Segundo o relatório do INE, a população activa no país atingiu 216.287 indivíduos em 2024, um aumento de 1,9% face a 2023. Consequentemente, a taxa de actividade situou-se em 58,3%, um crescimento de 0,5 pontos percentuais face ao ano anterior. O documento do Instituto Nacional de Estatística revela igualmente que a população empregada registou um aumento de 4,4% em relação a 2023, totalizando 198.914 indivíduos, elevando a taxa de emprego para 53,6%.
Análise por grupos demográficos
O relatório mostra que o desemprego em 2024 atingiu 17.373 indivíduos.
A análise por sexo revela que a taxa de desemprego foi de 7,9% entre os homens e 8,2% entre as mulheres.
Geograficamente, a taxa de desemprego no meio urbano foi de 7,7%, enquanto no meio rural alcançou os 9,4%, ambos os valores representando uma redução de 2,3 pontos percentuais face a 2023.
Os jovens continuam a ser os mais impactados pelo desemprego, com a faixa etária dos 15–24 anos a registar uma taxa de 20,1%, seguida pelo escalão dos 25–34 anos, com 10,4%.
Em termos de localização, os concelhos de São Domingos, Santa Cruz e São Lourenço dos Órgãos (todos em Santiago) apresentaram as taxas de desemprego mais elevadas do país, com 16,3%, 13,3% e 12,2%, respectivamente. Em contraste, Ribeira Grande de Santo Antão (3,2%), Sal (4,1%) e Boa Vista (4,2%) registaram as taxas mais baixas.
Subutilização do trabalho e informalidade
A subutilização do trabalho em Cabo Verde diminuiu 5,2 pontos percentuais face a 2023, fixando-se em 28,4% e abrangendo 71.583 indivíduos. A taxa de subutilização foi mais elevada entre as mulheres (31,2%) do que entre os homens (26,0%).
A população inactiva registou uma ligeira diminuição de 0,2% face a 2023, totalizando 154.903 indivíduos, e a taxa de inactividade passou de 42,2% em 2023 para 41,7% em 2024. A maioria dos inactivos eram jovens de 15 a 24 anos (36,3%), sendo a principal razão para a inactividade o facto de serem estudantes.
No que respeita ao emprego, o sector terciário continua a ser o maior empregador em Cabo Verde, absorvendo 69,9% da mão-de-obra (139.071 empregos). O sector secundário contribuiu com 22,5% (44.751 empregos) e o sector primário com 7,6% (15.092 empregos).
A área de “comércio, reparações de automóveis e motociclos” liderou a actividade económica, empregando cerca de 16,4% dos trabalhadores.
O sector empresarial privado mantém-se como o maior empregador no país, sendo responsável por 47,0% dos empregos. O Inquérito Multiobjectivo Contínuo (IMC) 2024 revelou também que 94.561 empregados trabalhavam na informalidade, representando 47,5% do total. A maioria destes são trabalhadores por conta de outrem (58,0%) ou por conta própria (34,9%). A informalidade é mais prevalente entre os homens (59,6%) do que entre as mulheres (40,4%).
Relativamente aos jovens sem emprego e fora do sistema de ensino ou formação, o IMC 2024 estimou que 41.158 jovens entre 15 e 35 anos se encontravam nesta situação, correspondendo a 23,8% do total nesta faixa etária. Para o grupo de 15–24 anos, a proporção foi de 23,1%.
Números “realmente bons”
Paulino Dias, consultor, sublinha a importância de celebrar estes números, que considera “realmente bons”, mesmo reconhecendo que o ideal seria a inexistência de desemprego. Dias destaca o aumento da população empregada em mais de 8 mil novos postos de trabalho como o indicador mais relevante, com reflexo na taxa de desemprego, apesar da noticiada saída de jovens do país.
Questionado sobre a influência da emigração, Paulino Dias admite não possuir dados detalhados para uma correlação precisa, mas sugere que “a criação de empregos poderá ter superado o efeito negativo da saída da população activa”.
O consultor alertou para uma incorrecção metodológica ao comparar as actuais taxas de desemprego com dados anteriores a 2022.
Segundo Paulino Dias, o próprio INE introduziu alterações na metodologia de cálculo dos indicadores do mercado laboral a partir de 2022, seguindo recomendações da Organização Internacional do Trabalho. Por isso, “não é correcto comparar a população activa de 2016 com a actual, porque o conceito de população activa era diferente”.
Paulino Dias também desmistifica a ideia de que a dinâmica do desemprego seja determinada por políticas governamentais do lado da oferta, como programas de emprego e formação. Para ele, “a dinâmica do desemprego em qualquer economia não é determinada por factores do lado da oferta, como políticas de emprego, de formação ou de estágio, mas sim por factores do lado da procura de mão-de-obra”. Embora reconheça a importância dessas políticas, Dias argumenta que “se fosse possível reduzir o desemprego apenas com essas políticas, seria muito fácil eliminar o desemprego em Cabo Verde ou em qualquer parte do mundo”.
Finalmente, sobre a tendência futura da taxa de desemprego, o consultor afirmou que é “extremamente difícil de prever, porque depende de factores do lado da procura de mão-de-obra”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1228 de 11 de Junho de 2025.