Prevista para se realizar na Rússia em 2020, teve de ser adiada devido à pandemia da COVID-19.
Já com a pandemia minimamente controlada e depois de vários adiamentos, finalmente foi marcada a data do maior evento mundial de equipas nacionais de xadrez. Final de Julho e princípio de Agosto de 2022, foram as datas escolhidas para Moscovo receber a Olimpíada.
Mas como uma degraça nunca vem só, no início do ano, a Rússia invadiu a Ucrânia começando uma guerra sem fim à vista. Imediatamente, a FIDE (Federação Internacional de Xadrez), seguindo a linha de sanções impostas ao invasor, cancelou a realização da competição na capital russa.
Sem cidade acolhedora da Olimpíada, temeu-se mais um adiamento. No entanto, parece que o feitiço foi quebrado, aparecendo a Índia com vontade de realizar o evento na sua cidade de Chennai. A intenção indiana foi aceite pela FIDE e a 44.ª Olimpíada de Xadrez foi marcada para se realizar de 28 de Julho a 10 de Agosto de 2022, na cidade onde Magnus Carlsen, em 2013, arrebatou a Viswanathan Anand o título de campeão mundial, que ainda detém.
Escolhido o local, começaram-se a fazer os planos para marcar presença nesta Olimpíada.
O elevado preço das viagens começava por ser o primeiro grande obstáculo para a participação de Cabo Verde nesta grande festa do xadrez mundial.
Depois da nossa primeira participação numa Olimpíada de xadrez, em 2018, na Geórgia, e só com uma equipa na secção OPEN, projectamos, este ano, elevar a fasquia e levar também uma equipa feminina. Para isso, realizou-se o 1º Campeonato Nacional Feminino, com a finalidade de encontrar as atletas que formariam a primeira selecção nacional feminina de xadrez.
A equipa OPEN já estava seleccionada através do Nacional Absoluto já realizado. Seleccionados os atletas que nos representariam, iniciamos uma odisseia que começava em arranjar financiamento para suportar esta operação Chennai 2022.
Embora em determinada altura estivesse em risco a participação da equipa feminina, devido às questões financeiras, nunca se baixaram os braços e com o apoio da FIDE, lá conseguimos esticar a corda que nos permitiu adquirir as passagens necessárias para ir à Índia.
Mas a odisseia continuava, pois era necessário garantir os vistos de entrada na Índia para toda a comitiva e suportar os respectivos custos.
Conseguidos os vistos, era necessário arranjar solução para que todos os jogadores fizessem testes PCR já que os certificados cabo-verdianos de vacinação à COVID, não são aceites na Índia. Era também necessário providenciar para que 5 menores da comitiva tivessem autorização dos progenitores para poderem viajar.
Finalmente, no final do dia 26 de Julho, a comitiva reuniu-se na Praia, mais concretamente no Aeroporto Nelson Mandela, iniciando a odisseia da viagem.
Já passava das 20:30 horas locais do dia 28 quando aterramos em Chennai.
A competição iniciou-se logo no dia seguinte, às 15:00 horas locais e prolongou-se até o dia 9 de Agosto.
A nossa equipa OPEN iniciou a sua participação defrontando a Argentina, seguindo-se-lhe Fiji, República Dominicana, Trinidade e Tobago, Santa Lucia, Luxemburgo, Guyana, Argélia, Bahamas, Kuwait e Líbano, obtendo 9 pontos no total e classificando-se em 134.º lugar enre 188 participantes. A nível individual, o Mestre Mariano Ortega foi o nosso melhor jogador, terminando invicto (9 vitórias e 1 empate), sendo o melhor jogador da categoria D; David Mirulla, único totalista obteve 5 pontos em 11 possíveis, o suficiente para obter condicionalmente o título de Candidato a Mestre. Gil Teixeira (2,5 pontos em 10 possíveis), Célia Guevara (1,5 pontos em 9) e Aires Fortes (sem pontuar em 4 partidas), foram os retantes jogadores da equipa OPEN.
A equipa feminina fez a sua estreia internacional com a Finlândia, seguindo-se-lhe Porto Rico, Serra Leoa, Hong Kong, Costa do Marfim, Somália, Jersey, Laos, Camarões, Togo e Bhutan. Entre 162 equipas ficou em 149.º lugar com 6 pontos.
A nível individual destacou-se Juliana Monteiro, a única totalista, que conseguiu 6 pontos e, condicionalmente, o título de WCM (Candidata a Mestre Feminina). Jacira Almeida (3,5 pontos em 10 possíveis), Divânia Spínola (2,5 em 9), Akiane Moreno (1,5 em 6) e Katlene Martins (1 em 8), foram as restantes atletas desta jovem equipa que se apresentou com uma média de idades de 15 anos.
Terminada a competição e vista a Cerimónia de Encerramento era hora de arrumar as malas e iniciar a viagem de regresso, outra odisseia, considerando o número de horas de voo e de espera nos aeroportos de escala.
Logo no início da madrugada da passada sexta-feira, dia 12, aterramos na Praia e quando julgamos ter terminado a odisseia, eis que o Mestre Mariano Ortega era barrado na fronteira, só lhe sendo permitido entrar no país depois de pagar uma taxa. Isto tudo porque há quase um ano que está à espera que lhe renovem a Autorização de Residência.
A inoperância de quem renova e a prepotência de quem controla, todos da mesma casa, originou a que o Mestre Mariano Ortega fosse impedido de entrar no país que tão bem representou. Só depois de pagar a referida Taxa é que o Campeão Africano da zona 4.2 pôde entrar no pais que tão bem tem representado. Uma situação rídicula e vergonhosa que se lamenta constar nesta odisseia que foi a nossa participação na 44.ª Olimpíada de Xadrez, realizada na Índia.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1081 de 17 de Agosto de 2022.