Número de utilizadores do ChatGPT cresce em Cabo Verde

PorAndré Amaral,15 jan 2023 7:03

Encarrada como algo que pode vir a mudar a internet e a forma como lidamos com a tecnologia, a Inteligência Artificial, neste caso sob a forma do ChatGPT, está a ser vista como uma ‘revolução’ e o seu número de utilizadores está a crescer em Cabo Verde.

A evolução da Inteligência Artificial (IA) tem criado receios de que as máquinas venham um dia a substituir o ser humano no mercado de trabalho.

Receios que, para Antão Chantre, são infundados. “Dizia-se o mesmo quando foi a revolução industrial, havia o medo que as máquinas substituíssem as pessoas, mas isso acabou por não acontecer”, refere, em entrevista ao Expresso das Ilhas, o administrador da Caixa Económica de Cabo Verde.

“Os humanos trabalharão com IA de forma simbiótica, com a IA fazendo análises quantitativas, optimização e trabalho de rotina enquanto nós, humanos, contribuímos com criatividade, pensamento crítico e paixão. A produtividade de cada humano será amplificada, permitindo-nos alcançar o nosso potencial”, acrescenta.

No entanto, é importante notar que a IA não é capaz de substituir completamente a mão-de-obra humana. Existem muitas tarefas que requerem habilidades e conhecimentos que a IA ainda não possui, como o entendimento das nuances sociais e emocionais das interacções humanas. Além disso, a IA também pode ser usada para complementar a mão de obra humana, ajudando os trabalhadores a tomar decisões mais informadas, automatizando tarefas tediosas e melhorando a eficiência e a precisão.

A longo prazo, é esperado que a IA cause um impacto significativo na economia e na sociedade como um todo, e é importante que as empresas e organizações estejam preparadas para se adaptar a essas mudanças. Isso inclui investir em treinamento e capacitação para os trabalhadores actuais, para que possam desenvolver as habilidades necessárias para trabalhar com a IA, e também preparar as próximas gerações para as novas oportunidades de emprego que serão criadas.

Para Alexis Cardoso, a existência de ferramentas baseadas em IA, como é o caso do chatGPT, significa automação, rapidez e eficiência, “mas também significa a extinção de tarefas executadas por humanos”.

“Áreas como medicina, administrativa, tecnológica poderão ter grandíssimos avanços em pouco tempo com tais tecnologias trazendo grandes avanços. Tais como outras revoluções tecnológicas anteriores, as tecnologias AI têm a potencialidade de aumentar a prosperidade humana significativamente. Mas isso só será possível com um acompanhamento devido das sociedades humanas, com criação de novos trabalhos especializados de modo a evitar a desvalorização do trabalho humano”.

Num país arquipelágico como Cabo Verde, uma ferramenta deste género assume uma importância ainda maior. “Deixam de ser necessárias deslocações e várias burocracias que, até agora, são obrigatórias. Com ferramentas deste género aumenta-se a produtividade e diminui-se a burocracia”, aponta por seu lado Antão Chantre que defende que “há um desafio enorme de eficiência em diversas áreas e a tecnologia veio para ajudar nessa eficiência. Não faz sentido perdermos muito tempo com burocracias e o GPT veio ajudar”.

Mas a tecnologia obriga a cuidados redobrados, defende Alexis Cardoso.

“Devido à capacidade do AI em simular textos numa forma humana, existe o perigo do serviço ser utilizado em variadas fraudes na internet. Embora ainda não exista um API oficial do ChatGPT (funcionalidade de interface do sistema com outros sistemas), já existem alguns open source API (Application Programming Interface) que permitem que o sistema possa ser utilizado em plataformas como Twitter, Facebook, etc, gerando preocupações na segurança cibernética”.

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Jornalismo e IA. Três perguntas a um jornalista

Jornalismo e Inteligência Artificial podem conviver juntos? Nuno Andrade Ferreira, jornalista da Rádio Morabeza, defende que qualquer ferramenta que permita “aceder à informação é útil desde que utilizada com sentido crítico”.

O ChatGPT, como ferramenta de trabalho, pode ser útil para um jornalista?

Qualquer ferramenta que permita aceder à informação é útil, se utilizada com sentido crítico. É necessário evitar-se um certo deslumbramento, que já vimos no passado, com ‘a novidade’. O jornalismo está em reconfiguração na sua prática, mas não nos seus princípios fundamentais e esses determinam a necessidade de rigor no tratamento da informação, a confrontação de fontes, o contraditório e, enfim, o respeito por um conjunto de pressupostos éticos e deontológicos.

Em termos de investigação jornalística este tipo de ferramentas pode ser útil?

Se por investigação jornalística entendermos obter e estruturar informação, tornando inteligíveis factos complexos, então não. Um dos problemas do jornalismo actual é, precisamente, esta ideia de ser possível recorrer a atalhos, para poupar trabalho ao jornalista ou para, rapidamente, produzir conteúdos que ajudem a métrica. O jornalismo tem de ser outra coisa.

Há razões para temer a IA? O jornalismo, enquanto profissão, pode estar em risco?

Como sabemos, a inteligência artificial não surge com o ChatGPT. Ela está por aí há algum tempo, discretamente, no quotidiano. O que acontece com o ChatGPT é uma certa ideia de visibilidade, associada, claro, a um projecto muito bem conseguido e até disruptivo. A evolução tecnológica, no seu conjunto, tende a reconfigurar bases sociais, culturais e económicas, com reflexos, por exemplo, no trabalho e na sua relevância social, mas também na forma como acedemos e processamos informação, transformando-a, inclusive, em conhecimento. Isso significa, claro, o enfraquecimento do jornalismo do banal. Contudo, creio que se manterá um espaço relevante e significativo para a prática jornalista que vá além da espuma dos dias, investigando, relacionando, contextualizando, explicando, dando sentido. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1102 de 11 de Janeiro de 2023. 

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Autoria:André Amaral,15 jan 2023 7:03

Editado porSara Almeida  em  5 out 2023 23:28

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