Se todos os projectos forem concluídos, a cidade do Mindelo conhecerá, num futuro não muito longínquo, um aumento exponencial do número de camas disponíveis. Entre a Marginal e a Lajinha, cinco novos empreendimentos hoteleiros estão em construção ou em vias de iniciar os trabalhos.
Vamos por partes. No espaço de 200 metros, na avenida marginal da cidade, de ‘cara’ virada para a baía, estão a nascer, em diferentes fases de obra, o Ouril Hotels, o Hotel Cruzeiro e o Hotel Maria do Carmo. Para a praia urbana da Lajinha estão previstos os imponentes Golden Tulip e Sheraton.
No conjunto, os investimentos significarão um aumento considerável da oferta hoteleira, um dos ‘calcanhares de Aquiles’ do turismo em São Vicente.
Os investimentos são liderados por empresários nacionais, sozinhos ou em parceria com investidores externos, e deles resultarão mais de mil novas camas.
Golden Tulip
O quatro estrelas superior Golden Tulip Hotel, que integrará a cadeia internacional Louvre Hotels, é promovido pela Matiota Investimentos. Alexandre Novais, um dos promotores, explica que, numa primeira fase, a unidade terá 169 quartos, com possibilidade de expansão até 214.
“Foi desenhado em termos standard para cinco estrelas, mas por opção comercial do grupo vai ser aberto em quatro estrelas [superior], para poder deixar a possibilidade de extensão, uma margem de crescimento em que o próprio hotel passa de quatro para cinco estrelas ou a construção de um outro hotel aqui ou noutra ilha”, explica.
O hotel, que obrigará à deslocalização da actual Alfândega, será servido por restaurante, bar e um centro de conferências, com capacidade para 600 lugares. Mobiliza um investimento total de 30 milhões de euros (mais de 3 milhões de contos). As máquinas começarão a trabalhar nos próximos meses, quando estiverem cumpridas todas as formalidades exigidas. Se os prazos forem respeitados, poderá abrir portas até final de 2021. Durante a fase de obra, criará 250 postos de trabalho. Em exploração, poderão ser criados até 300 empregos directos.
Four Points
Não longe, na zona ocupada pela Feira Internacional de Cabo Verde – que está de malas feitas para o Parque Industrial do Lazareto – será construído o Four Points by Sheraton. A unidade hoteleira vai colocar Mindelo na rede global do grupo norte-americano Marriot, que explora cerca de 7 mil hotéis em todo o mundo.
O Four Points terá 128 quartos (de acordo com o site oficial da Marriott International), piscina, bares, restaurantes, beach bar, entre outras valências. Inauguração prevista para 2022.
Ouril
Entre a Vivo Energy e a Polícia Judiciária, numa área de 1.800 metros quadrados, está a nascer a mais nova aposta da Ouril Hotels, marca do grupo nacional Mendes & Mendes, já com dois outros hotéis: Ouril Pontão, na cidade de Santa Maria, no Sal, e Ouril Boa Vista, na cidade de Sal-Rei.
Serão 117 quartos, com 236 camas. A oferta deste quatro estrelas completa-se com espaços de restauração e uma sala de conferências para 300 pessoas.
As obras já arrancaram, prolongando-se ao longo deste ano. A abertura está calendarizada para o início de 2021 e de acordo com o promotor, Manuel Mendes, o negócio hoteleiro será complementado com outros serviços.
“Contamos, já na abertura, ao nível do grupo Mendes & Mendes, apostar no rent-a-car, que já está a operar, ainda devagarzinho. Temos também a Clamtour [que organiza passeios turísticos]”, avança.
A abertura do hotel da marca Ouril deverá criar uma centena de postos de trabalho.
Maria do Carmo
Mais avançado, prestes a entrar na fase de acabamentos, o Hotel Maria do Carmo, erguido paredes-meias com o Ministério da Economia Marítima, representa um investimento de 300 mil contos, realizado pela Spencer Construções e Imobiliária.
De quatro estrelas e com 120 camas, o empreendimento deve ficar concluído em Agosto deste ano.
“É um hotel com 63 quartos, vai ter dois restaurantes, um bar e uma casa de chá, para além de todas as outras componentes normais, incluindo piscina e salas de reuniões”, detalha o administrador da promotora, João Spencer.
“Logo no arranque, vamos ter entre 50 a 60 pessoas, dependendo do desenvolvimento do negócio, esse número poderá vir a aumentar, porque vamos incluindo outras funções, como spa e pastelaria”, acrescenta.
Cruzeiro
Um pouco mais acima, na ex-Praça Doutora Maria Francisca – popularmente conhecida por Pracinha dos Namorados – e também em fase avançada de construção, está a nascer o futuro Hotel Cruzeiro, propriedade da Fonseca & Santos, dotado de 70 quatros, correspondentes a 140 camas, resultado de um investimento de 460 mil contos.
Manuel Fonseca, o investidor, fala de um espaço multiuso.
“Tem a parte de hotelaria, vai ter uma área comercial de cerca de 800 metros quadrados, que vamos ter que viabilizar, e terá uma parte da Fonseca & Santos [loja de informática]”, antecipa.
O projecto inicial não incluía a componente hoteleira. A alteração ocorreu depois de uma avaliação do mercado.
“Era para ser um edifício só com escritórios e parte comercial, mas depois, pondo os pés na terra, vendo a nossa realidade, não haveria viabilidade para tantos escritórios e espaços comerciais. Acabou por ter mais dois pisos do que o projecto inicial”, esclarece.
Confiança na economia
Para o presidente da Câmara de Comércio de Barlavento (CCB), o reforço da oferta hoteleira são-vicentina vai contribuir para a melhoria da imagem da ilha, traduzindo um “sinal de confiança” na economia.
O representante dos empresários da região norte destaca a qualificação do destino turístico.
“Dinâmica gera dinâmica. Com o início desses projectos, outros operadores, eventualmente, sentir-se-ão mais encorajados para fazerem a sua aposta. Para já, vai haver algo extremamente importante, que é o aumento da capacidade de acolhimento. É um aumento bastante significativo”, releva.
Com a abertura de novos hotéis de quatro estrelas, o presidente da CCB antecipa um incremento do turismo urbano de alto valor acrescentado.
“No fundo, dar corpo àquilo que é o projecto ainda meio difuso da ‘Riviera Atlântica’, com características de sofisticação, aproveitando aquilo que é a dimensão urbana e cosmopolita da ilha”, sustenta.
Belarmino Lucas estima que o aumento da oferta de camas induza um aumento da procura, o que se poderá traduzir na melhoria das ligações aéreas de e para o Aeroporto Cesária Évora.
“O aumento de camas e o expectável aumento dos fluxos turísticos, à partida, vão exercer uma pressão maior sobre os operadores aéreos, que se verão na necessidade, aqueles que já operam, de aumentar as suas frequências. Previsivelmente, também irá atrair outros operadores”, considera.
O líder associativo destaca a importância dos investimentos em curso e faz votos de que os promotores possam beneficiar de todas as condições para a sua concretização.
*com Fretson Rocha
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 946 de 15 de Janeiro de 2020.