Isto acontece, porque na realidade, o desporto não é em certa medida encarada com uma ferramenta nuclear para o desenvolvimento social. O fenómeno do desporto é normalmente visto como um meio de projeção internacional e é dedicado o seu financiamento em grande maioria às atividades das federações nacionais na execução das suas participações internacionais. Nestes países normalmente o orçamento geral para o desporto ronda à volta do 1 a 2% do Orçamento Geral do Estado.
Para encontrar um indício da falta de desenvolvimento, basta ler os currículos escolares para encontrarmos logo a referência que “a Educação Física e o Desporto Escolar tem como objetivo a educação do Físico…”. Nada é mais desanimador quando a política de desenvolvimento das competências a serem pelos cidadãos estes subsistemas do desporto e os currículos escolares estão ao nível da visão europeia de 1920 (que muito já se encontra debatida e ultrapassada).
Estudos mostram que está a emergir um “círculo vicioso” em resultado do subdesenvolvimento do desporto nos países em desenvolvimento, em que o menor investimento no desporto diminui o potencial para os atletas construírem o seu talento. Isto significa também que há menos perspetivas para os atletas continuarem a sua formação desportiva ou prosseguirem carreiras desportivas profissionais nestes países. Por sua vez, a falta de oportunidades de desenvolvimento de talento conduz a um menor retorno do pouco investimento colocado no talento local. Isto vai debilitar ainda mais as estruturas de desenvolvimento desportivo local e as carreiras desportivas.
Os países menos desenvolvidos são incapazes de utilizar o talento dos seus atletas e/ou tendem a perdê-los para nações mais poderosas no desporto global. O desporto regulado por processos globais pode contribuir para o subdesenvolvimento do talento de um destes países.
Daqui, surge o fenómeno da “drenagem muscular” (que foi considerada comparável à “fuga de cérebros”). Os atletas dos países em desenvolvimento fornecem talento aos mercados dos países industrializados. Por exemplo, no futebol, as elevadas taxas de transferência que os jogadores europeus podem exigir dos clubes criaram uma alternativa muito mais barata — a importação de jogadores de países em desenvolvimento.
Nestes países, os jogadores ou estão inscritos em clubes oficiais ligados à associação nacional de futebol, ou jogam para associações desportivas não filiadas. Para os jogadores não filiados, a sua única hipótese de obter um acordo de transferência internacional é através das redes informais e muitas vezes clandestinas de agentes de jogadores, formando um mercado de trabalho subterrâneo no futebol.
É possível que a situação do jogador não melhore à chegada a um país europeu — no pior dos casos, os jogadores com menos de 18 anos e que não têm sucesso em ser recrutado para uma equipa europeia. Muitas vezes encontram-se sem contrato de trabalho e mesmo sem bilhete de regresso ao seu país de origem.
As associações de futebol também não recebem o pagamento pela transferência internacional de jogadores não filiados. As taxas de transferência de jogadores estrangeiros de países em desenvolvimento para clubes europeus são tão baixas que mal cobrem os custos de educação e formação do jogador transferido no seu país de origem.
Este ciclo, que usa a falta de formalização e a falta de políticas públicas na área do desporto. Um país que não considera o desporto como um elemento essencial para o desenvolvimento nacional tem consequências ao nível da cidadania demasiado elevada para um país em vias de desenvolvimento.