O artigo que dá conta desta descoberta na galáxia de Andrómeda localizada a 2,5 milhões de anos-luz de distância da Terra foi publicado na revista Nature na passada semana.
A nuvem formada à volta das explosões desta anã-branca – e que se designa por “remanescente” – é tão grande que os cientistas até lhe chamam super-remanescente, atingindo de uma ponta à outra 400 anos-luz. Ou seja, a luz (que viaja a 300 mil quilómetros por segundo) demora 400 anos a ir de um extremo ao outro.
Para que estas explosões aconteçam, sejam elas “novas clássicas” ou “novas recorrentes”, a anã-branca tem sempre de ter uma estrela companheira, de onde vem o hidrogénio, como explica ao PÚBLICO o físico Valério Ribeiro, do Departamento de Física da Universidade de Aveiro e do Instituto de Telecomunicações, um dos membros da equipa internacional responsável pelo estudo.
“Assim que o hidrogénio vai caindo na anã-branca, esta fica com uma camada de hidrogénio na superfície. Depois de algum tempo, na base desta camada, portanto na superfície da anã-branca, a matéria começa a entrar em fusão e é expelida. É esta matéria que estamos a observar neste estudo.”
Neste sistema binário, qual é então o outro objecto que o constitui? “Pensamos que a estrela secundária é uma gigante vermelha ou subgigante. O termo ‘nova’ aplica-se à erupção que acontece na superfície da anã-branca. O outro objecto do sistema funciona para dar mais matéria à anã-branca, de forma que esta possa vir a explodir”, responde Valério Ribeiro.
O nosso Sol também será uma anã-branca, quando morrer daqui a 5000 milhões de anos. Irá primeiro inchar, tornando-se uma gigante vermelha, depois expelirá aos soluços as suas camadas exteriores, acabando como um “caroço”, uma anã-branca. Não se tornará uma “nova”, porque para tal precisaria de uma estrela companheira.
Mas a M31N 2008-12ª, como a descoberta estrela é designada, veio surpreender os cientistas. “A novidade é que não esperávamos que uma remanescente tão grande fosse possível, principalmente que fosse maior do que muitas outras supernovas. Para isto acontecer, esta ‘nova recorrente’ teve de estar a explodir durante milhões de anos. Houve milhões de explosões”, sublinha o físico português.
“Uma remanescente tão grande pode levar muito mais longe elementos químicos, que podem vir a poluir sistemas em que estão a ser formados planetas como o nosso.” Afinal, tirando o hidrogénio, o hélio e alguns vestígios de lítio e berílio, criados nos três primeiros minutos de existência do Universo após o Big Bang, os outros elementos químicos – de que a Terra e nós próprios somos feitos – foram cozinhados todos nas estrelas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 895 de 23 de Janeiro de 2019.