Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira de 2021, divulgado hoje pelo Banco de Cabo Verde (BCV), ainda num contexto de crise pandémica cuja intensidade, abrangência e persistência não são totalmente conhecidas, subsistem vulnerabilidades no sistema financeiro nacional, intensificadas pelo conflito às quais se juntaram outras susceptíveis de comprometerem a estabilidade financeira.
Como exemplo, o BCV aponta a situação financeira do sector não financeiro, caracterizada pelo aumento do endividamento das famílias, num contexto de aumento da inflação; o nível ainda elevado de activos não produtivos no balanço da banca, situando-se acima dos níveis registados em economias similares, apesar da tendência decrescente.
“O aumento do stock de bens recebidos em dação de pagamento, e a eventualidade de materialização de incumprimentos de crédito que potencia o aumento do recebimento de bens em dação pela banca; A manutenção do elevado nível de concentração do setor bancário nos mercados de crédito e depósitos” lê-se.
De acordo com o BCV, ainda podem comprometer a estabilidade financeira o aumento da concentração da carteira de crédito a operações de grandes montantes bem como do fundingrelativamente a um número muito reduzido de depositantes institucionais e a possibilidade de aumento de cibercrime devido à crescente digitalização dos serviços na indústria bancária.
O documento revela que a vulnerabilidade externa do país permaneceu elevada, mas permanece mitigada, traduzida na melhoria de alguns indicadores face a 2020, com destaque para a maior acumulação de reservas externas, e da redução do risco de liquidez do Estado associada à recuperação das receitas orçamentais na sequência da dinâmica da atividade económica.
“Os níveis elevados do stock da dívida pública cabo-verdiana suscitam algumas preocupações com a vulnerabilidade das contas públicas. Contudo, a avaliação do rating país da FITCH, em 2021, manteve-se em B- e o Outlook novamente considerado estável. Refira-se que a análise da sustentabilidade da dívida pública cabo-verdiana realizada pelo Fundo Monetário Internacional, avalia-a como sustentável, embora persistindo o risco de sobre-endividamento. O risco de sobre endividamento externo é considerado moderado, uma melhoria face ao exercício DSA anterior”, consta.
O relatório indica ainda que o sector bancário, o mais representativo no conjunto do sistema financeiro, manteve-se sólido e resiliente em 2021, enquanto o os riscos à estabilidade financeira relacionados com o sector segurador permaneceram baixos.
Quanto aos sistemas de pagamentos, segundo o BCV, permaneceram seguros e estáveis; os níveis de liquidez mantiveram-se suficientes para atender o fluxo das transações e permaneceram em níveis adequados para suprir as necessidades de liquidez das instituições participantes.
O Relatório de Estabilidade Financeira é uma publicação anual do Banco de Cabo Verde destinada a apresentar os principais resultados das análises sobre o sistema financeiro relativamente ao ano transacto, sobretudo do sector bancário, com especial realce à sua evolução recente, ao seu grau de resiliência face a eventuais choques externos, aos actuais e potenciais riscos que condicionam a estabilidade do sistema financeiro e a sua evolução no curto e médio prazo.