“No contexto nacional, a economia enfrenta os desafios já conhecidos tais como a dependência do turismo, o desemprego e a dívida pública ainda elevada”, lê-se no parecer sobre as previsões macroeconómicas do Governo na proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2025.
Àqueles factores “acresce um fenómeno ‘novo’ que é a emigração da mão-de-obra qualificada, que está a colocar alguns sectores em tensão por falta de trabalhadores como a construção civil e a hotelaria, fazendo aumentar os preços dos serviços prestados”, detalha aquele órgão.
A posição reflecte relatos que têm sido feitos em diferentes sectores de actividade.
O presidente da Câmara de Turismo disse em Fevereiro, à Lusa, que a capacidade de formação de Cabo Verde não cobre as necessidades do sector da hotelaria e turismo, porque muitos dos formandos emigram, atraídos por Portugal e outros países.
Questionado pela Lusa, o ministro das Finanças, Olavo Correia, tem apontando que a melhor forma de fixar mão-de-obra no país é oferecer melhores salários, esperando que seja possível criar condições, com o contributo do Governo, para que as empresas remunerem melhor.
E sobre a formação, considerou que o melhor "é preparar os jovens agora, para irem para o mercado global de forma organizada, com formação profissional, com contrato de trabalho, com segurança social, para que possam ter um trabalho em Portugal ou em qualquer outro país do mundo com dignidade".
Noutro ponto do parecer, o CFP faz alusão à “abertura externa” de Cabo Verde e à “dependência das remessas dos emigrantes, que são fundamentais tanto para a balança de pagamentos (ajudando a reduzir o défice externo), quanto para o rendimento disponível das famílias”.
Esta abertura torna importante “compreender o que se passa ao nível dos principais parceiros internacionais”, indicando, por exemplo, que “o mercado de trabalho nos principais parceiros, principalmente nos Estados Unidos e Portugal, já começa a dar algum sinal de arrefecimento, invertendo a situação predominante até 2023 de escassez na oferta de mão-de-obra”.
O CFP divulgou na segunda-feira o parecer sobre as previsões macroeconómicas feitas pelo Governo para preparar o OE 2025, considerando-as coerentes e prováveis.
O órgão prevê que a economia do arquipélago possa crescer até 5,8% em 2025, posição mais optimista que a do Governo, que aponta para que o Produto Interno Bruto (PIB) suba 5,3% no cenário mais favorável.
Quanto à inflação, a previsão do CFP inclina-se para um valor de 2,2% em 2025, mais pessimista que a previsão do Governo contida na proposta de OE 2025 (1,7%).
O Governo aponta para um défice público de 1,9% do PIB em 2025 (face a 2,9% do PIB previstos no OE 2024) e um rácio da dívida pública em relação ao PIB a manter a tendência decrescente dos últimos três anos, prevendo-se que atinja 105,5% do PIB em 2025, em comparação com 108,9% estimados para este ano.
Prevê-se também uma variação positiva dos impostos arrecadados em 6,4 por cento para 2025.
O executivo antevê ainda que o crédito à economia continue a acelerar, crescendo 5% este ano e 5,4% em 2025, com destaque para o aumento do crédito ao sector privado (6,1 e 6,4 por cento, respectivamente, em cada ano).