Cabo Verde (cada vez) menos competitivo

PorAndre Amaral,27 out 2019 8:59

Depois de ter caído 6 posições em 2018 (passando da posição 105 em 2017 para 111 em 2018), em 2019, Cabo Verde cai uma posição no GCI e passa para a posição 112, num universo de 141 economias avaliadas.

Cabo Verde melhorou a sua pontuação no Ranking Global da Competitividade e conseguiu 50,8 pontos na classificação final (no ano passado tinha conseguido 50,2). 

No entanto isso não foi suficiente para impedir a descida do país na classificação. A ocupar o 112º lugar do ranking, Cabo Verde foi ultrapassado pelo Gana que subiu, num ano, cinco posições. 

Segundo o documento divulgado pelo Fórum Económico Mundial, estabilidade macroeconómica e saúde são os sectores onde o país tem o melhor desempenho sendo a dimensão do mercado e a capacidade de inovação os principais constrangimentos a um melhor desempenho do país.

A queda, explica Luís Teixeira, coordenador da Unidade para a Competitividade, deve-se às reformas que o governo tem vindo a fazer desde que entrou em funções. 

“Nós estamos a realizar uma série de reformas que vão levar o seu tempo a ter impacto. Algumas já estão implementadas, outras estão em curso e são todas de médio a longo prazo”, explica Luís Teixeira. 

Aquele responsável, ouvido pelo Expresso das Ilhas, acrescenta que “algumas dessas reformas estão a ser feitas dentro dos próprios ministérios” e que “a subida de escalão é uma maratona e nós estamos num país que não tem o hábito de fazer reformas”. 

Luís Teixeira garante que este processo de reformas que está em curso vai em breve produzir resultados e “trazer uma nova experiência e um novo modus operandi de fazer reformas. É com isso que estamos mais preocupados e não com correr atrás de pontuação”. 

A subida do Gana, que além de ter avançado cinco lugares passou a ocupar o lugar que antes pertencia a Cabo Verde, é explicada com o resultado das reformas implementadas. “O Gana já está a ganhar este hábito de fazer reformas. Nós não temos isso. Estamos a construir, estamos a criar um momento de fazer reformas e vamos estar, daqui a dois ou três anos em subida”, concluiu. 

Pequena dimensão do mercado 

Numa outra análise, José Luís Neves, Secretário-geral da Câmara de Comércio de Barlavento, destaca que o Fórum Económico Mundial “considera que o maior constrangimento para a competitividade da economia nacional é a pequena dimensão do mercado” e a solução pode passar pela “resolução dos constrangimentos relacionados com os transportes aéreos e marítimos para unificar o mercado”. Um caminho que tem sido apontado “como um dos maiores desafios a vencer. Recebemos uma boa avaliação a nível da qualidade das infraestruturas rodoviárias, mas o relatório penaliza-nos muito a nível da conectividade aeroportuária e das linhas marítimas, da eficiência dos serviços de transportes aéreos e dos serviços portuários, o que nos leva a depreender que a questão dos transportes aéreos e marítimos em Cabo Verde é muito mais do que ter barcos e aviões (sejam, 2, 5 ou 11 aviões). Temos, portanto, de analisar se o modelo de reestruturação dos transportes aéreos (internos e internacionais) e marítimos adoptados o que favorece a melhoria desses serviços e a competitividade do sector, a nível dos preços, dos custos para os operadores económicos, da unificação do mercado e de uma maior circulação de pessoas e bens entre as ilhas e entre o País e o mundo. Assim como sobre o modelo de economia de mercado, das políticas de privatizações e do papel das autoridades reguladoras independentes numa pequena economia aberta, fragmentada em ilhas e onde as falhas de mercado tendem a ser maiores”.

O relatório do Fórum Económico Mundial aponta também que as “Pequenas e Médias Empresas (PMEs) tem enormes dificuldades de acesso ao financiamento aliada à fraca solidez dos bancos e a uma enorme carteira de crédito malparado. O elevado nível de burocracia pública, as enormes dificuldades para arrancar um negócio, os constrangimentos a nível de resolução de insolvência, uma fraca cultura empresarial e de assumpção de riscos, da inovação empresarial, da ciência, da investigação e do desenvolvimento são outros constrangimentos, que juntamente com a baixa taxa de subscrição de internet de fibra e de banda larga, o fraco desempenho na governança corporativa, com enormes conflitos de interesse com a regulação, fraca prestação de contas e fraca participação dos accionistas na gestão empresarial penalizam fortemente o ambiente de negócios e o dinamismo empresarial”.

“Tenho defendido que o foco no desenvolvimento da iniciativa empresarial em Cabo Verde, sem descurar a promoção e a atracão de grandes investimentos empresariais (mormente o investimento directo estrangeiro) deve ser colocado na construção de Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) sólidas, sustentáveis e solidárias, na sua capacitação empresarial, assistência técnica, acesso ao financiamento, certificação de qualidade e na promoção da sua competitividade junto do Sector do Turismo. A evidência empírica demonstra que o crescimento económico e o grosso dos empregos nas economias são promovidos pelas MPMEs”, aponta José Luís Neves. 

Quanto ao mercado de trabalho, o Fórum Económico Mundial considera que ainda existem enormes desafios relacionados “com o nível médio de escolaridade da força de trabalho, com a qualificação dos trabalhadores, com a criação de competências cruciais para o nosso desenvolvimento, e a nível de um melhor relacionamento entre trabalhadores e empregadores e da elevação do nível de confiança nos gestores de topo”. “Temos um País, onde as autoridades competentes “festejam” a redução da taxa de desemprego, sem se questionar para onde foram aqueles que o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) contabiliza como deixando de estar desempregados – se passaram a estar empregados, se emigraram, ou se deixaram de procurar empregos e estão inactivos e desencorajados. Entretanto, o País precisa reflectir sobre a forte destruição líquida de empregos (menos 15.000 empregos em 2 anos), redução drástica da participação da população economicamente activa no mercado de trabalho (menos 25.000, nos últimos dois anos), ao elevado desemprego jovem (18,7% em 2018) e ao crescimento da inactividade (mais 37.000 nos últimos dois anos) e sobre o crescimento da precariedade no mercado de trabalho”, diz ainda José Luís Neves.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 934 de 23 de Outubro de 2019. 

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Autoria:Andre Amaral,27 out 2019 8:59

Editado porAndre Amaral  em  14 jul 2020 23:21

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