"A criação de uma agência de notação de crédito em África não para substituir as agências de notação de crédito mundiais. Mas as agências de notação de primeira classe dão o diagnóstico da situação e aqui está uma segunda opinião", afirmou Adesina, na apresentação do relatório do BAD sobre perspectivas económicas africanas para 2024, em Nairobi, durante os encontros anuais da instituição.
De acordo com o relatório, a média dos pagamentos do serviço da dívida nos países africanos cresceu de 12,7% no período de 2020 a 2022, face a 8,4% de 2015 a 2019 e só este ano o serviço da dívida, custo que resulta também da notação das agências, representa 74 mil milhões de dólares (68,5 mil milhões de euros), quando em 2010 ascendia a 17 mil milhões de dólares.
"É importante a necessidade de analisarmos a forma como os países africanos são classificados pelas agências de notação de crédito", sublinhou Adesina, acrescentando que os estudos demonstram a necessidade de tratar os países africanos de forma justa.
Crescer para reduzir pobreza
Além de defender a criação da agência de notação o presidente do BAD acredita que África só conseguirá reduzir a pobreza registando um crescimento económico que se situe acima dos dois dígitos.
"O facto de o crescimento real do PIB [Produto Interno Bruto] se situar a esse nível não é suficiente para podermos tirar as nossas centenas de milhões de pessoas da pobreza", afirmou Adesina, na apresentação do relatório do BAD sobre perspectivas económicas africanas para 2024.
O Grupo BAD, a maior instituição financeira de desenvolvimento do continente, estima que o crescimento real do PIB em África seja de 3,1% em 2023, aumentando para 3,7% em 2024 e 4,3% em 2025.
"Acreditamos que as economias africanas devem crescer a dois dígitos durante a próxima década para podermos realizar o tipo de transformação de que necessitamos enquanto continente", acrescentou Adesina, na mesma intervenção, nos encontros anuais do grupo BAD, que decorrem na capital do Quénia.
Para tal, defendeu, é preciso "garantir a transformação estrutural" das economias africanas.
"Transferir recursos de zonas de baixa produtividade para zonas de alta produtividade. (...) Se deslocarmos para um sector agrícola pouco produtivo e para um sector de serviços pouco produtivo, continuamos a ser pobres", disse Adesina, garantindo que o BAD tem sido "facilitador" com estes objectivos do continente, nomeadamente ao nível das infraestruturas.
Apontou a necessidade de África investir nos "jovens e nas suas competências, talentos, espírito empresarial e a dar-lhes as ferramentas necessárias".
"A migração na Europa não é um problema da Europa, é um problema nosso. Não podemos ter 477 milhões de jovens com menos de 35 anos e não ter nada para eles no nosso continente", afirmou o presidente do BAD.
A "transformação estrutural da agricultura", através das zonas especiais de transformação agro-industrial, fará igualmente "uma grande diferença" para o continente, disse.
O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e reúne-se em Nairobi até sexta-feira para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitectura Financeira Global", com a presença de 3.000 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo.
Estes encontros incluem a 59.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Banco Africano de Desenvolvimento e a 50.ª Reunião do Conselho de Governadores do Fundo Africano de Desenvolvimento, decorrendo no Centro Internacional de Conferências Kenyatta, em Nairobi.
Segundo informação do BAD, apesar de um "crescimento económico sustentado ao longo das duas últimas décadas, a transformação económica de África continua incompleta".
O Produto Interno Bruto (PIB) real do continente cresceu 4,3% por ano entre 2000 e 2022, "em comparação com a média mundial de 2,9%, e muitas das dez economias de crescimento mais rápido do mundo situavam-se em África".
"Apesar deste sólido desempenho em termos de crescimento, a estrutura das economias africanas não se alterou significativamente nas últimas duas décadas, com os sectores da agricultura, da indústria e dos serviços a representarem, em média, 16, 33 e 51%, respectivamente, do PIB global de África entre 2000 e 2022. Estes níveis são semelhantes aos registados na década de 1990", recorda a instituição.
Também o emprego na indústria transformadora "tem vindo a diminuir devido a uma desindustrialização prematura", já que "apesar do aumento do número de empregos", de 20,2 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2021, "o sector contribui com menos de 10% do emprego total".
O Grupo BAD é a maior instituição financeira de desenvolvimento de África e está classificada com uma notação AAA pelas agências de rating, a única no continente.
O grupo está reunido em Nairobi, até sexta-feira, para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitectura Financeira Global", com a presença de 3.000 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo.
Estes encontros incluem a 59.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Banco Africano de Desenvolvimento e a 50.ª Reunião do Conselho de Governadores do Fundo Africano de Desenvolvimento, decorrendo no Centro Internacional de Conferências Kenyatta, em Nairobi.
O Grupo BAD conta com 81 Estados-membros, entre 53 países africanos e 28 países fora do continente, incluindo Portugal e Brasil.