De acordo com o relatório sobre o endividamento dos países africanos, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, este valor representa uma subida de 7,4% face aos 53 mil milhões de dívida emitida no ano passado e comprova que a crise dos preços das matérias-primas, iniciada em 2014, continua a afectar fortemente estas economias dependentes dos recursos naturais para equilibrarem os orçamentos.
“Esta subida reflecte o aumento das emissões planeadas pelos maiores emissores, do ponto de vista histórico, [que são] África do Sul e Angola”, lê-se no documento, que aponta que, no caso do país lusófono, o endividamento “deve-se parcialmente a grandes amortizações previstas para 2018”, enquanto na África do Sul a subida explica-se pela “fraca trajectória orçamental”.
Nos restantes, aponta o documento, as necessidades de financiamento vão manter-se relativamente estáveis, o que “reflecte um equilíbrio entre o ambiente ligeiramente mais favorável no mercado das matérias-primas e o aperto nas condições de financiamento decorrente da normalização da política monetária norte-americana”.
No total africano, a S&P espera que o ‘stock’ de dívida comercial chegue a 392 mil milhões de dólares no final deste ano e que o total (incluindo a concessionai, a preços mais baixos do que os de mercado) atinja os 514 mil milhões de dólares.
Os analistas da S&P dizem que Angola tem o maior rácio de ‘dívida rolante’ face ao PIB, cerca de 36%, o que significa que é o país que tem mais dívida a atingir a maturidade, o que geralmente é resolvido recorrendo a emissões de dívida de curto prazo para pagar dívida de longo prazo.
Na análise dos países da África subsariana, a agência de ‘rating’ diz que a África do Sul vai emitir 18,7 mil milhões de dólares este ano, o que representa uma subida de 7,8% face ao ano passado, e Angola será a segunda maior emissora de dívida este ano: 15,9 mil milhões de dólares, uma subida de 26,5% face a 2017.
O relatório da S&P surge em linha com as preocupações repetidamente manifestadas pela directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, que admitiu numa entrevista recente que 2018 pode ser o ano em que o problema da dívida vai explodir em África.
Numa entrevista à revista electrónica Quartz, Lagarde, quando questionada sobre o perigo de o problema da dívida explodir em 2018, respondeu: “Pode muito bem ser”.
Para a líder do FMI, “o que pode desencadear esses sérios desenvolvimentos é, na verdade, as melhorias nas economias avançadas, nomeadamente a valorização de algumas moedas e o aperto da política monetária norte-americana e talvez na zona euro, que tornam o fardo da dívida mais pesado nalguns países.