Líderes financeiros mundiais discutem a incerteza económica nos encontros de Primavera do FMI

PorJorge Montezinho,24 abr 2025 14:20

São os encontros que moldam o futuro da economia mundial. As Reuniões de Primavera do FMI e do Banco Mundial desta semana, em Washington, são das mais instáveis de que há memória, com uma guerra comercial progressiva, uma perspectiva global insegura, orçamentos de ajuda em declínio e uma administração dos EUA a redefinir a postura global. Preocupações com as disputas comerciais, a inflação iminente, os altos níveis de dívida global e o impacto da inteligência artificial na economia mundial serão os temas principais em cima da mesa dos decisores políticos.

Não se esperavam notícias muito positivas e o último Outlook do FMI – publicado esta terça – confirma-o: a ‘guerra das tarifas’ já está a mexer com a economia global. Mesmo assim, e apesar da desaceleração, o crescimento global permanece bem acima dos níveis de recessão. No entanto, os riscos para a economia global aumentaram, e o agravamento das tensões comerciais pode enfraquecer ainda mais o crescimento. Questões que estão, e estarão, a ser debatidas nos encontros do FMI e do Banco Mundial, que decorrem na capital norte-americana até sábado.

Como resumiu Kristalina Georgieva, Directora-geral do FMI, no tradicional discurso que faz antes dos encontros – o chamado ‘levantar da cortina’, na passada quinta-feira – “o comércio continua, mas as interrupções têm custos”, e são exatamente esses custos que são quantificados pelo Outlook deste mês de Abril.

Em números, o FMI baixou as previsões de crescimento mundial, contando agora que o Produto Interno Bruto (PIB) global cresça 2,8% em 2025 (e já não os 3,3% que projectava em Janeiro) e melhore em 2026, mas a um ritmo de 3% (abaixo dos 3,3% anteriormente apontados). O FMI avisa que estes números só têm em conta a realidade tarifária e económica conhecida até 4 de Abril (as tarifas anunciadas por Donald Trump dois dias antes e as primeiras respostas de outros países, onde se inclui a China) e avisa que todas as projecções presumem que “a incerteza da política comercial” se manterá “elevada até 2025 e 2026”, tendo em conta que os Estados Unidos aumentaram as taxas tarifárias efectivas “para níveis nunca vistos num século”.

Para a África Subsariana, prevê-se que o crescimento diminua ligeiramente de 4% em 2024 para 3,8% em 2025 e recupere moderadamente em 2026, atingindo os 4,2%. Entre as maiores economias, a previsão de crescimento na Nigéria é revista em baixa em 0,2 pontos percentuais para 2025 e 0,3 pontos percentuais para 2026, devido aos preços mais baixos do petróleo, e na África do Sul é revista em baixa em 0,5 pontos percentuais para 2025 e 0,3 pontos percentuais para 2026, refletindo a desaceleração do ritmo de um resultado mais fraco do que o esperado em 2024, a deterioração do sentimento devido à maior incerteza, a intensificação das políticas protecionistas e uma desaceleração mais profunda nas principais economias.

No fundo, espera-se que o crescimento global diminua e que os riscos de queda se intensifiquem à medida que ocorrem as grandes mudanças políticas. As previsões de crescimento global foram revistas significativamente em baixa para refletirem as tarifas em níveis nunca vistos num século e o ambiente excessivamente imprevisível.

O acirrar de uma guerra comercial e o aumento da incerteza na política comercial podem prejudicar ainda mais as perspectivas de crescimento a curto e longo prazo. A redução da cooperação internacional pode comprometer o progresso rumo a uma economia global mais resiliente.

Economia global numa nova era

“No meio das tensões comerciais e da alta incerteza política, o caminho a seguir será determinado pela forma como os desafios são enfrentados e as oportunidades aproveitadas”, escreveu Pierre-Olivier Gourinchas, Conselheiro Económico e Director de Pesquisa do FMI, num comentário às Perspectivas e Políticas Globais, o capítulo primeiro do Outlook de Abril.

O sistema económico global – sob o qual a maioria dos países operou nos últimos 80 anos – está a ser redefinido, o que vai conduzir o mundo a uma nova era. As regras existentes são agora questionadas e há novas ainda por aparecer. A tarifa efectiva dos EUA ultrapassou os níveis atingidos durante a Grande Depressão e as respostas dos principais parceiros comerciais estimularam significativamente a tarifa global. A incerteza e a imprevisibilidade política resultantes são um dos principais impulsionadores das perspectivas económicas. Se este aumento abrupto de tarifas e a incerteza que o acompanha se mantiverem, o crescimento global vai desacelerar significativamente.

No entanto, sublinha Gourinchas, “as perspectivas de crescimento poderiam melhorar imediatamente se os países flexibilizassem a política comercial actual e assinassem novos acordos comerciais”. Ou, como referem as recomendações políticas do FMI: “prudência e maior colaboração”. Os governos, aconselha ainda o Fundo Monetário Internacional, “devem continuar a implementar reformas fiscais e estruturais que ajudem a mobilizar recursos privados e a reduzir a má alocação de recursos. Devem também investir na infraestrutura digital e na formação necessárias para beneficiar de novas tecnologias, como a inteligência artificial”.

Economia mundial mais equilibrada e resiliente

Sim, a volatilidade do mercado financeiro está alta e a incerteza na política comercial está literalmente fora de escala, mas isso não significa que o destino global já esteja traçado. Como disse Kristalina Georgieva isso é um chamamento para responder com sabedoria. “Uma economia mundial mais equilibrada e resiliente está ao nosso alcance. Precisamos agir para garanti-la”, referiu.

E o que podem fazer os países? “Muito e depois um pouco mais”, sublinhou. “Em primeiro lugar, todos os países devem redobrar os esforços para colocar as próprias casas em ordem. Num mundo de maior incerteza e choques frequentes, não há espaço para atrasos nas reformas que visam fortalecer a estabilidade económica e financeira e aumentar o potencial de crescimento”.

“A política monetária deve permanecer ágil e confiável, apoiada por um forte compromisso com a independência do banco central”, continuou a Diretora-Geral do FMI. “Regulamentação e supervisão fortes continuam essenciais para manter os bancos seguros, e os riscos crescentes de instituições não bancárias devem ser monitorizados e contidos. As economias de mercados emergentes devem preservar a flexibilidade cambial como amortecedora de choques”.

Por fim, para Georgieva, a prioridade mais urgente é garantir cooperação num mundo multipolar. “Todos os países, grandes e pequenos, podem — e devem — desempenhar o seu papel para fortalecer a economia global numa era de choques mais frequentes e severos”, concluiu a líder do FMI.

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Autoria:Jorge Montezinho,24 abr 2025 14:20

Editado porAndre Amaral  em  24 abr 2025 15:13

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