150 mil milhões de euros para relançar relações Europa-África

PorNuno Andrade Ferreira,26 fev 2022 8:23

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Sexta cimeira União Europeia-União Africana lançou as bases para um novo modelo de cooperação entre os dois blocos. Cabo Verde quer aproveitar oportunidades e submeter projectos elegíveis.

Adiada pela pandemia, a sexta cimeira União Europeia-União Africana aconteceu finalmente no final da semana passada, em Bruxelas. Com a participação de perto de 70 delegações, a reunião teve lugar quase cinco anos depois do último encontro do género.

Dos dois dias de trabalho, organizados em formato de mesas redondas, saiu o compromisso de construir uma visão conjunta para o horizonte 2030 e mais além. Num momento em que as partes procuram clarificar o quadro geral de relações para os próximos anos, virando a página ao Acordo de Cotonou, que orientou a cooperação ao longo de duas décadas, até 2020, os líderes europeus ouviram os homólogos africanos pedir uma “parceria” e não apenas mais “ajuda”.

Isso mesmo frisou Makcy Sall, chefe de Estado senegalês e presidente em exercício da União Africana (UA).

“É preciso um novo estado de espírito nas relações euro-africanas, baseado numa verdadeira visão de parceria, e não apenas uma relação baseada na ajuda”, referiu.

O principal resultado material da cimeira é o pacote financeiro, Global Gateway Africa, no valor de 150 mil milhões de euros, a serem aplicados nos próximos sete anos, a partir de cinco eixos estratégicos: acelerar a transição verde, promover a transformação digital, apostar no crescimento sustentável e trabalho digno, fortalecer os sistemas de saúde e melhorar os níveis de educação e formação.

Uma das linhas fundamentais do Global Gateway é o envolvimento conjunto da chamada “Equipa Europa”, que compreende a própria União Europeia (UE), os Estados-membros e instituições financeiras, como o Banco Europeu de Investimento.

No encerramento da cimeira UE-UA, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembrou que este é o tempo de mostrar resultados.

“Chegou o momento de transformarmos a nossa visão comum em realidade. Na Europa, a Global Gateway dá resposta a esta situação. A Europa nunca antes teve uma estratégia de investimento global e nunca antes apresentámos um pacote tão importante e ambicioso com África. Trabalharemos em conjunto a partir de amanhã para desenvolver projectos estratégicos com impacto transformador”, desafiou.

Solidariedade, segurança, paz, desenvolvimento sustentável e prosperidade são os motes mais vastos da renovada parceria. Além do envelope financeiro, saíram do encontro de alto-nível compromissos gerais a outros níveis, como a resposta na origem ao fenómeno migratório ou o respeito pelo multilateralismo.

Na resposta imediata à covid-19, Bruxelas promete mobilizar 425 milhões de euros para acelerar o ritmo de vacinação nos países africanos, incluindo apoio logístico e técnico à distribuição e aplicação de doses dos imunizantes contra o SARS-CoV-2.

À margem da cimeira, a Organização Mundial da Saúde, com o apoio da UE, anunciou que Egipto, Quénia, Nigéria, Senegal, África do Sul e Tunísia receberão, nos próximos meses, laboratórios móveis especiais, com capacidade para produção de vacinas mRNA.

Cabo Verde

A comitiva cabo-verdiana chegou à capital belga convencida da importância da jornada de trabalho, que acreditava ser “uma ocasião para as duas partes discutirem as suas relações, considerando a experiência adquirida na gestão da crise [da covid] e com os olhos postos no que poderão fazer, tanto para vencer a pandemia, como para a retoma económica e, ainda, para uma melhor preparação para o futuro, de um modo geral”.

No regresso a casa, em declarações à DW, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, explicou que a cimeira marcou mesmo o início de uma nova era nas relações intercontinentais, pautadas por uma maior cumplicidade.

“Estamos a falar de intervenções com impacto na transformação estrutural nas economias dos países a nível da transição energética, da transformação digital, de conectividades, investimento nas pessoas, saúde, educação, conhecimento, tecnologia. E, curiosamente, são áreas e matérias que para Cabo Verde encaixam como uma luva. São áreas do nosso interesse estratégico”, analisou à rádio pública alemã.

A mesma visão é partilhada pela embaixadora da União europeia em Cabo Verde. Carla Grijó, que esta sexta-feira será convidada do Panorama 3.0, da Rádio Morabeza, antecipou ao Expresso das Ilhas a sua avaliação de uma “cimeira produtiva”.

“O grande desafio para Cabo Verde é sempre o da sua escala. Quando estamos a falar destes grandes projectos, temos que encontrar uma abordagem que permita a Cabo Verde usufruir deste paradigma. Uma abordagem que aqui na Delegação temos estado a procurar incentivar é a de valorizar o grande activo que Cabo Verde tem no facto de ter estabilidade política e social e ter instituições sólidas, que permitem que o país esteja, muitas vezes, um pouco mais maduro que outros países da região para começar um determinado projecto, que depois pode ser replicado, expandido ou adaptado a outros países”, acredita.

Na nota de enquadramento da participação cabo-verdiana na cimeira EU-UA, o governo garante que “fará tudo” para beneficiar dos fundos que serão disponibilizados no âmbito do Global Gateway Africa, “identificando projectos elegíveis”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1056 de 23 de Fevereiro de 2022.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,26 fev 2022 8:23

Editado porDulcina Mendes  em  13 nov 2022 23:28

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