“Estamos neste momento num processo de fomentar o turismo local através de mais voos directos de e para as ilhas mais turísticas. Por exemplo, entre Maio-Sal, Maio-Boa Vista, Sal-Fogo, etc”, afirmou o PCA da TACV, Pedro Barros, em entrevista ao Expresso das Ilhas.
A aposta tem como objectivo explorar o crescimento do mercado turístico que já ultrapassou o milhão de turistas e que está ligado ao aumento da chegada de voos de companhias aéreas low-cost como a EasyJet.
Com esse aumento de voos “vai haver mais turistas a chegar a Cabo Verde. 1 milhão e 200 ou quase 1 milhão e 300. E o que é que acontece? Chegam ao Sal, que já está a ficar um pouco saturado, e precisam ir às outras ilhas. Ir e voltar no mesmo ou noutro dia. Para isso não dá muito jeito estar a vir para a Praia para depois ir ao Fogo, ou ao Maio, por exemplo. Neste momento, assim é o que acontece. Havendo ligação directa mais facilmente faz-se essas ligações”, prossegue Pedro Barros.
Aumento da frota
Para responder a essa crescente demanda, o PCA da TACV anunciou “a aquisição de dois novos aviões ATR, a serem depois transferidos para a nova companhia doméstica quando a mesma estiver operacional. Serão inicialmente integrados à frota por meio de um contrato de dry leasing com duração de oito anos.” Diferentemente dos modelos actuais de leasing, essas aeronaves serão geridas directamente pela companhia, o que exigirá investimentos adicionais e responsabilidades financeiras directas para com a tripulação, manutenção e seguros.”
Além do impacto positivo para o turismo, o reforço da frota “também beneficia a mobilidade da população local”, permitindo mais opções de voos e horários, especialmente para ilhas com maior procura sazonal, como Maio, São Nicolau e Brava, através da ilha do Fogo.
O objectivo, assegurou Pedro Barros, é oferecer “um serviço mais eficiente e atender à crescente necessidade de transporte aéreo dentro do país”.
Pedro Barros destacou ainda que a TACV tem trabalhado para garantir a estabilidade nas ligações domésticas com a máxima segurança e qualidade nas suas operações.”
Subsidiação de rotas
O presidente do Conselho de Administração da TACV destacou igualmente os impactos positivos da subsidiação das rotas interilhas.
Segundo Pedro Barros, a medida, que entrou em vigor em Outubro, beneficiou directamente os passageiros que se deslocam às ilhas do Maio, São Nicolau, proporcionando um aumento significativo na procura e na frequência de voos para essas duas ilhas.
Dados da empresa consultados pelo Expresso das Ilhas mostram que a TACV já transportou, só nos primeiros dois meses do ano, 2700 pessoas entre a Praia e o Maio e 1468 passageiros foram transportados nos voos entre Praia-São Nicolau, São Vicente-São Nicolau e Sal-São Nicolau e no sentido contrário.
“Actualmente, os voos para o Maio passaram de um para três semanais, todos com alta taxa de ocupação. Já para São Nicolau, a TACV opera três voos directos e mais dois ou três indirectos, elevando a média para cinco a seis ligações semanais” referiu Pedro Barros que enfatizou que a subsidiação cobre “exclusivamente os voos directos para as ilhas abrangidas pela medida”.
E a Brava?
No que respeita à subsidiação das ligações à ilha Brava Pedro Barros, esclareceu que esta ainda enfrenta desafios operacionais.
“Diferentemente das outras ilhas beneficiadas pela medida, como Maio e São Nicolau, a Brava não possui aeroporto, o que torna necessária uma solução integrada entre transporte aéreo e marítimo”, aponta.
Actualmente, os passageiros que se deslocam à Brava “precisam viajar de avião até a ilha do Fogo e, em seguida, utilizar o transporte marítimo para completar o percurso”, lembra referindo de seguida que para que o subsídio seja aplicado de forma eficaz, “é essencial estabelecer um acordo com a Companhia de Transportes Marítimos, garantindo que o desconto de 40% na tarifa seja estendido também ao trajecto entre Fogo e Brava”.
O executivo da TACV destacou que estão em andamento negociações, sob a liderança da Direcção Geral da Economia Aérea do Ministério do Turismo e Transportes. com as entidades competentes para encontrar uma solução viável. O objectivo, assegurou, é “garantir que os passageiros que realmente se destinam à Brava possam usufruir do benefício, evitando qualquer tipo de distorção na aplicação do subsídio”.
Situação laboral
Sobre a situação laboral da companhia, o PCA da TACV afirmou que há um ambiente mais pacificado.
Segundo Pedro Barros das 12 reivindicações apresentadas inicialmente pelo Sindicato Nacional dos Pilotos da Aviação Civil, apenas três seguem pendentes: um pedido relacionado a subsídio nocturno, actualmente a aguardar a sentença judicial; um plano de segurança, protecção e higiene no trabalho ainda não apresentado pelo próprio sindicato; e a negociação de um acordo colectivo que, “por ser uma medida regula que toda a relação laboral entre a companhia e a classe de pilotos exige maior tempo e serenidade na sua discussão”, concluiu.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1218 de 2 de Abril de 2025.