Cachoeiras de Santiago movimentam economia do interior

PorSheilla Ribeiro,25 set 2022 8:48

Depois das chuvas que caíram nos últimos dias as cachoeiras do interior já têm água suficiente para atrair pessoas de toda a ilha de Santiago. Os que lá vivem aproveitam essas visitas para ganhar um extra.

Ar fresco, paisagem verde, água nas ribeiras e nas cachoeiras, música, comida e gente de toda a ilha. Este é o cenário de Longueira em São Lourenço dos Órgãos e Cachoeira Nos Maravilha, em São Salvador do Mundo, conforme pôde constatar o Expresso das Ilhas in loco.

Em Longueira, São Lourenço dos Órgãos, encontramos Isilene Tavares que, normalmente, vende pastéis, donetes e outros lanches na escola local. Entretanto, depois que a água caiu nas cachoeiras do lugar, resolveu vender aos finais de semana para aqueles que ali se aventuram e passam o dia.

"Muitas pessoas, de todo o canto, têm vindo passar o fim-de-semana. Vi uma oportunidade de ganhar mais alguns trocos vendendo aqui nos arredores. Chego aqui entre 8h30 e 9h00 e fico até às 18h00, que é quando as pessoas regressam para as suas casas", conta.

Conforme relata, sem a chuva amiga não há tantos visitantes como agora. Razão pela qual investiu em carnes para grelhar e bebidas.

"Tendo em conta o início das aulas, vou passar a vender aqui aos finais de semana apenas. Muitos trazem a própria comida e bebida, mas muitos compram e é sempre bom", diz.

Quem também aproveitou para fazer negócio nos arredores das cachoeiras de Longueira é a senhora Djudju. Segundo confidencia, desde 2008 que se dedica à venda de cachupa, carne de porco assado, torresmo e fígado, todos os dias no mesmo lugar.

Contudo, a venda é maior quando chove e as pessoas se deslocam para visitar as cachoeiras, o que exige aumentar a produção e o número de pessoas para ajudar na venda.

“Como não tem chovido, a venda estava fraca, mas nos últimos dias temos tido muito movimento, principalmente aos domingos. Recebemos muita gente, sobretudo da Praia, o que é muito bom para o negócio. Sempre que chove é um alívio para nós, sem chuva não temos nada", enfatiza.

Djudju chega ao local no raiar do dia para levar a cachupa à lenha e ali fica até ao anoitecer. Cada final de semana leva ao lume três grandes panelas de cachupa que depois são vendidos ao longo do dia.

Consigo, Djudju leva duas pessoas que ajudam a vender. Caso haja mais chuvas, perspectiva contratar mais pessoas. Isto porque, quanto mais água, maior é o número de visitantes e a quantidade de carne, cachupas e bebidas terá de ser maior.

“Se for o caso de contratar mais pessoas, terei uma pessoa para ser responsável pela venda das bebidas, outra pela venda do pão e da carne, outra para cachupa e outra para o torresmo", relata.

Em São Salvador do Mundo encontramos a dona Maria José, que também aumentou a habitual produção de lanches para atender as demandas dos finais de semana.

"Há muitos anos que tenho este quiosque onde vendo pastéis de milho e donetes, normalmente há muito pouca venda. Com a queda da água as vendas aumentaram muito. As pessoas gostam muito de água", narra.

Antes da chuva vendia apenas no período da tarde e hoje, especialmente aos domingos, dona Maria José dirige-se ao quiosque de manhã e à tarde.

E os visitantes?

Carlos Silva foi passar o domingo em São Lourenço dos Órgãos com um grupo de 15 pessoas entre amigos e familiares. Alugaram uma viatura hiace e levaram mantimentos para preparem o almoço e bebidas.

"Há cerca de quatro anos que não vinha a São Jorge mas depois de ter ouvido dizer que havia água na cachoeira combinei com os meus amigos e viemos cá passar o dia. Já é um costume vir para o interior sempre que há água", declara.

Já Edvaldo Monteiro, revela que é a sua primeira vez em São Lourenço dos Órgãos e, por gostar, garante que vai voltar ainda este ano.

"Nos anos anteriores, em que choveu, estive na cachoeira da Ribeira do Principal. Este ano, eu e os meus amigos organizamos um grupo de cerca de 20 pessoas e viemos passar o dia no famoso Longueira. Tomara que haja mais chuvas, haverá mais água e voltaremos", afirma.

Em São Salvador do Mundo, Domingos Mendes menciona que foi aproveitar a água da cachoeira em família.

"Depois de tanto tempo de seca Cabo Verde está contente e temos de comemorar. Estou muito feliz por ver Cabo Verde com água e desejo mais chuvas a bem dos agricultores deste local e do país. Depois volto para comer milho. Comecei a monda e ajudei alguns amigos, espero que haja mais chuvas e que este ano seja diferente, que haja um bom ano agrícola", deseja.

Quem também foi visitar a "Maravilha" de São Salvador do Mundo, foi o Stanick Vasconcelos, estudante de medica na República Checa.

"A água está fresca e o ambiente muito agradável. É a minha primeira vez nesta cachoeira e o primeiro banho de cachoeira depois de mais de sete anos. É uma emoção muito grande para mim porque quando estive aqui há três anos não tinha chovido", especifica.

Para este jovem, a cachoeira é uma grande atracção turística por permitir descansar e aproveitar a paisagem verde, além de se poder comer "uma boa cachupa” nos arredores.

Edilidades de olhos postos

Ao Expresso das Ilhas, o presidente da Câmara Municipal de São Salvador do Mundo (CMSSM), Ângelo Vaz, afirma que as cachoeiras movimentam muito a economia do município e que são uma alternativa às praias nesta época do ano.

"Já é uma tradição visitar as cacheiras quando há chuva e água nas ribeiras. Recebemos pessoas de toda a ilha, sobretudo dos municípios da Praia, Tarrafal e Assomada. E como os visitantes sentem a necessidade de comer, de beber uma água ou um sumo, as pessoas locais viram uma oportunidade de negócio", reporta.

Por este motivo, o edil informa que há uma grande concentração de vendedeiras ambulantes com os seus carrinhos e quiosques nos arredores das cachoeiras. O que no seu ponto de vista é bom, mas exige organização.

"Todas querem colocar as suas bancas nos melhores lugares e, por vezes, os melhores lugares são aqueles que dão acesso às cachoeiras. Por isso, é importante que os fiscais da Câmara Municipal, sempre junto com a Polícia Nacional, tentem organizar essas pessoas de modo a que as viaturas possam passar na estrada normalmente e as pessoas que queiram tomar banho possam fazê-lo sem constrangimentos", avança, justificando a presença de fiscalização nos arredores.

Ou seja, a presença da fiscalização vai no sentido de criar uma organização à volta das cachoeiras e proporcionar às pessoas o melhor ambiente, e em segurança, para delas desfrutarem.

Ângelo Vaz congratula-se com o facto de que nas últimas quatro semanas, apesar da aglomeração das pessoas nas quedas-d'água, não houve registo de brigas ou desacatos.

"Temos notado que as pessoas têm estado a vir para se divertirem com a maior tranquilidade e é a isso que apelamos", observa.

O presidente da CMSSM recorda que o município tem uma rede de cachoeiras e muitos pontos onde as pessoas se concentram. Mas que há uns que são mais procurados por pessoas de fora, pelo acesso fácil.

"Há quedas-d'água que são visitadas apenas pelos locais que conhecem o interior dos Picos. Então, a nossa obrigação é estar nos pontos com mais ajuntamento de pessoas para criar todas as condições de aproveitarem em segurança as nossas cachoeiras", assegura.

Segundo o edil, actividades do género fazem com que as pessoas levem seus próprios produtos e muitos utensílios descartáveis como pratos, copos, talheres e sacos de plástico. Por esta razão, prossegue, a autarquia mobilizou ainda uma equipa de saneamento que procede à limpeza dos arredores das cachoeiras.

"Na segunda, logo de manhã, porque no domingo há maior movimentação de pessoas, a equipa faz a recolha do lixo no espaço. Mas, também há contentores ao redor. Estamos conscientes que é preciso investir mais nos contentores para outros pontos onde as pessoas também se concentram, embora em menor número, porque é importante garantir a higiene desses lugares", reconhece.

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de São Lourenço dos Órgãos, Carlos Vasconcelos, avança que a edilidade deliberou a criação de uma brigada móvel para proceder à limpeza das cachoeiras mais visitadas no município.

“Durante os finais de semana a nossa equipa de Proteção Civil vai passar a vigiar, durante a época de cachoeira, todos os principais pontos de queda-d´água e reservatórios que são muitos usados para banhos, em colaboração com a Proteção Civil da região Santiago Norte”, informa.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,25 set 2022 8:48

Editado porAntónio Monteiro  em  26 set 2022 10:58

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