Alguns dos agentes económicos mais directamente afectados pela escala da regata The Ocean Race em São Vicente aguardam com expectativa os dias de passagem da frota pela ilha.
Transportes, restaurantes e hotéis são sectores que, a par de outros, deverão registar aumento de actividade. Os operadores acreditam que o evento poderá dinamizar a economia local e, naturalmente, os seus negócios.
A partir de domingo, o Hotel Dom Paco começará a ocupar os 20 quartos (quase metade da capacidade) reservados para acolher parte da equipa internacional da organização e jornalistas estrangeiros acreditados.
“É algo grande que sabemos que será vantajoso para o hotel. A partir do dia 15, temos um grupo a vir para o hotel, de alguns dirigentes e outras pessoas que vão estar aqui durante a Ocean Race. Quando nos enviaram a mensagem pela primeira vez, foi no sentido de saberem se tínhamos capacidade para alojar mais pessoas, queriam muitos quartos, mas infelizmente não foi possível”, comenta Edir Neves, chefe de recepção na unidade hoteleira.
Na Praça Nova, o sócio-gerente do Prassa 3, Alexandre Novais, antecipa muita dinâmica económica a partir da próxima semana e até final do mês. O hotel de que é proprietário tem lotação esgotada, mas com reservas feitas por instituições nacionais.
“Teoricamente, é um evento que vai trazer muita dinâmica. Espero que a organização se tenha preparado bem para o receber e que a cidade possa beneficiar disso”, comenta.
Mais gente na ilha significa, necessariamente, maior procura por serviços que garantam mobilidade. A Transmello Rent a Car já está a prestar serviços à organização, como confirma o sócio-gerente, Manuel Melo.
“Recebemos documentos a solicitar disponibilidade e estou a trabalhar em parceria com a organização. Acredito que conseguiremos prestar um bom serviço. Começámos a trabalhar com as pessoas que preparam os eventos. Independentemente da chegada dos veleiros, já estamos no início do serviço”, revela.
“Acredito que será mais um trampolim na retoma e desenvolvimento da empresa”, adianta.
No caso da Novalinha Transporte Turístico e Rent-a-Car, o telefone ainda não tocou.
“É um evento de grande envergadura. Temos transportes, rent-a-car e ainda não começámos a trabalhar, ainda não temos contacto com a organização. Às vezes, os organizadores acabam por canalizar a coisa apenas para um lado, ao invés de repartir por todos”, lamenta o responsável, Amândio Costa.
Para os guias turísticos as próximas semanas também deverão ser de mais trabalho. O presidente da Associação de Guias de Turismo de São Vicente e São Nicolau, Ruben Moreira, admite que a chegada de um número significativo de visitantes poderá significar um aumento da procura pelos serviços destes profissionais.
“São eventos que acabam por trazer maior nível de serviço e trabalho. Espero que tenhamos oportunidade, mesmo que indirectamente, de trabalhar com a Ocean Race, prestando serviços de várias formas, com acompanhamento de excursões em São Vicente e, porque não, em Santo Antão”, ambiciona.
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Um evento histórico que não conhece impossíveis
Com a primeira edição a remeter-nos para 1973/74, a Ocean Race é hoje uma das regatas mais emblemáticas e duras do mundo. Ao longo das suas muitas edições, já visitou cidades em todos os continentes, mas continua a surpreender.
A edição de 2023 começa no próximo domingo, dia 15. Ao longo dos próximos meses serão percorridas perto de 32.000 milhas náuticas (qualquer coisa como 60 mil quilómetros), com partida em Alicante (Espanha) e meta, lá para Junho/Julho, em Génova (Itália). Pelo meio, a frota cruzará os oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, mas também o distante e inóspito Oceano Antárctico.
Realizada a cada três anos, a regata 2023 terá cinco veleiros na classe IMOCA e seis na classe VO65 (que participam em três pernas), todos capazes de percorrer mais de 600 milhas em 24 horas.
Para além da vertente desportiva, a Ocean Race transporta consigo a perspectiva de impacto económico nas cidades-sede. Sabendo-se disso, os pontos de passagem da regata sujeitam-se ao pagamento de uma fee, com valor variável consoante a dimensão da cidade e da escala, expectativas de retorno e realidade local.
*com Fretson Rocha
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1102 de 11 de Janeiro de 2023.