“A empresa está muito entusiasmada, é a primeira operação de concessão de aeroportos que vai ter em África, e, portanto, estamos muito contentes”, afirmou à Lusa Thierry Ligonnière, presidente da comissão executiva da ANA Aeroportos de Portugal e membro do conselho de administração da Vinci Aeroportos.
O responsável falava à agência Lusa na cidade de Santa Maria, ilha do Sal, onde está a participar na 4.ª edição do fórum de investimento de Cabo Verde, país onde disse que a Vinci viu um “potencial” e quer dar o seu contributo com conhecimentos operacionais, técnicos e comerciais.
“E contribuir para relançar a máquina económica, o turismo, com a gestão dos aeroportos”, enfatizou, apontando ainda a visibilidade e estabilidade de Cabo Verde como outros dos motivos que levaram a empresa a apostar na concessão.
“Partilharmos também uma visão a longo prazo e termos um contexto favorável para desenvolver o negócio”, continuou, entendendo que a visão que o Governo tem em relação ao desenvolvimento turístico sustentável corresponde à visão de desenvolvimento da Vinci.
Neste sentido, disse que há um potencial para um “excelente trabalho” em conjunto, para desenvolver o turismo e a economia de uma forma sustentável.
Após a assinatura do contrato, ainda em data a anunciar, o representante disse que a Vinci vai começar a trabalhar com as pessoas, integrar os funcionários na nova estrutura e continuar a fazer o desenvolvimento das rotas.
“E uma primeira fase de investimento, obviamente, que começa logo no início da concessão”, perspectivou a mesma fonte, garantindo que os trabalhadores da empresa estatal Aeroportos e Segurança Aérea (ASA) serão os primeiros a conhecer o projecto de concessão por 40 anos, que prevê a integração de até 382 dos actuais 511 funcionários.
“É uma coisa que estamos muito habituados, integrar várias empresas, foi o caso, por exemplo, dos aeroportos de Portugal, e sempre o pessoal é transferido na nova estrutura, mantendo todas as suas condições”, garantiu, entendendo ser “normal” algumas dívidas.
“Não há razão nenhuma de ter preocupações, este é um projecto que nós vamos construir em conjunto, e um sucesso que nós vamos construir em conjunto, para a empresa, para Cabo Verde e para a população, para o turismo, para os ‘stakeholders’, para as companhias aéreas”, reforçou a responsável, nesta que é a sua primeira vez no arquipélago desde o anúncio da concessão, em 04 de Maio.
O membro do conselho de administração da Vinci Aeroportos disse que a empresa tem objectivos ambientais “muito ambiciosos” em todas as concessões e garantiu que vai ser o caso também em Cabo Verde. “As questões ambientais estão no coração da nossa estratégia e é uma licença para podermos operar”.
Após o anúncio da atribuição da concessão têm surgido algumas críticas, sobretudo dos partidos da oposição e sobre o ajuste directo, com Thierry Ligonnière a escusar a fazer comentários, dizendo apenas que o Governo de Cabo Verde tem as suas razões por ter escolhido a Vinci, a maior operadora de aeroportos privados em todo o mundo.
“E visto o trabalho que tem feito nas outras geografia, provavelmente era o melhor actor para ser um parceiro de desenvolvimento dos aeroportos de Cabo Verde, e estamos muito felizes que isto tenha acontecido”, respondeu, garantindo que os cabo-verdianos “podem contar” com a Vinci, que está “muito motivada” para trazer todas as suas competências para o arquipélago.
A concessão prevê que ANA - Aeroportos de Portugal tenha 30% das participações na Cabo Verde Airports, sociedade de direito cabo-verdiano que já foi criada para celebrar o contrato de concessão, que deverá acontecer nos próximos seis meses, em que Thierry Ligonnière será um dos administradores.
O contrato prevê o pagamento da concessionária ao Estado de Cabo Verde de 80 milhões de euros iniciais, entregue em duas tranches. A primeira parcela, de 35 milhões de euros, na data de início da concessão e os restantes 45 milhões de euros quando registar recuperação do tráfego registado em 2019 ou no primeiro trimestre de 2025.
O grupo Vinci terá ainda de pagar anualmente uma percentagem das receitas brutas ao Estado de Cabo Verde, de 2,5% de 2022 a 2041, de 3,5% de 2042 a 2051 e de 7% de 2052 a 2061.
Após a assinatura do contrato de concessão, iniciar-se-á um período de transição de seis meses, estando o grupo Vinci obrigado a pagar uma caução ao Estado de dois milhões de euros.
A concessão prevê ainda um total de investimento por parte do grupo Vinci, nos aeroportos e aeródromos de Cabo Verde, ao longo dos 40 anos da mesma, de 619 milhões de euros, dos quais 281 milhões de euros para a ampliação das infraestruturas portuárias e os restantes 338 milhões de euros para manutenção pesada.
O primeiro-ministro afirmou anteriormente que a adjudicação directa da concessão dos aeroportos do arquipélago ao grupo Vinci foi uma opção do Governo que cumpre a lei e que justificou com as garantias recebidas da empresa.