Qual foi o impacto da pandemia na Cabo Verde Trade Invest?
Este novo conselho de administração foi entrar e ser confrontado com o confinamento. Portanto, foi um início suis generis. Mas, por outro lado, permitiu-nos coisas extraordinárias. Deu-nos tempo, durante o confinamento, usando as plataformas digitais, de trabalhar intensamente com a nossa equipa. Deu-nos oportunidade para reflectir sobre a própria instituição, os desafios, entrevistar calmamente as pessoas uma a uma, formar equipas de trabalho, foi extraordinário. Sou da opinião que não há nada, por mais catastrófico que seja, que não tenha um lado positivo e neste caso o lado positivo foi termos a oportunidade de lançar novos desafios aos nossos colaboradores, que responderam de forma entusiástica e empenhada.
Quais novos desafios?
Um deles foi a reorganização interna, aprender a trabalhar em equipa e ter metas, o que se reflete positivamente na procura e mobilização do investimento e fidelização dos clientes (os investidores).
Essa procura diminuiu com a pandemia?
A procura por Cabo Verde não diminuiu, pelo contrário. Os investidores de um certo nível não são pessoas que se assustam com as crises, e ainda bem que assim é. Um investidor que desistisse de construir um hotel por causa de uma crise não seria exactamente um investidor com muita estratégia. A maioria das declarações de interesse que tinham acontecido no Cabo Verde Investment Forum são projectos de longo prazo, principalmente os projectos hoteleiros. Veja, neste tipo de projectos, só a construção demora cerca de dois anos, e a fase antes de começar, muitas vezes, é até mais longa: preparar os projectos, as aprovações, toda a tramitação, etc. Uma das coisas que fizemos logo e uma das decisões estratégicas que o novo conselho tomou, uma vez que encontramos o lugar de director de investimentos vago, foi eu assumir o cargo, estou a acumular o lugar de presidente do conselho de administração e sou ao mesmo tempo o director de investimentos, ou seja, é comigo que os investidores falam, comigo e com os meus colaboradores, e isso transmite outra confiança. E a utilização das plataformas electrónicas ajudou-nos a conversar muito mais com os investidores. E como venho do sector privado, estou a falar com pessoas que já me conhecem e que eu conheço.
Ou seja, uma agência pública que fala a mesma linguagem dos privados.
Precisamente. E temos uma boa equipa que se complementa, formada pela Adminsitradora Ana Maia, ex-Coordenadora do AME e o Administrador Alexandrino Anes com uma longa carreira no sector bancário. Estamos também a fazer uma grande reestruturação na plataforma electrónica de tramitação dos projectos, uma vez qua a CVTI é a entidade que gere o Balcão Único do Investidor (BUI). Esta plataforma já tinha alguns anos e estava prevista a sua reconfiguração, mas nós, como tivemos tempo, parámos o projecto e começámos do zero.
Porquê?
Porque envolvemos muitos mais colaboradores. O que fizemos? Tínhamos só três gestores de clientes, triplicámos o número, sem contratar ninguém. Tínhamos muitos técnicos noutras áreas, ou subutilizados, e uma das decisões estratégicas é dar respostas mais rápidas aos investidores. A tramitação de um projecto é um processo longo. Por exemplo, se o projecto for um hotel, o investidor tem de comprar o terreno, se está numa ZDTI, tem de lidar com o gabinete de gestão das ZDTI, tem de passar pelo INGT, pela DNA (Ambiente), pelo Instituto do Turismo, tem de passar pela Direcção Nacional de Recursos do Estado, a Alfândega tem de ter a lista de tudo o que vai ser importado para a construção e equipamento, é uma coisa gigantesca, as pessoas não têm noção do que é a aprovação de um projecto. Tudo isto tem as suas etapas, há ir e voltar, há negociações, é um processo muito complexo. Estamos a integrar tudo isto na plataforma em cooperação com o NOSI, precisamente para que possamos passar saber a todo o momento como está o processo, ou porque está a demorar. Por exemplo, qualquer ministro, em qualquer lugar, poderá procurar um determinado projecto e saber como está. Os próprios investidores terão acesso à informação digitalmente, aumentando a transparência do processo, o que transmitirá mais confiança aos mesmos. Para isso, tivemos que envolver todas estas instituições que fazem parte do processo de aprovação dos projectos, uma a uma. Assumimos também um novo paradigma, em que nada se passa fora da plataforma, ao contrário do que acontecia antes, em que só a parte final dos projectos era digitalizada. É um ganho enorme. Neste novo paradigma, desde que o investidor chega cá com uma ideia, é registado na plataforma, começa o processo e os prazos começam a contar para todas as instituições envolvidas.
Quando me disse que a procura por Cabo Verde não diminuiu, acabaram por não ficar surpreendidos, neste caso.
Tivemos um trabalho muito grande de fidelização desses investimentos. Não é que houvesse intenção de desistência, mas às vezes um projecto concretiza-se, ou não, também pelo interesse que o país e as suas instituições mostram por ele. Se não tivéssemos tido essa atitude, de chamar os empresários, estar com eles no zoom horas a fio, provavelmente, um ou outro, poderiam desistir, ou adiar o projecto. Acho que o elemento de confiança foi também importante. Mas quando disse que a procura não diminuiu não quer dizer que todos os projectos que apareceram Cabo Verde Investment Forum no Sal em 2019 terão seguimento, mas a maioria sim e estamos com uma excelente carteira, que pode ser concretizada este ano, ou no próximo, não queremos estar a avançar números agora, mas vamos ter, ao contrário do que se poderia pensar, um bom ano em relação à procura, tramitação e aprovação de projectos em Cabo Verde.
Tiveram de pensar em novas estratégias para promover o país?
Tomámos uma decisão estratégica, que propusemos ao governo logo depois da nossa entrada e que foi aceite, que foi a abertura de uma representação no norte da Europa. Consideramos essa zona extremamente estratégica. Abrimos essa representação na cidade de Gotemburgo [Suécia]. Primeiro, fizemos a proposta aos ministérios mais relacionados com essa estratégia: Economia Marítima, Turismo e Transportes e Finanças, tivemos apoio e desde Julho que temos essa representação para cobrir toda a Escandinávia e o norte da Europa. Os estatutos da CVTI permitem que se abram representações fora do país, lá onde não existam representações diplomáticas, porque nos países onde temos embaixadas, estas representam a CVTI. Dentro desta estratégia de representação do país também começamos um trabalho totalmente novo de trabalho em rede com as nossas representações diplomáticas. Foram indicadas pessoas, pontos focais, que trabalham nas embaixadas e começamos sessões de intercâmbio nas plataformas digitais, fazemos reuniões periódicas com eles, isto foi muito bem recebido pelos diplomatas, alguns embaixadores têm participado muitas vezes, porque temos dado, inclusive, sessões de formação. Há muitas iniciativas no país que muitas vezes não chegam às missões diplomáticas da forma mais correcta e os diplomatas não estão tão à vontade para as apresentar aos investidores.
Ou seja, na prática, estão a iniciar a diplomacia económica que tem sido tão falada.
Isso mesmo. Por exemplo, fizemos um primeiro encontro com todas as representações sobre o Centro Internacional de Negócios, que eu próprio estou a coordenar, e apresentei o CIN e as respectivas unidades estratégicas de negócios que queremos atrair para Cabo Verde. Houve um segundo onde convidamos o Dr. Aruna Handem para apresentar os parques tecnológicos da Praia e do Mindelo e toda a economia digital. Devemos ter a seguir um sobre a Zona Económica Marítima de São Vicente, depois teremos o Green Card, também o Estatuto do Investidor Emigrante, ou seja, temos programada uma série de formações. Acho que isto vai dar uma maior capacidade de atracção, porque se um diplomata não está com as informações na ponta da língua, não consegue atrair um investidor.
Regressando à questão dos países nórdicos. Porquê esta opção?
Pensamos que Cabo Verde tem de diversificar e aumentar os seus parceiros estratégicos. Isso não significa esquecer os existentes, como a China, onde a CVTI também tem um representante no Forum Macau, mas sim procurar novos mercados para atrair investidores. A Escandinávia é um sonho antigo, pessoal, como empresário fui várias vezes à Noruega entre 2011-12, para em conjunto com empresários noruegueses estabelecer um fundo de investimento, o NORVERDE, que serviria para investir em projectos de turismo residencial em Cabo Verde destinado aos reformados nórdicos. Infelizmente o Governo de CV na altura não deu o apoio diplomático necessário e perdemos mais um excelente projecto. A Noruega é um dos líderes mundiais em várias áreas da economia marítima, desde as pescas, aquacultura, exploração de minérios a grande profundidade, entre outros. Já identificamos uma série de áreas onde podemos cooperar com a Noruega e já estamos a trabalhar. Por exemplo, veja o potencial dos pontões flutuantes, que pode ser uma área de negócios muito interessante e muito importante para o país. Localidades como Tarrafal de Monte Trigo, uma zona das melhores do mundo para pesca desportiva, mas que precisa de ser desencravada, e para isso um pontão flutuante pode ser uma boa opção. Ou por exemplo, viagens do Calhau para São Nicolau, o grande problema da ligação de São Vicente a São Nicolau de barco é contornar a ilha, que leva uma hora, portanto, se tivermos um pontão onde um ferry atraque, a viagem até São Nicolau é um instante. E o mesmo se pode aplicar ao Tarrafal de Santiago, ligação Fogo e Ribeira da Barca, Santa Cruz e Maio, etc, o mar tem que ser visto como a autoestrada que liga as ilhas e a Noruega tem muita experiência nessa área. Nas energias renováveis, empresas da Noruega e da Islândia têm desenvolvido em conjunto novas tecnologias na área da geotermia e já nos disseram que há muito potencial em Cabo Verde. Há todo um mundo a explorar. Aliás, posso avançar que já esteve cá estes dias uma delegação norueguesa. É um projecto que o Ministério da Economia Marítima já está a acompanhar, juntamente connosco.
Até onde me pode contar sobre esse projecto?
Eles já estavam para vir antes, em Março, só não o fizeram por causa da covid. Vieram agora e estão a decorrer reuniões, connosco, o Ministério da Economia Marítima, a Direcção Geral dos Recursos Marinhos, o Campus do Mar, porque esta empresa é a única no mundo que já dominou a tecnologia de reprodução do bluefin [atum azul], que é o atum mais caro. Tiveram cerca de oito anos a fazer investigação no Mediterrâneo e agora estão à procura de um lugar para desenvolver a parte comercial, a produção e acabaram por escolher Cabo Verde. Se tudo correr bem, seremos pioneiros na produção de atum em aquacultura, o que vai aumentar exponencialmente as nossas exportações. Estamos nas negociações finais, a primeira fase será em São Vicente, escolha deles, depois Santo Antão e a maior parte da produção poderá ser em São Nicolau, que tem as duas maiores baías de Cabo Verde.
Isso é uma revolução no negócio da pesca.
De facto, e podemos ir muito mais longe. Como sabe, o sector das pescas é um sector onde, ao longo dos anos, metemos muito dinheiro com poucos resultados. Falamos de pesca industrial, mas nunca tivemos uma pesca verdadeiramente industrial, temos apenas alguns barcos que podemos chamar de semi-industriais A Noruega e a Islândia têm tudo o que nós precisamos, aliás, a Islândia ofereceu-nos o único navio de investigação que temos. Com o tempo perdemos essa cooperação, a Noruega já cá tinha estado, mas tudo isso vai ser recuperado, se tudo correr bem. As reuniões que tivemos e vamos continuar a ter indicam esse sentido, mas não vou avançar muito mais por enquanto. Mas a ideia é, da mesma forma que vamos trazer tecnologia de ponta em termos de aquacultura, trazer também para a captura. Um dos investigadores noruegueses disse-nos uma coisa que não tínhamos noção: a nossa ZEE [Zona Económica Exclusiva] é da mesma dimensão da ZEE da Noruega. Ou seja, temos um mundo de mar à nossa volta e a pesca que fazemos é, praticamente, de superfície. Temos um mundo que pode ter enormes recursos submarinos de profundidade e que está por investigar. Está previsto que ainda este ano o maior navio norueguês de investigação venha fazer uma campanha de pesquisa na área marinha de Cabo Verde. É preciso recordar que quem ofereceu a Escola Náutica a Cabo Verde foi a Noruega e era de topo na altura. E eles continuam a ser de topo em tudo o que tange à Economia Azul.
Mas porque escolheram uma cidade sueca para instalar a representação da CVTI?
Primeiro porque é a cidade que tem mais cabo-verdianos em toda a Escandinávia, não tenho os números presentes, mas penso que são mais de quatro mil, uma comunidade bem integrada, num país de altíssimo nível de vida. Em termos estratégicos, escolhemos a Noruega e a Islândia como o nosso foco na economia marítima e na geotermia e com a Suécia queremos começar a atacar um segmento muito importante: o turismo residencial e da saúde. Na conversa com a nossa Cônsul na Suécia, ficámos a saber que dos quatro mil cabo-verdianos que existem no país, cerca de 10% a 12% estão em idade de reforma, portanto, mais de 400 pessoas.
400 pessoas com um alto rendimento, portanto.
Com alto rendimento, mas agora é preciso que haja um acordo para que eles possam regressar a Cabo Verde e receber cá as suas pensões de reforma. Isso passará pelo ministério dos negócios estrangeiros, que naturalmente trabalhará nesse sentido, porque começando com a nossa diáspora, alcançaremos depois o rico mercado escandinavo. Isto traz oportunidades para a imobiliária, para a construção civil, para casas de repouso, etc., e para o próprio desenvolvimento do nosso turismo de saúde que, além de muito rentável, tem também um efeito positivo no próprio sistema de saúde nacional. Estamos inclusive a recuperar oportunidades perdidas, às vezes é preciso conhecer a História. Nos anos 80, houve duas empresas suecas que vieram a Cabo Verde e escolheram São Vicente para instalar dois resorts de turismo de saúde. O governo, na altura, não deu continuidade e a oportunidade perdeu-se. Imagina o que seria hoje São Vicente e Cabo Verde se esses dois projectos tivessem avançado? Chegou-se na altura a assinar um acordo entre os dois governos para haver um intercâmbio com o INPS, e agora vamos recuperar isso. Além de perdermos oportunidades, tem havido um grande défice de pensamento estratégico. Acho que o país precisa de mais ambição, deixar de lado o deja-vù. Outro país estratégico para nós é o Luxemburgo.
Por causa do Centro Internacional de Negócios?
Precisamente. O Luxemburgo tem a melhor praça financeira do mundo, não é a maior, mas é a melhor, em termos de inovação no que toca a fundos de investimento. Nós queremos ter em Cabo Verde uma praça financeira, mas continuamos a olhar para o Luxemburgo apenas na óptica de doador. Faz todo o sentido sermos uma praça financeira na costa ocidental africana. Por exemplo, os grandes investidores norte-americanos e europeus vão até as Maurícias (sobrevoando Cabo Verde) domiciliar os seus fundos de investimento para investir em África. Nós aqui, estamos a 7 horas de Boston e 4h da Europa, faz mais sentido. Claro que estamos atrasados, mas temos a vantagem de ter uma relação, mesmo afectiva, com o Luxemburgo, que as Maurícias não têm. O grande problema do empresariado nacional continua a ser capital de risco e temos de aprender com quem sabe. Estas apostas estratégicas são importantes se queremos desenvolver o país, até porque, e digo isto em tom de brincadeira, ninguém sai da pobreza se não se juntar com os ricos. Com isto, não deixamos de olhar para o lado, os nossos vizinhos africanos estão ainda pouco explorados. A África do Sul tem um sistema bancário e financeiro muito desenvolvido, a Nigéria também. Claro que não queremos fazer tudo de uma vez, para já Escandinávia, os países do Benelux e a Alemanha são prioridades para diversificar os nossos mercados de atração de investidores. Temos que pôr as câmaras do comércio cabo-verdianas em contacto com as congéneres do norte da Europa, ir lá à procura de investidores, porque não é só trazer turistas do norte da Europa. Temos também a ambição de atrair mais investidores dos EUA e já tivemos encontros muito importantes com a Embaixada desse país, que ainda há poucos dias nos financiou uma formação sobre as oportunidades de exportação através do AGOA, onde participaram 120 empresários nacionais. Convém referir que os investidores que vão fazer o hotel Four Points by Sheraton no Mindelo, são americanos, o que é uma estreia, que se junta a investidores africanos que estão a investir no sector hoteleiro na Praia e no Mindelo.
Mas também há esse foco do turismo.
Se queremos ter turismo de qualidade e que traga valor acrescentado ao país, temos de ter marcas hoteleiras de qualidade, investidores com capacidade financeira, e trabalhar para que possam concretizar-se parcerias com os nossos investidores. Há muitos cabo-verdianos com projectos turísticos ambiciosos, mas que falta ou capital de risco ou parceiros internacionais, o que nós não podemos é ficar sentados à espera que venham investidores. Temos de começar a ir onde estão os grandes investidores de turismo do mundo e para isso iremos propor o foco num conjunto de feiras de investimento turístico como o Hotel Investment Forum na Alemanha, o Second Home Expo (Holanda e Bélgica), entre outras.
E o que está pensado para a Grã-Bretanha? Afinal, o grande mercado emissor de turistas para Cabo Verde.
A Grã-Bretanha é o maior mercado emissor de turistas e o maior investidor em turismo (Resort Group) é britânico, razões suficientes para ser também um parceiro estratégico. Estamos focados no norte da Europa primeiro, consolidar as relações, mas sei que há a intenção do lado do ministério dos negócios estrangeiros de abrir uma representação diplomática na Grã-Bretanha. Quer dizer, temos de recuperar a nossa história. O Porto Grande, que foi o momento de auge comercial de Cabo Verde, aconteceu graças às companhias carvoeiras inglesas que aqui se instalaram. Sempre me perguntei por que razão o Mindelo não é, pelo menos, geminado com Newcastle e Cardiff, cidades de onde vinha o carvão. Será que os jovens cabo-verdianos sabem o porquê de termos na ilha do Maio um Porto Inglês?
Tudo isso quer dizer que estamos num momento em que o ambiente de negócios será fundamental?
As empresas e os empresários é que criam a riqueza. Tivemos um país em que o Estado esteve demasiado à frente por questões ideológicas, e ainda continua a estar, apesar dos esforços de reforma. Agora, com este trabalho de promoção que estamos a fazer, vamos ter de ir buscar apoio e lançar as câmaras de comércio e os empresários nacionais para a frente. Porque estamos a imprimir uma metodologia de objectivos a cumprir. Por exemplo, não basta ao nosso representante na Escandinávia dizer que é o nosso representante, tem metas de investimento a cumprir, tem de conseguir protocolos, tem de mapear as oportunidades de negócio e os investidores, etc., há todo um trabalho com tempo marcado e com volume de negócios a ser atingido.
Estamos a enfrentar uma das maiores crises dos tempos modernos, fala-se também que a recuperação poderá ser mais rápida do que a das crises anteriores. Acha que Cabo Verde está nessa direcção? De uma recuperação rápida?
Nós dependemos muito do turismo e não nos podemos esquecer que a indústria das viagens e turismo é a maior do mundo. E cada vez mais as pessoas vão viajar mais. Pode haver precauções, haverá alterações, mas também sou partidário da ideia, e a história tem-nos mostrado isso, que quanto maior é a crise, maior é depois o período de prosperidade que se segue. Estou convencido é que temos de nos preparar, mas temos também de ser criteriosos e isso leva-nos à questão: que turismo queremos para as outras ilhas? Sal e Boa Vista entraram num caminho baseado no sol e praia, e agora temos de ver que conceito queremos para cada uma das outras ilhas. Isso está a ser trabalhado pelo ministério do turismo, já houve mesas redondas com a participação das próprias populações, para elas dizerem que turismo querem para as suas ilhas. Porque o turismo é um sector muito complexo e se por um lado estamos atrasados, temos de aproveitar o lado positivo e a população não pode ficar de fora porque é ela quem recebe os turistas. Se queremos um turismo inclusivo, temos que ter foco nos nossos principais activos que são a nossa cultura que é única, a nossa gente e a nossa história enquanto primeira nação crioula e mestiça da era pós-“Descobrimentos”, uma nação que é fruto da própria globalização e onde por isso mesmo, todos os que nos visitam se sentem em casa. Por exemplo, podemos ver carnaval dentro de um hotel, mas não é o mesmo que vivenciá-lo em São Vicente, em São Nicolau, ou noutras ilhas.
Qual vai ser o segredo para recuperar?
Nós estamos focados em atrair mais e melhor investimento. O momento é difícil no mundo todo, não só em Cabo Verde, mas temos de manter um espírito positivo. As intenções de investimento que há para Cabo Verde mostram um futuro que eu considero risonho. Sobretudo se nós, desta vez, fizermos o seguimento e mudarmos de atitude. Muitas coisas ficam pelo caminho em Cabo Verde, porque não há uma cultura de resultados, não há seguimento, perdem-se oportunidades, já perdemos inúmeras oportunidades, mas eu penso que o país hoje é outro, vejo com muito agrado muitos jovens a ascender dentro das empresas, das instituições, com outra mentalidade, penso que o país está a mudar. Aos poucos. Mas a mudar.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 983 de 30 de Setembro de 2020.