anderssen executou “Maravilhoso primeiro lance de uma combinação que fez história”.
Gottschall afirma que “Este lance subtil e aparentemente inofensivo (o décimo nono) é a chave tranquila dos magnificos sacrifícios que se seguem”.
O Dr. Reuben Fine considera que esta é “Uma concepção magnífica, provavelmente a mais profunda vista em prática sobre o tabuleiro”.
Adolf Anderssen era um dos melhores jogadores de xadrez de sua época e foi considerado por muitos o campeão mundial depois de vencer o Campeonato de Londres de Xadrez de 1851. Jean Dufresne foi um popular autor de livros de xadrez, era um mestre de menor importância, mas ainda assim, de considerável habilidade xadrezistica.
BRANCAS: Adolf Anderssen
PRETAS: Jean Dufresne
ECO: C52 (Gambito Evans)
Berlim, 1853
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4 Bxb4 5.c3 Ba5 6.d4 exd4 7.OO d3 8.Db3 Df6 9.e5 Dg6 10.Re1 Cge7 11.Ba3 b5 12.Dxb5 Tb8 13.Da4 Bb6 14.Cbd2 Bb7 15.Ce4 Df5 16.Bxd3 Dh5 17.Cf6+ gxf6 18.exf6 Tg8 19.Tad1
9.Tad1: lance subtil, preparatório de uma das mais geniais combinações
19…Dxf3 ameaçando o mate no lance seguinte. 20.Txe7+ Cxe7 21.Dxd7+ Rxd7 22.Bf5+ xeque duplo do bispo em f5 e da torre em d1. As duas peças que estão dando xeque ao rei não tem defesas, mas, obviamente, nas circunstâncias não podem ser eliminadas. 22…Re8
[se 22...Rc6 23.Bd7# ]
23.Bd7+ Rd8 24.Bxe7#
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 896 de 30 de Janeiro de 2019.