“Os riscos para as perspectivas de crescimento incluem um abrandamento económico na Europa, perturbações nas cadeias de abastecimento de petróleo, progressos limitados na reforma das empresas públicas e impactos das alterações climáticas”, lê-se no relatório do BAD sobre perspectivas económicas africanas para 2024, apresentado hoje em Nairobi.
Ainda sobre Cabo Verde, o documento também reconhece a necessidade, a médio e longo prazo, do reforço do “financiamento de infraestruturas, nomeadamente no transporte interilhas, é imperativo para a viabilidade comercial e a competitividade”.
Acrescenta que a perspectiva para o arquipélago baseia-se “num ambiente global estável e num turismo vibrante”, com uma inflação que deverá atingir 2,2% em 2024 e recuar para 2,0% em 2025, “devido à procura mais fraca e à descida dos preços dos alimentos e da energia”.
Em 2023, o PIB real de Cabo Verde cresceu 4,6%, segundo a estimativa do relatório do BAD, apresentado durante os encontros anuais do BAD, que decorrem na capital do Quénia até sexta-feira.
“O crescimento do PIB de Cabo Verde permanece volátil devido à sua dependência de actividades intensivas em turismo e à sua vulnerabilidade aos choques relacionados com o clima”, aponta igualmente.
O documento prevê que o défice orçamental de Cabo Verde diminua para 3,0% do PIB em 2024 e 2,1% em 2025, “devido a medidas de consolidação fiscal, ao aumento das receitas fiscais e à privatização de empresas públicas”.
Prevê ainda que o défice da balança corrente diminua para 5,2% do PIB em 2024 e 4,4% em 2025, “apoiado pelas receitas e remessas do turismo”.
“Embora Cabo Verde tenha um bom desempenho nos indicadores sociais, a pobreza e o desemprego continuam a ser desafios. A pobreza aumentou de 26% em 2019 para 31,1% em 2022, agravada pela covid-19”, lê-se no relatório.
Acrescenta que o risco da dívida externa de Cabo Verde “é moderado”, com o rácio em função do PIB a diminuir de 127,1% em 2022 para 119,9% em 2023, “devido ao maior crescimento nominal do PIB e ao desempenho fiscal”.
“As acções para reduzir os riscos fiscais das empresas estatais e colmatar as lacunas infraestruturais são fundamentais para o crescimento sustentável”, alerta por outro lado o relatório do BAD.
O documento também reconhece que a transformação estrutural da economia de Cabo Verde “tem sido lento nas últimas duas décadas, com limitada diversificação económica”, em que a participação da agricultura no PIB caiu de 9,7% em 2000 para 7,8% em 2021, enquanto aumentaram na indústria (19,7% para 21,8%) e nos serviços (57% a 65%).
“Os investimentos em competências, na inovação tecnológica e na modernização dos portos e aeroportos são vitais para expandir a economia e tirar partido da Zona de Comércio Livre Continental de África. Cabo Verde poderia aprender com as experiências de Seicheles, ao aproveitar a economia azul através ‘títulos azuis’ e ‘swaps de dívida’, e Maldivas na diversificação da economia para além do turismo, melhorando as cadeias de valor da pesca”, conclui.