“Não é o mar mais tranquilo de Cabo Verde, é um processo logístico mais bem organizado, com mais tradição, com mais tempo e com parceiros muito bem alinhados com o princípio de um transporte moderno entre ilhas e com navios adequados. Porque tendo um navio 'roll-on/roll-off', que também tenha rapidez na sua operação, consegue fazer a viagem em menos de uma hora e consegue fazer uma permanência em porto de uma hora”, explicou à Lusa Jorge Maurício, presidente do conselho de administração da CV Interilhas, do grupo português ETE.
Em causa está a linha que diariamente, em várias viagens, liga o Porto Grande, no Mindelo, São Vicente, ao Porto Novo, na ilha vizinha de Santo Antão, considerada a principal rota marítima do país, ao representar mais de metade das viagens em Cabo Verde e cerca de 70% do movimento de passageiros das ligações marítimas, assegurada, no caso da CV Interilhas, pelo navio “Chiquinho BL”, adquirido pela concessionária – liderada (51%) pela Transinsular, empresa do grupo ETE - especificamente para aquele serviço.
Este processo, que diz ter sido interiorizado já nas duas ilhas, é algo que a CV Interilhas pretende implementar nas outras ilhas, apesar das dificuldades encontradas até agora.
“Depende das condições atmosféricas, da disciplina dos passageiros, do modo como a carga á organizada e consolidada, depende da vontade dos diferentes intervenientes, pois é composto por armadores e seus navios, pelos portos, autoridade marítima que cabe fiscalizar, regularizar e certificar as embarcações e os passageiros, a Polícia Fiscal, autoridade sanitária. E quando temos vários intervenientes para compor um sistema que funcione perfeitamente, torna-se mais difícil”, argumentou, embora assumindo que esse serviço funciona agora melhor do que em anos anteriores.
Justificou ainda que quando as condições atmosféricas e de mar não são favoráveis, com risco para passageiros e para as embarcações, a empresa não arrisca e cancela a viagem.
“Temo-nos deparado com algumas dificuldades em termos do tempo, as condições do mar, por exemplo, em algumas ilhas como São Nicolau, Maio, Fogo, e que nem sempre tem permitido fazer viagens em tempo oportuno. Temos feito alguns cancelamentos de viagens para garantir que haja segurança”, apontou Jorge Maurício.
A viagem entre São Vicente e Santo Antão é a mais rápida das várias linhas do país, mas também a “mais organizada”, com elevado cumprimento dos horários.
“Chega a Santo Antão em menos de uma hora, incluindo a atracação e depois em apenas uma hora, consegue fazer toda descarga, toda saída de passageiros, embarcar toda a carga no navio e a entrada de passageiros. Portanto o processo é muito bem afinado”, garante o administrador, que acrescenta que “o navio sai todos os dias a hora marcada, os passageiros colaboram, não causam atraso, assim como a mercadoria, que chega a tempo, consolidada, em viaturas para que o tráfego rodado possa fazer rapidamente a sua entrada rapidamente e a sua saída”.
As duas ilhas abastecem-se diariamente uma à outra, já que grande parte dos produtos agrícolas comercializados nos mercados de São Vicente, a segunda principal de Cabo Verde, chega de Santo Antão. Em contrapartida, é a partir de São Vicente que partem os produtos embalados, conservados e importados para a ilha vizinha.
“É uma linha exemplar que num ano inteiro não tem qualquer constrangimento, qualquer atraso, qualquer paralisação, qualquer dificuldade. Às vezes, quando o mar está mais cavado, a viagem é mais desconfortável, mas não tivemos ainda nenhum momento, felizmente, de cancelamento por mau tempo”, afirmou Jorge Maurício.
A CV Interilhas, que assumiu em Agosto de 2019 a concessão, por 20 anos, do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga, realiza mais 4.000 viagens por ano entre todas as ilhas, tendo transportado desde então mais de 1,6 milhões de passageiros, mais de 6.000 toneladas de carga e mais de 45.000 viaturas.
“Há grande capacidade de resposta, oferta organizada e com uma estrutura a funcionar em terra e em mar”, garantiu ainda Jorge Maurício.