Ao Expresso das Ilhas, Tiago Dionísio, da Eaglestone, realça os esforços do executivo para aumentar o nível de receitas e controlar as despesas, a par do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
“Os esforços de consolidação orçamental deverão continuar nos próximos tempos, juntamente com a implementação de reformas nas empresas públicas, nomeadamente aquelas que continuam a precisar de injecção de dinheiro do orçamento do estado”, recomenda.
O Orçamento de Estado para 2020 (OE 2020) prevê uma redução da dívida pública para os 118%.
“Um serviço da dívida elevado significa que o governo terá que alocar mais recursos ao pagamento dessa dívida, em detrimento de investir noutras áreas que possam ser importantes para o desenvolvimento do país e para o bem-estar da sua população”, recorda o consultor.
Perto de 75% da dívida pública cabo-verdiana é externa, contratada junto de credores multilaterais, como o Banco Mundial ou Banco Africano de Desenvolvimento, em condições financeiras concessionais. Para Tiago Dionísio, este factor contribui para a redução do risco de incumprimento.
“É um cenário que nunca se pode colocar de parte. No entanto, o facto de a maior parte da dívida de Cabo Verde ser dívida contraída junto de multilaterais, com condições que normalmente são relativamente menos onerosas do que as dos empréstimos comerciais, reduz a possibilidade desse cenário se materializar”, explica.
No último fim-de-semana, a Eaglestone alertou para a preocupação do Fundo Monetário Internacional face ao aumento generalizado de endividamento dos países africanos, aproximando-se do nível registado no início do século.
No seu conjunto, a dívida pública da África subsariana deverá manter-se estável em 2020, pouco acima dos 50% do PIB, valor que, contudo, não espelha a realidade de alguns países, entre os quais três lusófonos - Cabo Verde, Angola e Moçambique - com um rácio de dívida igual ou superior ao total de riqueza produzida.
“Alguns dos principais riscos ou desafios para Cabo Verde surgem do facto do país ser uma economia pequena e pouco diversificada, várias empresas públicas apresentarem uma situação financeira algo frágil e a necessitar de ajuda pública, e o país ser vulnerável a desastres naturais ou outros choques exógenos”, analisa o consultor Tiago Dionísio.
No OE 2020, além da dívida pública nos 118%, o governo estima um crescimento do PIB entre 4,8% e 5,8% e uma inflação em torno de 1,3%.